Eles preveem um cenário incerto pós-pandemia, mas afirmam que vão lutar para não demitir
Como agir diante de uma crise de proporções avassaladoras como a causada pela pandemia provocada pelo novo coronavírus no mundo todo? Como os comerciantes canoinhenses estão reagindo diante do fechamento abrupto de seus negócios e como eles pretendem agir quando puderem reabrir as portas?
Nesta semana, a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Sindilojas e Associação Empresarial de Canoinhas (Acic) divulgaram carta enviada ao prefeito Beto Passos (PSD) pedindo a reabertura do comércio com critérios como metade da capacidade de atendimento e medidas preventivas como filas e visitas agendadas. Passos respondeu que não pode decretar medidas que relaxem o decreto estadual.
O JMais ouviu cinco comerciantes de diferentes setores e fez cinco perguntas-chave a cada um deles. Confira as respostas:
Qual a sua proposta para reabertura do comércio?
PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DIRIGENTES LOJISTAS DE CANOINHAS E EMPRESÁRIO DO SETOR DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO (DECORE)
Que seja ampla para os estabelecimentos, respeitando as determinações de proteção a epidemia, de modo que seja atingido um equilíbrio entre a necessidade econômica e de saúde pública de todos os envolvidos, proprietários, funcionários e clientes.
PROPRIETÁRIO DA CACAU SHOW DE CANOINHAS, SÃO MATEUS DO SUL E UNIÃO DA VITÓRIA
É um efeito natural e portanto, esperado que o consumidor se retraia frente as incertezas e a quantidade de informações desencontradas que o assolam… deste modo está afetando sim o nosso negócio. Em avaliações preliminares devemos ter uma perda de aproximadamente 50% do faturamento.
PROPRIETÁRIO DA SOBOX, EMPRESA DE VIDROS
Com consciência, efeitos explicativos do nosso antigo mas agora novo modelo de cuidados básicos que se tornam cada vez mais presentes em nosso dia a dia. Totalmente a favor. Medidas explicativas e com fiscalização mais atuante, pois estamos lidando com o desconhecido.
PROPRIETÁRIO DA JOABE VEÍCULOS E LOJA VIRTUAL NOSSOCARRO.COM
Abertura imediata de todos os setores, inclusive atividades autônomas. De forma responsável, tendo as devidas condições de higiene e limpeza, bem como equipamentos de segurança, a rotatividade no quadro de funcionários nas dependências do estabelecimentos, quando necessário e adaptação do atendimento quanto a quantidade de pessoas no local.
SÓCIO-PROPRIETÁRIO DA AUTONORTE VEÍCULOS
Acredito que mantendo os itens de segurança, trabalhando com uma equipe reduzida neste primeiro momento.
Como a crise está afetando o teu negócio? Há uma estatística de perda?
As necessidades surgirão com o passar do tempo e de que forma o mercado irá se comportar frente a demanda que se apresentará no momento, por isso todas as possibilidades estão sendo avaliadas, inclusive a redução do quadro funcional.
Os efeitos são inicialmente de ordem financeira, pois os compromissos assumidos dependem do fluxo de caixa, e no nosso caso, com a Páscoa, e com produtos que possuem data de validade os impactos são ainda maiores. Na sequência vem a questão trabalhista e o número de funcionários dependerá da demanda atual e futura, então demissões não estão descartadas. Outras medidas serão tomadas frente as dificuldades ou possibilidades que venham a ocorrer no futuro.
Imagino que o pior está por vir. Como trabalhamos com produtos que não têm a entrega imediata, ainda não afetou. Aumentou a correia para a entrega do que foi encomendado há mais de 20 ou 30 dias. A partir de agora imagino prudência e cautela dos compradores. Uma queda de mais de 30% num futuro próximo.
Impactou forma significativa, pois estávamos em uma crescente com o setor, condições de financiamentos estavam favoráveis para negociações. Não há uma mensuração atual de perca.
Impacta diretamente e indiretamente, pois tem muitas empresas que prestam serviços terceirizados (Chapeação, borracharia, Autopeças, combustível, etc). No mês de março tivemos uma queda de 60% nas vendas, e esse mês acredito que será maior.
Qual ou quais os efeitos que você prevê para esta crise?
Com certeza retração econômica, perdas humanas e dificuldades e oportunidades que se apresentarão após o pico da epidemia. Os mais preparados e criativos sobreviverão e darão seguimento, porém o desemprego deverá inicialmente aumentar e também a atividade de autônomos.
Seria o equilíbrio entre os cuidados necessários para a diminuição da curva de infectados com a retomada do trabalho do comércio, dos cuidados já amplamente divulgados, para no futuro não ocorrer o colapso do estado e, consequentemente, da saúde. Pela falta de recolhimento de tributos e pela não circulação de mercadorias.
Desemprego já é uma realidade de longa data, mas terá um efeito ainda mais devastador e, com isso, a redução do poder de compra. Aumento dos custos por produtos internos e externos pelo impacto do dólar. Sem contar a criminalidade, no aumento no índice de pessoas de baixa renda e nos problemas políticos que cada vez mais nos impactam.
Vejo em dois lados: Primeiro um efeito dominó de redução de quadro de funcionários, readaptação financeiras, pouco investimento para crescimento, e infelizmente algumas empresas fecharão. Segundo momento, uma oportunidade de reavaliar o atendimento, a criação de novas atividades, e a participação de causas sociais dos empresários e população.
Sempre tem dois lados. O lado de “vidas” que é o primeiro lugar, e o lado financeiro. Já está impactando muitas famílias, devido a desligamentos em massa, como está acontecendo em grandes centros.
Mesmo que reabra você prevê demitir ou outra medida drástica para manter o negócio?
Talvez a demissão não seja a melhor solução, mas sim uma redução nas despesas com acordos de redução de jornada de trabalho e salários. Teremos redução de investimentos neste momento de dificuldade.
São hipóteses que não foram descartadas, porém dependem do tempo no qual as regras de isolamento social serão mantidas.
Como diz o ditado, “sou brasileiro e não desisto nunca”. Podemos ser derrotados, abatidos, mas não sem lutar até o fim. Farei de tudo para manter minha equipe de trabalho, pois foi difícil conquistá-los e fazê-los acreditar em nosso lema de trabalho, e hoje que estão prontos não os largarei ao vento. Farei o impossível e não fraquejarei. Vamos resistir, essa é a minha primeira crise mundial.
Não prevejo demissões, mas haverá dificuldade na busca para redução de custo, a criação quem sabe de um plano de participação do resultado ao invés de uma comissão fixa, um plano de meta ao invés de um salario fixo (acima do normativo), uma rotatividade de funcionários nos horários normativos, a fim de estender os horários de atendimento. E o incentivo do home office em alguns casos.
Como eu vejo a crise: Temos a condição de ter várias percepções quanto ao que estamos vivendo: podemos encarar os desafios e as dificuldades de forma negativa e criar uma janela de preocupações e fechá-la bloqueando nosso pensamento criativo e nossa força de vencer e com isso nos impedir de evoluir. É fato que as dificuldades bloqueiam em muitas vezes nosso lado criativo. Dizer que será fácil nossa reação em tempos atuais seria uma utopia nesse momento. Mais prefiro adotar um discurso e uma filosofia de vida reativa às situações que estamos passando, por isso eu não vou desistir!
No nosso caso, não iremos demitir ninguém, por enquanto.
O que você achou das medidas anunciadas pelos governos até agora para ajudar micro e pequenos empresários?
As medidas dificultam o acesso dos comércios que faturam até R$ 5 milhões/ano, porque é necessário colocar um imóvel pra ter garantia do financiamento e a grande maioria dos micro empresários não terá acesso porque as determinações incluem como pequenos os que faturam até R$ 300 milhões por anos. Quem fatura R$ 300 milhões tem imóveis para colocar em garantia e serão os poucos que conseguirão os financiamentos a juros baixos. Os micro não terão essa oportunidade porque no máximo têm apenas sua casa própria como imóvel e de modo geral não arriscará sua própria casa.
São medidas que não ajudarão a grande maioria dos comerciantes porque o comércio e os serviços já vem sofrendo a crise desde 2015 e as medidas de ajuda é necessário disponibilizar um imóvel como garantia e normalmente os pequenos e médios somente dispõe de sua própria casa e, então não terão acesso as linhas de crédito ou seja terão que se desdobrar sozinho para tentarem salvar o negócio que os sustenta.
Alguns poderão usufruir, mas imagino que a maioria não consegue se enquadrar nos requisitos básicos para conseguir esses empréstimos. Quase todos com garantias real. Eu sou um que não me enquadro, pois devo tudo o patrimônio que tenho.
Bem, o Governo estadual, a meu ver, fez a coisa certa de forma desordenada, até mesmo, imprudente. A paralisação total feriu e muito o comércio e a população em geral. Acredito que um plano de paralisação parcial com campanhas de conscientização surtiria mais efeito, pois preservaríamos a vida e a vida financeira do cidadão. Sobre o Governo Federal, creio que as medidas são emergenciais, e vejo uma postura de acerto! Destacando a isenção de cobrança do IOF, ajudará a movimentar o comércio.
São de certa forma, poucas, pelo o que está por vir. Acredito que tenha de ter algo do governo federal, muito favorável, até isso tudo passar.
Pense, o inverno ainda está por vir, e é no inverno que a gripe vem pra grande maioria.
Mesmo que a gente reabra, se o vírus se alastrar, com certeza, teremos outro fechamento.