Colunista Edinei Wassoaski analisa a ascensão de candidatos ditos apolíticos
Parece exagero comparar a eleição de Beto Passos (PSD) como prefeito de Canoinhas a de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Não só pela dimensão dos cargos, como também porque Passos não merece ser comparado a figura tão boçal quanto o republicano. Agora, há pelo menos duas pontas de semelhança entre as duas vitórias. A primeira é que ambos construíram sua popularidade nos meios de comunicação.
Passos construiu carreira no rádio, criou um site de notícias e se especializou em criticar e apontar os maus feitos dos governos. Cansou de xingar prefeitos, vereadores e afins sem economizar no vocabulário. Trump nasceu em berço de ouro e por puro capricho foi para a televisão, comandar o programa “O Aprendiz”, no qual sua diversão maior era demitir candidatos a trabalhar em suas empresas. Ambos ganharam popularidade e ascenderam à política por meio dos seus respectivos programas.
Mas gostaria de focar no segundo ponto de semelhança. Passos e Trump, cada um a seu modo, defenderam o discurso apolítico. Não só demonstraram por suas respectivas trajetórias que não vêm de dinastias políticas como era o caso de Beto Faria em Canoinhas e de Hilary Clinton nos Estados Unidos, como se colocavam como capazes de fazer tudo diferente. Diferente do establishment, da política tradicional, capazes de fazer aquilo que um político comprometido com a ideologia e com a militância político-partidária não é capaz de fazer.
Há, no entanto, uma diferença abismal entre o discurso dos dois. Enquanto Passos se mostrou bem intencionado, com propostas de avançar o Município que, temo, não saiam do papel pela mais absoluta falta de dinheiro, Trump fez um discurso impregnado de ódio, calcado na intolerância, na divisão em detrimento da união. E se estamos falando de dois extremos: o cargo mais modesto e o mais significativo na escala política planetária, isso aponta uma tendência que, na minha opinião, está nesse discurso apolítico, cada vez mais popular diante de uma desilusão planetária com a política tradicional.
E isso nos remete a 2018. Diante de um cenário ainda mais desilusório como vive o País, quem será nosso próximo presidente da República?
A resposta está na time line do seu Facebook. Pelo menos na minha há várias pessoas ressaltando que os EUA amanhecem com Trump presidente hoje e o Brasil amanhecerá com Jair Bolsonaro em outubro de 2018. Não vejo exagero na comparação. Acho até bastante coerente.
Vejo que precisamos mergulhar na escuridão da inexperiência política de gente como Trump e Bolsonaro para acordar para uma realidade muito simples: não existe milagre em política, muito menos salvadores da Pátria. Bolsonaro pode ter ficha limpa, mas uma cabeça suja, cheia de preconceitos e ideias radicais, tanto quanto Trump, que desrespeita mulheres, flerta com grupos racistas e promete construir um muro com o México e mandar a conta para o país vizinho.
A intolerância que Trump e Bolsonaro pregam e que para muitos parece vergonhosa, também está na sua time line do Facebook. São discursos de ódio travestidos de indignação do tipo “esse tem de morrer”, “esse idiota tem de pagar por isso ou aquilo”, etc. Idiota, aliás, na lógica do Facebook, é aquele que não pensa como eu.
Tudo isso para dizer que os nossos governantes não emergem e se elegem do nada. Somos nós que pecamos pelo voto ou pela omissão em argumentar a favor de quem achamos “menos pior”. A grande e lamentável consequência é que omissos ou não, todos pagam. Estejam todos preparados.