Como o turismo rural está mudando Canoinhas

Com o surgimento de uma Associação Canoinhense de Turismo, moradores do interior veem nascer alternativa de renda que reduza a produção de fumo, ainda a principal cultura da região

 

 

“Estão vendo aquele morro? Parece Treze Tílias, só faltam as casinhas brancas.”

 

 

A frase é dita pelo gestor da Associação de Cooperação e Apoio ao Turismo Rural (Acatur), Marcelo Tokarski, quando um grupo de 16 pessoas chega à última parada de uma viagem que começara oito horas antes, às margens da BR-280, na localidade de Rio d’Areia do Meio. Estamos em Serra das Mortes, a 40 quilômetros da primeira parada e a 70 quilômetros do centro de Canoinhas. Nessa localidade que faz divisa entre Canoinhas e Bela Vista do Toldo, o morro a que Tokarski se refere é a serra que no início da colonização da região se tornou célebre por ter sido palco de um massacre entre índios e brancos.

 

 

A referência não é à toa. Desde 2014, a Acatur luta para tornar a Serra e muitas outras atrações rurais em alternativa de renda. O turismo já avançado em Treze Tílias é um modelo que a Acatur vem tentando implementar no interior de Canoinhas. Para tanto, já criou três rotas, cada uma com suas peculiaridades. O grupo que se aventurou no domingo, 8 de outubro, fez a Rota das Capelas.

 

 

Cada parada tem uma placa de identificação

Como acadêmico do curso de Turismo, em 2008, Tokarski fez um estudo sobre as capelas mais antigas do interior de Canoinhas. A pesquisa teve apoio do Governo do Estado. Descobriu quatro pequenas joias que são as grandes atrações desse passeio. Mas não só. As capelas, na verdade, são um bom pretexto para os moradores do interior brilharem. A cada parada, delícias locais são oferecidas aos turistas. Vão de patês a churrasco, passando por peixe frito na hora, morcilha branca, requeijão frito e geleias das mais variadas. O passeio é um deleite para os paladares mais exigentes. Muitos não se contentam em provar e compram amostrar mais generosas das iguarias. A amostra vem acompanhada de um cartão de visitas. “Se precisarem de mais é só ligar que entregamos na cidade”, dizem praticamente todos os envolvidos na Rota.

 

 

Acompanhe a seguir todas as paradas do passeio e como o turismo rural tem transformado a vida da população local.

 

 

 

EMPÓRIO DA MARIA

Café da manhã no Empório da Maria

Mal saem da BR-280, os 16 turistas entram no Empório da Maria. As delícias, de fato, superam muitos empórios, mas funciona na garagem improvisada da casa da família de Maria Alice Machado, que sempre ajudou os pais na lida do campo. Nas horas vagas, no entanto, fazia geleias e requeijão que vendia esporadicamente. Suas perspectivas mudaram quando começou o curso de Agroindústria no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), que desde 2011 tem um campus em Canoinhas.

 

 

O curso e a participação nas reuniões da Acatur abriram um novo horizonte para ela. Investiu em uma cozinha industrial e passou a preparar alimentos para comercializar em uma escala maior. Nas visitas mensais da Rota das Capelas, ela é a responsável por preparar o café, servido às 8h30. “O que tem de comprado aqui é o trigo, óleo, sal e açúcar”, afirma com orgulho. Todos os demais ingredientes são produzidos por sua pequena indústria de 40 metros quadrados.

 

 

Eliete Machado, mãe de Maria, diz que a filha se organiza sozinha e que vê o negócio com bons olhos. “É uma maneira de mantê-la no campo. Sabemos das dificuldades de se viver na cidade”, opina.

 

Maria fez curso de Agroindústria no IFSC

Do Empório de Maria saem massas, pirogues, pastéis e geleias das mais variadas. Muitos dos turistas não resistem e encomendam o que provaram no café.

 

 

 

CAPELA DE SÃO MIGUEL

Capela São Miguel foi restaurada em 2015

Tokarski avisa que a rota começou mais cedo que o habitual e que por isso o grupo será brindado com pouco mais da metade de uma celebração da santa missa na capela de São Miguel. A igreja construída em madeira com parede dupla em 1947 teve a parte externa restaurada em 2015. A parte interna, no entanto, exala história. O pequeno público acanhado acompanha atento as orações proferidas pelo ministro da Eucaristia, Nelson Tibes de Souza. Como o padre vem uma vez por mês, as demais missas de domingo são rezadas por ele com auxílio de dois membros da comunidade que puxam os cânticos.

 

 

Souza é um dos cinco ministros que fazem as vezes do padre na sua ausência. Todos são agricultores que herdaram dos pais a fé católica. A capela atende a cerca de 50 famílias das localidades de Rio d’Areia do Meio e Rio da Ilha. O dízimo mensal rende pelo menos R$ 500 que são enviados à paróquia. Um tanto retorna para manter a capela. A restauração de 2015 foi feita com ajuda de várias pessoas da comunidade, assim como a construção da igreja original.

 

Alceu Artner viu capela São Miguel ser erguida

Alceu Artner, um senhorzinho de sorriso fácil, do alto de seus 76 anos ainda se lembra de levar marmita para o pai, que com ajuda de outros quatro carpinteiros, ergueu a capela. Para testar sua memória ele pede um pedaço de papel, onde com mãos firmes escreve os cinco nomes: Carlos Artner (seu pai), Valdemiro Sarcoski, Alfredo Dorne, Custódio Gomes e Vitorino Pazdiora.

 

 

Alceu conta que de início a rodovia que ligava Canoinhas a Porto União passava pela comunidade, justamente em frente à Capela São Miguel. Ocorre que quando o caminho foi pavimentado, nova rota foi traçada, deixando a estrada principal da localidade com poucas chances de receber passageiros diferentes dos próprios moradores. Nesse mesmo caminho, um pouco mais embrenhado no que hoje virou mato, havia uma Igreja Católica do Rito Ucraniano, na qual todos os católicos conviviam em harmonia, até que uma ala dissidente resolver construir a Capela Católica do Rito Romano, intitulada São Miguel. Em 1956, a igreja ucraniana original foi destruída e outra capela foi construída, no mesmo caminho e a poucos metros da capela São Miguel.

 

Capela São Miguel tem afrescos de autoria desconhecida

Alceu recorda que a madeira que construiu a capela do Rito Romano foi doada pela comunidade e beneficiada pela empresa Zaniolo, uma das maiores serrarias que Canoinhas já teve, sediada na localidade de Rio dos Poços. Ele não sabe dizer qual foi o artista que fez os formidáveis afrescos que embelezam a capela. Até pouco tempo tinha-se um nome. Justamente um turista que fez a Rota das Capelas colocou dúvida na cabeça dos moradores ao afirmar que os afrescos são obra de outra pessoa.

 

 

 

CAPELA DE SÃO DEMÉTRIO

Capela de São Demétrio

É possível ir a pé para a Capela São Demétrio, igreja Católica do Rito Ucraniano. A proximidade, ao que parece, não é por acaso, até porque foi planejada nove anos depois de a capela São Miguel ter sido erguida.

 

 

Quando os turistas chegam no local, lá está o presidente da igreja, João Batista Bredum, respondendo dúvidas e explicando as diferenças entre o rito romano e ucraniano. A capela também foi reformada em 2015. Os lindos afrescos foram refeitos por Ivo Bayerl. A vivacidade dos desenhos na madeira forma um curioso casamento entre o novo e o passado. Entre a restauração e as pinturas passaram-se quase dois anos. No total, R$ 140 mil foram gastos na reforma.

 

Afresco da Capela São Demétrio

Ao contrário da vizinha romana, a igreja ucraniana que congrega entre 60 e 70 famílias só celebra missas quando o padre vem, duas vezes ao mês.

 

Afrescos da Capela São Demétrio foram restaurados em 2015

O zelo com que os turistas são recebidos nas duas capelas tem uma motivação. A Acatur destina R$ 5 por turista para cada capela. Segundo Tokarski, é uma forma não só de incentivo, mas também, de garantir a preservação do patrimônio.

 

 

SÍTIO SANTA BÁRBARA

Tanque no Sítio Santa Bárbara

Na estrada geral do Rio dos Pardos, localidade conhecida por muitos canoinhenses por ter sido palco de uma das maiores tragédias da história da cidade – 13 moradores da localidade morreram depois da passagem de um violento furacão em 1956 – está o Sítio Santa Bárbara. É a parada para o aguardado almoço. Há 15 anos o sítio pertence à família Kauctz. Oferece pesque e pague, camping, refeições sob encomenda e um campo de futebol.

 

 

Estudante de Medicina Veterinária, Mônica Kauctz, filha do dono, Joanilson, o Nico, conta que quem incentivou a família a investir em turismo foi Tokarski. A ideia que para eles não parecia muito próspera, a princípio, hoje já permite sonhos mais arrojados, tanto que Mônica desistiu do emprego em um pet shop da cidade e voltou para o sítio a fim de ajudar os pais. O barracão para servir o almoço já está erguido, mas Nico sonha com algo maior. Mônica quer construir pousadas para permitir campings em fins de semana. Dos R$ 100 que cada participante da rota paga, entre R$ 20 e R$ 30 ficam com o restaurante, dependendo do número de comensais. A comida é farta e de sabor único. “É próprio do pessoal do interior receber os visitantes com fartura de comida, é um dos nossos pontos fortes”, comemora Tokarski.

 

Passeio de charrete no Sítio Santa Bárbara

Arroz de forno, arroz branco, carne de carneiro, gado e galinha, saladas diversas, macarrão caseiro, maionese, farofa, sobremesas, enfim, cardápio que certamente se encontra em qualquer restaurante. “A diferença é o sabor”, define Rosa dos Santos, uma das participantes da Rota. “Não dá pra descrever”, completa.

 

 

Investir em turismo deu tão certo para os Kauctz que eles já diminuíram o plantio de fumo. “Nossa maior dificuldade hoje é a estrada, porque estrutura, aos poucos, estamos oferecendo”, afirma Nico. Com tempo bom, roda-se tranquilamente, com qualquer veículo, até o sítio. Com chuva, no entanto, o trajeto fica bem mais difícil.

 

 

CAPELA DE SÃO JOSÉ

Capela de São José

A mais antiga das capelas que fazem parte da Rota foi erguida em 1930 na localidade de Pinheiros. Também foi reformada em 2015 – o ano é pura coincidência, segundo Tokarski – e comporta afrescos de beleza ímpar.

 

 

Aqui, as missas de rito romano também são rezadas por ministros na ausência do padre.

 

Nave da capela

Debaixo do sino, em frente à igreja, está Clementina Friederich. Ela dá as boas-vindas aos visitantes, mas não arreda pé de debaixo do sino, onde expõe produtos artesanais que vão de compotas a panos de prato delicadamente pintados, além de pães e bibelôs.

 

 

Nos fundos da igreja, assim como nas demais, há duas salas – uma para a secretaria e outra para o padre. Até poucos anos atrás, conta Tokarski, a sala do padre servia para pernoites também. Anexo havia um banheiro improvisado. Uma latrina com acento parafusado na madeira impecavelmente limpa pelas beatas. O banheiro foi destruído, mas ainda se vê o sinal do buraco aberto para alívio do sacerdote.

 

Cemitério fica ao lado da Capela de São José

Anexo à capela uma das peculiaridades das igrejas interioranas: um cemitério lotado cujo jazigo mais antigo data de 1939.

 

 

RECANTO SERRANO

Família se reúne para servir o café da tarde no Sítio Recanto Serrano

Quando a Acatur procurou a família Veleski, Josnei até que se empolgou com a ideia de colocar o seu Sítio Serrano, no pé da Serra das Mortes, a serviço do turismo rural. Sua esposa, Nelci, pragmática até a medula, não gostou muito da ideia. “Quando íamos fazer os cursos da Acatur, tinha gente que dizia que estávamos abandonando nossa lavoura para ir atrás de algo que não ia trazer futuro nenhum. Hoje, quem falava quer saber como pode se associar”, conta Nelci.

 

 

A última parada da Rota das Capelas é o deleite final do passeio. Doces, salgados, bolos, sobremesas, bolachas, peixe frito na hora, morcilha de arroz fresquinha, enfim, uma fartura que faz juz ao que Tokarski já havia alertado os participantes do passeio. “Não se preocupem se sobrar, o que importa para eles é servir bem”, acrescenta, lembrando que no sítio se trabalha no sistema conhecido antigamente como pixurum. São 11 pessoas, com exceção de um deles, todos parentes, que se reúnem para a empreitada. Em geral, plantações e colheita. Nesse caso, no entanto, para cozinhar e, depois de os visitantes irem embora, claro, comemorarem o êxito provando de suas próprias delícias.

 

Música no Sítio Recanto Serrano

É ali, no pé da Serra das Mortes, que, ironia do destino, agricultores do interior de Canoinhas parecem estar vendo renascer sua vocação.

 

 

Acatur vive de sócios e doações

A Associação de Cooperação e Apoio ao Turismo Rural (Acatur) foi criada em 2008 e desde então conta com a colaboração de vários entusiastas para se manter. É o caso da vereadora Norma Pereira (PSDB), que doa mensalmente R$ 600 de seu salário para manter a Associação. Os agricultores que oferecem atrações durante as rotas também contribuem como sócios pagando uma mensalidade de R$ 30. A Fameplan cede uma sala para as reuniões mensais. O lucro das Rotas é revertido para os agricultores que prepararam as refeições, as diretorias das igrejas e ajuda de custo para o guia das Rotas.

 

 

 

 

 

Como o turismo rural está mudando Canoinhas

Com o surgimento de uma Associação Canoinhense de Turismo, moradores do interior veem nascer alternativa de renda que reduza a produção de fumo, ainda a principal cultura da região

 

 

“Estão vendo aquele morro? Parece Treze Tílias, só faltam as casinhas brancas.”

 

 

A frase é dita pelo gestor da Associação de Cooperação e Apoio ao Turismo Rural (Acatur), Marcelo Tokarski, quando um grupo de 16 pessoas chega à última parada de uma viagem que começara oito horas antes, às margens da BR-280, na localidade de Rio d’Areia do Meio. Estamos em Serra das Mortes, a 40 quilômetros da primeira parada e a 70 quilômetros do centro de Canoinhas. Nessa localidade que faz divisa entre Canoinhas e Bela Vista do Toldo, o morro a que Tokarski se refere é a serra que no início da colonização da região se tornou célebre por ter sido palco de um massacre entre índios e brancos.

 

 

A referência não é à toa. Desde 2014, a Acatur luta para tornar a Serra e muitas outras atrações rurais em alternativa de renda. O turismo já avançado em Treze Tílias é um modelo que a Acatur vem tentando implementar no interior de Canoinhas. Para tanto, já criou três rotas, cada uma com suas peculiaridades. O grupo que se aventurou no domingo, 8 de outubro, fez a Rota das Capelas.

 

 

Cada parada tem uma placa de identificação

Como acadêmico do curso de Turismo, em 2008, Tokarski fez um estudo sobre as capelas mais antigas do interior de Canoinhas. A pesquisa teve apoio do Governo do Estado. Descobriu quatro pequenas joias que são as grandes atrações desse passeio. Mas não só. As capelas, na verdade, são um bom pretexto para os moradores do interior brilharem. A cada parada, delícias locais são oferecidas aos turistas. Vão de patês a churrasco, passando por peixe frito na hora, morcilha branca, requeijão frito e geleias das mais variadas. O passeio é um deleite para os paladares mais exigentes. Muitos não se contentam em provar e compram amostrar mais generosas das iguarias. A amostra vem acompanhada de um cartão de visitas. “Se precisarem de mais é só ligar que entregamos na cidade”, dizem praticamente todos os envolvidos na Rota.

 

 

Acompanhe a seguir todas as paradas do passeio e como o turismo rural tem transformado a vida da população local.

 

 

 

EMPÓRIO DA MARIA

Café da manhã no Empório da Maria

Mal saem da BR-280, os 16 turistas entram no Empório da Maria. As delícias, de fato, superam muitos empórios, mas funciona na garagem improvisada da casa da família de Maria Alice Machado, que sempre ajudou os pais na lida do campo. Nas horas vagas, no entanto, fazia geleias e requeijão que vendia esporadicamente. Suas perspectivas mudaram quando começou o curso de Agroindústria no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), que desde 2011 tem um campus em Canoinhas.

 

 

O curso e a participação nas reuniões da Acatur abriram um novo horizonte para ela. Investiu em uma cozinha industrial e passou a preparar alimentos para comercializar em uma escala maior. Nas visitas mensais da Rota das Capelas, ela é a responsável por preparar o café, servido às 8h30. “O que tem de comprado aqui é o trigo, óleo, sal e açúcar”, afirma com orgulho. Todos os demais ingredientes são produzidos por sua pequena indústria de 40 metros quadrados.

 

 

Eliete Machado, mãe de Maria, diz que a filha se organiza sozinha e que vê o negócio com bons olhos. “É uma maneira de mantê-la no campo. Sabemos das dificuldades de se viver na cidade”, opina.

 

Maria fez curso de Agroindústria no IFSC

Do Empório de Maria saem massas, pirogues, pastéis e geleias das mais variadas. Muitos dos turistas não resistem e encomendam o que provaram no café.

 

 

 

CAPELA DE SÃO MIGUEL

Capela São Miguel foi restaurada em 2015

Tokarski avisa que a rota começou mais cedo que o habitual e que por isso o grupo será brindado com pouco mais da metade de uma celebração da santa missa na capela de São Miguel. A igreja construída em madeira com parede dupla em 1947 teve a parte externa restaurada em 2015. A parte interna, no entanto, exala história. O pequeno público acanhado acompanha atento as orações proferidas pelo ministro da Eucaristia, Nelson Tibes de Souza. Como o padre vem uma vez por mês, as demais missas de domingo são rezadas por ele com auxílio de dois membros da comunidade que puxam os cânticos.

 

 

Souza é um dos cinco ministros que fazem as vezes do padre na sua ausência. Todos são agricultores que herdaram dos pais a fé católica. A capela atende a cerca de 50 famílias das localidades de Rio d’Areia do Meio e Rio da Ilha. O dízimo mensal rende pelo menos R$ 500 que são enviados à paróquia. Um tanto retorna para manter a capela. A restauração de 2015 foi feita com ajuda de várias pessoas da comunidade, assim como a construção da igreja original.

 

Alceu Artner viu capela São Miguel ser erguida

Alceu Artner, um senhorzinho de sorriso fácil, do alto de seus 76 anos ainda se lembra de levar marmita para o pai, que com ajuda de outros quatro carpinteiros, ergueu a capela. Para testar sua memória ele pede um pedaço de papel, onde com mãos firmes escreve os cinco nomes: Carlos Artner (seu pai), Valdemiro Sarcoski, Alfredo Dorne, Custódio Gomes e Vitorino Pazdiora.

 

 

Alceu conta que de início a rodovia que ligava Canoinhas a Porto União passava pela comunidade, justamente em frente à Capela São Miguel. Ocorre que quando o caminho foi pavimentado, nova rota foi traçada, deixando a estrada principal da localidade com poucas chances de receber passageiros diferentes dos próprios moradores. Nesse mesmo caminho, um pouco mais embrenhado no que hoje virou mato, havia uma Igreja Católica do Rito Ucraniano, na qual todos os católicos conviviam em harmonia, até que uma ala dissidente resolver construir a Capela Católica do Rito Romano, intitulada São Miguel. Em 1956, a igreja ucraniana original foi destruída e outra capela foi construída, no mesmo caminho e a poucos metros da capela São Miguel.

 

Capela São Miguel tem afrescos de autoria desconhecida

Alceu recorda que a madeira que construiu a capela do Rito Romano foi doada pela comunidade e beneficiada pela empresa Zaniolo, uma das maiores serrarias que Canoinhas já teve, sediada na localidade de Rio dos Poços. Ele não sabe dizer qual foi o artista que fez os formidáveis afrescos que embelezam a capela. Até pouco tempo tinha-se um nome. Justamente um turista que fez a Rota das Capelas colocou dúvida na cabeça dos moradores ao afirmar que os afrescos são obra de outra pessoa.

 

 

 

CAPELA DE SÃO DEMÉTRIO

Capela de São Demétrio

É possível ir a pé para a Capela São Demétrio, igreja Católica do Rito Ucraniano. A proximidade, ao que parece, não é por acaso, até porque foi planejada nove anos depois de a capela São Miguel ter sido erguida.

 

 

Quando os turistas chegam no local, lá está o presidente da igreja, João Batista Bredum, respondendo dúvidas e explicando as diferenças entre o rito romano e ucraniano. A capela também foi reformada em 2015. Os lindos afrescos foram refeitos por Ivo Bayerl. A vivacidade dos desenhos na madeira forma um curioso casamento entre o novo e o passado. Entre a restauração e as pinturas passaram-se quase dois anos. No total, R$ 140 mil foram gastos na reforma.

 

Afresco da Capela São Demétrio

Ao contrário da vizinha romana, a igreja ucraniana que congrega entre 60 e 70 famílias só celebra missas quando o padre vem, duas vezes ao mês.

 

Afrescos da Capela São Demétrio foram restaurados em 2015

O zelo com que os turistas são recebidos nas duas capelas tem uma motivação. A Acatur destina R$ 5 por turista para cada capela. Segundo Tokarski, é uma forma não só de incentivo, mas também, de garantir a preservação do patrimônio.

 

 

SÍTIO SANTA BÁRBARA

Tanque no Sítio Santa Bárbara

Na estrada geral do Rio dos Pardos, localidade conhecida por muitos canoinhenses por ter sido palco de uma das maiores tragédias da história da cidade – 13 moradores da localidade morreram depois da passagem de um violento furacão em 1956 – está o Sítio Santa Bárbara. É a parada para o aguardado almoço. Há 15 anos o sítio pertence à família Kauctz. Oferece pesque e pague, camping, refeições sob encomenda e um campo de futebol.

 

 

Estudante de Medicina Veterinária, Mônica Kauctz, filha do dono, Joanilson, o Nico, conta que quem incentivou a família a investir em turismo foi Tokarski. A ideia que para eles não parecia muito próspera, a princípio, hoje já permite sonhos mais arrojados, tanto que Mônica desistiu do emprego em um pet shop da cidade e voltou para o sítio a fim de ajudar os pais. O barracão para servir o almoço já está erguido, mas Nico sonha com algo maior. Mônica quer construir pousadas para permitir campings em fins de semana. Dos R$ 100 que cada participante da rota paga, entre R$ 20 e R$ 30 ficam com o restaurante, dependendo do número de comensais. A comida é farta e de sabor único. “É próprio do pessoal do interior receber os visitantes com fartura de comida, é um dos nossos pontos fortes”, comemora Tokarski.

 

Passeio de charrete no Sítio Santa Bárbara

Arroz de forno, arroz branco, carne de carneiro, gado e galinha, saladas diversas, macarrão caseiro, maionese, farofa, sobremesas, enfim, cardápio que certamente se encontra em qualquer restaurante. “A diferença é o sabor”, define Rosa dos Santos, uma das participantes da Rota. “Não dá pra descrever”, completa.

 

 

Investir em turismo deu tão certo para os Kauctz que eles já diminuíram o plantio de fumo. “Nossa maior dificuldade hoje é a estrada, porque estrutura, aos poucos, estamos oferecendo”, afirma Nico. Com tempo bom, roda-se tranquilamente, com qualquer veículo, até o sítio. Com chuva, no entanto, o trajeto fica bem mais difícil.

 

 

CAPELA DE SÃO JOSÉ

Capela de São José

A mais antiga das capelas que fazem parte da Rota foi erguida em 1930 na localidade de Pinheiros. Também foi reformada em 2015 – o ano é pura coincidência, segundo Tokarski – e comporta afrescos de beleza ímpar.

 

 

Aqui, as missas de rito romano também são rezadas por ministros na ausência do padre.

 

Nave da capela

Debaixo do sino, em frente à igreja, está Clementina Friederich. Ela dá as boas-vindas aos visitantes, mas não arreda pé de debaixo do sino, onde expõe produtos artesanais que vão de compotas a panos de prato delicadamente pintados, além de pães e bibelôs.

 

 

Nos fundos da igreja, assim como nas demais, há duas salas – uma para a secretaria e outra para o padre. Até poucos anos atrás, conta Tokarski, a sala do padre servia para pernoites também. Anexo havia um banheiro improvisado. Uma latrina com acento parafusado na madeira impecavelmente limpa pelas beatas. O banheiro foi destruído, mas ainda se vê o sinal do buraco aberto para alívio do sacerdote.

 

Cemitério fica ao lado da Capela de São José

Anexo à capela uma das peculiaridades das igrejas interioranas: um cemitério lotado cujo jazigo mais antigo data de 1939.

 

 

RECANTO SERRANO

Família se reúne para servir o café da tarde no Sítio Recanto Serrano

Quando a Acatur procurou a família Veleski, Josnei até que se empolgou com a ideia de colocar o seu Sítio Serrano, no pé da Serra das Mortes, a serviço do turismo rural. Sua esposa, Nelci, pragmática até a medula, não gostou muito da ideia. “Quando íamos fazer os cursos da Acatur, tinha gente que dizia que estávamos abandonando nossa lavoura para ir atrás de algo que não ia trazer futuro nenhum. Hoje, quem falava quer saber como pode se associar”, conta Nelci.

 

 

A última parada da Rota das Capelas é o deleite final do passeio. Doces, salgados, bolos, sobremesas, bolachas, peixe frito na hora, morcilha de arroz fresquinha, enfim, uma fartura que faz juz ao que Tokarski já havia alertado os participantes do passeio. “Não se preocupem se sobrar, o que importa para eles é servir bem”, acrescenta, lembrando que no sítio se trabalha no sistema conhecido antigamente como pixurum. São 11 pessoas, com exceção de um deles, todos parentes, que se reúnem para a empreitada. Em geral, plantações e colheita. Nesse caso, no entanto, para cozinhar e, depois de os visitantes irem embora, claro, comemorarem o êxito provando de suas próprias delícias.

 

Música no Sítio Recanto Serrano

É ali, no pé da Serra das Mortes, que, ironia do destino, agricultores do interior de Canoinhas parecem estar vendo renascer sua vocação.

 

 

Acatur vive de sócios e doações

A Associação de Cooperação e Apoio ao Turismo Rural (Acatur) foi criada em 2008 e desde então conta com a colaboração de vários entusiastas para se manter. É o caso da vereadora Norma Pereira (PSDB), que doa mensalmente R$ 600 de seu salário para manter a Associação. Os agricultores que oferecem atrações durante as rotas também contribuem como sócios pagando uma mensalidade de R$ 30. A Fameplan cede uma sala para as reuniões mensais. O lucro das Rotas é revertido para os agricultores que prepararam as refeições, as diretorias das igrejas e ajuda de custo para o guia das Rotas.

 

 

 

 

 

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