Da luta e do luto

A morte é inevitável e representa o sentimento definitivo de perda

 

Antonio Vasco*

 

O entendimento sobre as perdas está sedimentado para psicologia e para as religiões. O que é ótimo porque todos, inevitavelmente, lidamos ou lidaremos com o luto. A morte é inevitável e representa o sentimento definitivo de perda, contudo mesmo sendo inevitável ainda é assunto tabu que causa desconforto e emoções ruins.

 

 

As emoções ruins relacionadas à perda de alguém são fortes, mas a psique saudável vive o luto, levanta a cabeça, supera a dor e segue rumo a outras emoções. Na Grécia antiga os heróis eram os que não temiam a morte e que não temiam perder nada. Estes lutavam e eram lembrados. Mas a silenciosa e prudente maioria caia no esquecimento.

 

 

Agora existem muitas pessoas paralisadas pelo medo das perdas e pelo medo da dor. Também existem os imprudentes que, em busca de reconhecimento, se arriscam como se não existisse o amanhã. São as pontas de dois extremos e ambos não apresentam disposição saudável. O primeiro não produz; não tem ambição apenas deseja não perder o que já possui quer sejam bens materiais ou emocionais. Esses indivíduos estão presos na condição atual e desejam perpetuá-la para sempre.

 

 

Os imprudentes são demasiadamente agressivos com quem os cerca e com eles mesmos. O nível de cobrança é elevado e inatingível. A imprudência ferrenha os torna mais exigentes com tudo e com todos. Assim, essas pessoas rasas de empatia, vivem com dificuldades para manter os laços afetivos saudáveis. A elevada “coragem” os conduz para lutas que são desnecessárias e improdutivas. Buscam um nível de felicidade inatingível. Por isso enfrentam dragões criados apenas na sua cabeça, mas que são poderosos e capazes de ferir todos a sua volta.

 

 

Os imprudentes se dividem em dois grupos: dos corajosos e dos idiotas. O que diferencia esses dois grupos é o resultado do que fazem. Os corajosos se arriscam, jogam tudo para o alto mas, ainda assim, conseguem resultados positivos. Os idiotas se arriscam e jogam tudo para o alto, mas conseguem produzir um desastre. De toda sorte, o que resulta para qualquer um é a certeza da perda quer seja por perecimento quer seja por imprudência. O perecimento é inevitável e pertence a ambos, mas a derrota acachapante pertence ao imprudente.

 

 

A luta é diária para enfrentar todas as perdas e todos os lutos. As perdas ocorrem muito mais por escolhas ruins do que por decisões ponderadas. Desde um acidente doméstico até uma grande decisão política tudo nos guia inexoravelmente para as “consequências”. Os niilistas passivos indicam o caminho derradeiro de tudo e de todos. Mas essa já é corrente filosófica superada. Sabe-se que para lutar contra as consequências das más decisões e para enfrentar as perdas, contamos com uma rede de segurança (família, amigos, igreja e Estado). Devemos contar ainda com o apoio dos profissionais da saúde mental. Um desses profissionais irá lhe guiar para que enfrente todas as fases do luto.

 

 

A ponderação, a cabeça erguida e uma rede de segurança firme são alicerces para pisque saudável.

 

 

*Antônio Vasco é médico veterinário

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