Como professora elevou nota do Ideb em Canoinhas

A partir de simulado online, professora reforça conteúdo e estimula aprendizado de alunos de escola encravada em uma das regiões mais carentes de Canoinhas; Escola Municipal Xeila Cornelsen obteve o maior crescimento no Ideb no Estado no ano passado

 

Quando a professora Eliane Vieira Moraes chega cedo no Grupo Escolar Municipal Xeila Cornelsen, sempre tem algum de seus alunos esperando no portão. Querem carregar sua pasta até a sala de aula. “Não tem como não amar não é?”, abre um sorriso a professora que no ano passado conseguiu a façanha de colocar seus alunos na vitrine educacional do Estado quando foram divulgadas as notas do Índice do Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A escola conseguiu o maior crescimento dentre todas do Estado se comparadas as notas de 2013 e 2015 entre os anos iniciais (1º ao 5º).

Equipe da escola Xeila Cornelsen comemoram conquista/Edinei Wassoaski/JMais
Equipe da escola Xeila Cornelsen comemora conquista/Edinei Wassoaski/JMais

Mas para entender a importância da façanha, é preciso entender o contexto. A Escola Xeila Cornelsen é o antigo Grupo Escolar Menino Deus ou, simplesmente, a Escola do Mutirão. “Uma vez um prefeito me perguntou por que fazíamos tantos bingos e não entendi a pergunta porque não fazemos bingos. Depois fui entender que até o prefeito confundia o Mutirão com a Escola”, conta a diretora, Leila de Fátima Diefentheler. Na verdade, a Associação dos Moradores do conjunto habitacional era quem promovia os bingos.

O Mutirão é um conjunto destinado a famílias de baixa renda. Para muitas famílias que ali vivem, ter um lar não garantiu comida na mesa e uma vida mais tranquila. Por isso, muitos alunos da escola enfrentam problemas dos mais inimagináveis que, inevitavelmente, refletem na escola. Esse foi o primeiro desafio da professora Eliane. Ela cita o exemplo de uma aluna cuja mãe chorou diante dela contando que não tinha o que por nas panelas. Surgiu um concurso de frases. A filha dessa mulher escreveu a sua sugestão enquanto aguardava uma sacola de legumes que é doada regularmente pelo Centro de Referência da Assistência Social (Cras). A frase agradou os jurados do concurso e a menina ganhou um prêmio de R$ 150. “A mãe chorava, mas agora de alegria (ao ver a filha receber o prêmio)”, conta.

Hoje, a escola leva o nome de outra professora guerreira. Xeila Cornelsen abraçou a escola como extensão de sua família e lutou para que ela chegasse onde chegou. “Foi uma grande lutadora”, reconhece Leila.

O terreno preparado por Xeila que, inclusive, com seu nome ajudou a tirar da escola um certo estigma negativo, foi adubado pelo próprio Município, que contratou o Sistema Positivo para aplicar os simulados que oferecem um diagnóstico do aprendizado aos professores. “Com o simulado a gente fica mais seguro. Eu me avaliava. Eu via onde eu precisava melhorar. Se era preciso mudar a estratégia”, explica Eliane.

Karla Hauerbach, do Sistema Positivo, explica que no começo do ano a Secretaria de Educação passa um autor específico cuja obra serve de base para eles prepararem os simulados por meio do programa Aprende Canoinhas. “É tudo online. O aluno faz a prova pelo sistema e aí já aparece a nota. O material é encaminhado para o professor”, explica. Com os dados dos simulados, cabe aos professores trabalharem os pontos fortes e fracos dos estudantes.

 

“É através do conhecimento que o aluno vai melhorar de vida. É um meio de resolver sua situação”

Eliane Vieira Moraes

 

METODOLOGIA

Para qualquer professor que goste da profissão, despertar o interesse dos alunos corresponde a encontrar o Santo Graal. Se Eliane não encontrou o seu, ao menos chegou perto. Enfrentando desmotivação e desinteresse, ela conseguiu despertar os alunos pela própria motivação. “Fiz cartazes, estabeleci uma certa competição entre eles, colocando no quadro o que poderia ser diferente, dando um pequeno prêmio, chamando os pais. Disse para eles ‘Eu vou dar tudo de mim, mas eu preciso de contrapartida’”. Os pais entenderam isso e vieram juntos mesmo. Tanto que muitos deles estavam mais ansiosos que a própria Eliane para ver o desempenho dos filhos.

Eliane na sala de aula/Edinei Wassoaski/JMais
Eliane na sala de aula/Edinei Wassoaski/JMais

Eliane se deparou, inclusive, com dificuldades básicas. “Para economizar folhas, exibia o simulado no data show e entregava só o gabarito para eles. Imagine, sete, oito folhas para cada um dos 35 alunos por simulado! Eu fazia quatro simulados por semana”.

E quando um aluno não conseguia acompanhar a turma? “Ninguém fica para trás. Se alguém não aprendeu direito voltamos ao conteúdo. Foi uma competição, ninguém queria errar. Geramos uma competição saudável”, explica a professora. Os próprios alunos começaram a se cobrar mutuamente. Não deixavam os colegas faltarem e estimulavam os pouco animados. “A partir dos simulados, a gente já tinha uma visão de que iríamos nos dar muito bem, mas era uma expectativa”, conta Karla. Quando o resultado chegou, Eliane não acreditou. “Pensei que era pegadinha”, diz sorrindo.

Com 35 anos de sala de aula, Eliane já deveria ter se aposentado, mas não consegue. “Eu amo meus alunos, não tenho preguiça de pensar em novos métodos, preparar aulas. Se me aposentar acho que fico doente. ”

Por enquanto, o assunto fica para depois. Eliane só pensa em conseguir desempenho igual ou melhor dos alunos atuais na próxima Prova Brasil.

 

 

 

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