Que lições podemos tirar do desmatamento na Amazônia?

Há outras formas de aproveitamento socioeconômico das áreas de florestas

 

 

 

Valdir Roque Dallabrida*

 

 

Há semanas, somos atordoados diariamente com a repetição de notícias sobre desmatamento e queimadas na Amazônia brasileira. Junto às notícias ouvimos as mais diversas explicações e tentativas de justificação. Da parte de informantes acadêmico-científicos ouvimos as explicações e da parte dos governantes as tentativas de justificar as ocorrências e, em alguns casos, até tentativas de desmentir os fatos, ou tentar amainar a dimensão e seus impactos.

 

 

 

 

 

Outra constatação que se possa fazer é que da parte dos governantes há um intento de relativizar as informações fornecidas pelos órgãos técnicos, como o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), ou mesmo, a divulgação de pesquisas científicas que mostram a realidade sobre desmatamento e queimadas nos estados do Centro Oeste e Norte do Brasil. No entanto, o que todos nós sabemos, e isso não é de hoje, que é nestas regiões que se expande, já há décadas, o cultivo de cereais e a produção de gado bovino. Como o consumo interno e as exportações de tais produtos têm aumentado anualmente, é lá que ocorre a disputa entre os interesses dos proprietários rurais e das empresas do grande agronegócio de ampliar a ocupação de áreas até o momento cobertas com vegetação nativa e o interesse do cidadão brasileiro e de setores preservacionistas do mundo todo em preservar as florestas.

 

 

 

 

 

Sem entrar no debate sobre quem são os algozes e as vítimas desse avanço na destruição das florestas da Amazônia, pois não sou especialista em florestas, quero refletir sobre o tema, desvendando explicações que em geral ficam ocultas, nem sempre vindo à público.

 

 

 

 

Primeiro, dizer que há outras formas de aproveitamento socioeconômico das áreas de florestas, como o caso da Amazônia. Falo do que alguns cientistas e especialistas têm afirmado constantemente: “é muito mais vantajoso economicamente preservar as florestas na Amazônia, do que as devastar para cultivar cereais ou criar gado”. Isso pelo fato de que se trata de uma floresta rica na biodiversidade animal e vegetal, com espécies que só existem nessa parte do Brasil e do mundo.

 

 

 

 

 

Significa que é possível implementar mais formas sustentáveis de uso desses recursos naturais sem destruí-los, com atividades rentáveis economicamente, principalmente, mais inclusivas sob o ponto de vista social. Cite-se o caso da empresa Natura, que produz perfumes e demais cosméticos, a partir de essências vegetais, sem falar das inúmeras outras possibilidades, como utilizar tais recursos para novos medicamentos, colher frutos silvestres para sua utilização como alimentos e para usos industriais. Ou seja, ao invés de incentivar essas possibilidades sustentáveis sob o ponto de vista econômico, social e ambiental, prefere-se manter e ampliar formas de exploração econômica que destroem as riquezas naturais para sempre, seguindo a lógica do “bem viver de alguns às custas do mal viver da maioria”.

 

 

 

 

 

Para reverter essa lógica, algumas condições são necessárias. Primeiro, elegermos um governo e termos uma estrutura de Estado Nacional que se mova pelo “bem comum” e não por “interesses corporativistas”, neste caso da Amazônia, o setor do grande agronegócio. Segundo, a necessidade de as empresas assumirem seriamente seu “compromisso socioambiental”, tão propalado e tão pouco levado a sério (veja-se o exemplo da Natura). Terceiro, a necessidade dos cidadãos de bem organizarem-se e assumirem o papel de terceira força de poder, tal como seus pares – Estado e Empresas. Tudo isso é necessário para que “as gerações futuras não sejam privadas dos mesmos direitos da geração atual”, tal seja, usufruir dos bens naturais (SAMPAIO, 2005).

 

 

 

 

 

Sei que ao falar dessa forma, alguns, se não for a maioria, irão pensar que eu seja um idealista, ou qualquer outro “ista”. Ou seja, dirão esses, que não há dúvidas sobre a necessidade de aumentar continuamente a produção, para melhorar nossa economia, aumentar nossas exportações, etc. É o que a maioria pensa!

 

 

 

 

No entanto, é importante que se desfaça o romantismo que se tem quando “se acredita que a forma da maioria pensar é melhor do que uma outra que só é defendida por poucos”, no caso da Amazônia, os cientistas ou especialistas. Isso pois, “existem consensos apregoados por visões míopes sobre uma dada realidade”. Um desses consensos é que a única forma de sobrevivência da espécie humana é mantermos e dar continuidade ao produtivismo que permite o consumismo de apenas uma parte da população. É uma visão egoísta essa!

 

 

 

 

 

Para finalizar, precisamos formar massa crítica, com o fim de refutar a lógica que move tudo isso que foi falado – desmatamento, uso do fogo para destruir florestas e ampliar áreas agrícolas -, falo da lógica de alguns setores da sociedade, que para aumentar seus lucros, “privatizam os lucros – destruindo as florestas – e socializam custos socioambientais”!

 

 

 

 

*Valdir Roque Dallabrida é Doutor em Desenvolvimento Regional e professor da UnC

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