O essencial é ter foco e investir em aproximações sucessivas
O doutor José Raimundo Facion propôs modificar e minimizar determinados sintomas do autismo durante palestra que proferiu na tarde desta segunda-feira, 9, no salão da Igreja Matriz de Cocal do Sul. O evento lembra o Dia Mundial do Autismo, celebrado na segunda-feira passada, 2, e que teve participação de um dos 42 alunos atendidos pela Apae de Canoinhas em evento na Câmara de Vereadores.
“Não existe tratamento que elimine as bases fisiológicas irregulares das pessoas com autismo. O tratamento limita-se a modificar e minimizar sintomas, como hiperatividade, estereotipias, agressividade consigo e com os outros, irritabilidade, transtornos alimentares e do sono, deixando o autista mais capacitado para participar dos programas, atividades e terapias psicossociais”, argumentou o especialista.
Para Facion, o essencial é ter foco e investir em aproximações sucessivas.
“Vocês que estão cuidando de crianças em escolas regulares têm de ter foco e aproximação sucessiva. O que essa criança tem que nós queremos modificar? Não dá para trabalhar com muita coisa, às vezes cometemos o erro de fazer de tudo um pouco e um pouco de nada”, ironizou o professor.
O psicólogo citou o caso de uma consulta em que os pais e profissionais que lidavam com um autista elencaram 33 sintomas que desejavam fossem modificados.
“A mãe queria que falasse, andasse, comesse sozinha e lesse. No final tinha 33 sintomas descritos, eram muitos para nós. Mas quais são importantes e possíveis de modificar? Andar foi para 33, falar para 32, escrever 31 e foi afunilando até chegarmos no primeiro que todos entendiam que melhorava a vida da criança e aliviava a vida daqueles que cuidavam dela: o controle do xixi”, exemplificou.
Uma vez definido qual é o foco, o caminho para modificar um sintoma é a aproximação sucessiva. Facion contou a história de uma senhora que tinha medo de usar o elevador e mostrou como é possível superar a dificuldade.
“No primeiro sábado nos sentamos no meio do salão, longe do elevador; no outro sábado ficamos um pouco mais perto, até que chegou um ponto em que dois pés da cadeira estavam dentro e dois pés fora. No outro sábado as pernas da frente da cadeira dela estava dentro do elevador e as de trás fora. No outro, estávamos dentro do elevador conversando. O próximo passo foi subir um andar, depois fomos para o segundo e após para terceiro andar. Treinando se modifica o comportamento”, insistiu o especialista.
MEDICAMENTOS
O professor Facion falou sobre o uso de fármacos em autistas e advertiu que os medicamentos tentam “administrar comportamentos” e não a curá-los.
“Não existe remédio contra autismo, os meninos que estão usando fármacos é para tentar conter crises, conter excessos comportamentais. No caso, o tratamento deve priorizar os sintomas que põem em risco a vida das pessoas e os os que prejudicam a aprendizagem, como por exemplo a insônia, hiperatividade a auto e hetero-agressão”, afirmou.
Além disso, o doutor em neuropediatria sugeriu substituir medicamentos por dietas alimentares.
“Em vez de remédios, quem sabe fazer uma dieta livre de conservantes, corantes, diminuição de carboidratos e frituras? Fiz um experimento com dois grupos e com a mudança de comportamento alimentar a gente tem conseguido alguns resultados interessantes, você também diminui o excesso comportamental”, justificou o pesquisador.