Conservar e cuidar dos solos é conservar e cuidar das águas, da vida
Dr. Jairo Marchesan*
Em 5 de dezembro é comemorado o Dia Mundial do Solo. No solo vivem trilhões de espécies de seres vivos, desde os visíveis como as minhocas, até os microrganismos, invisíveis aos olhos humanos, como as bactérias, fungos e vírus, sendo muitos deles ainda desconhecidos pelos seres humanos, mas muito importantes para o solo e às diferentes formas de vida. Todos esses organismos e microrganismos realizam funções ecológicas necessárias e importantes, dentre elas a decomposição da matéria orgânica e que qualifica ciclicamente o solo. Praticamente tudo (vegetais, minerais, água, produções agrícolas, produtos, subprodutos …) são provenientes do solo, de forma direta ou indireta dependem e se relacionam com o mesmo. Da mesma forma, a vida humana, a animal e a vegetal dependem fundamentalmente do solo para sua sobrevivência e reprodução. Por isso o solo desempenha funções ecológicas importantíssimas, senão vitais para as diferentes formas de vida, inclusive a humana.
Desde a antiguidade, o solo, quando preparado e cultivado, produz alimentos que sustentam e reproduzem as vidas humana, animal e vegetal. Praticamente todos os alimentos para os humanos e animais são provenientes do solo. Deste modo, o solo sustenta o crescimento das árvores e delas são procedentes a madeira, a lenha, os frutos e tantos outros subprodutos. Além disso, as árvores desempenham funções sociais econômicas, ecológicas e ambientais fundamentais. Do solo, também são provenientes a produção de alimentos (pasto) para os animais, dos quais se obtém a sobrevivência humana.
No solo também podemos produzir os combustíveis alternativos (biocombustíveis), a partir de plantas. Além do mais, o solo também controla e regula o clima do Planeta, afinal, o mesmo, em parte, absorve a radiação solar e executa o sequestro de gás carbônico do ar. Na mesma direção, o solo é receptor e possibilita a decomposição dos resíduos orgânicos provenientes dos vegetais, animais e dos seres humanos, gerando a ciclagem de nutrientes. Dentre tantas outras funções do solo, uma delas é filtrar ou purificar naturalmente as águas, afinal, a água infiltra e percola no solo, aloja-se no lençol freático, e posteriormente move-se, indo abastecer os rios, as fontes d’água ou nascentes. Por isso, pode-se afirmar que o solo é considerado também como o maior e melhor filtro natural de água. Na mesma perspectiva, o solo tem a capacidade de ser e atuar como esponja, ou seja, constitui-se no grande armazém de água, que posteriormente a libera para os rios, nascentes e outros.
O solo é o componente da natureza, que atua como regulador de enchentes, pois quando ocorrem as precipitações (chuvas), caso o solo tiver condições ou possibilidade de infiltração da água, tem a capacidade de permitir que a mesma infiltre nele, evite enchentes e inundações dos rios. De igual modo, por ocasião das chuvas, se o solo estiver protegido e com condições de infiltrações, evita que as águas escorram superficialmente, gerando processos erosivos. Portanto, o solo tem a capacidade natural de absorver a água, conduzi-la até os lençóis subterrâneos e depois liberá-la em forma de vertentes, bem como abastecer as nascentes e os rios. Assim, o solo é o maior armazenador de água doce (inodora, insípida e incolor) disponível do Planeta e que, posteriormente serve as sociedades humanas, animais e as plantas.
Por vezes, há pouca água no solo, pois, devido e associado à declividade elevada, falta de vegetação e à impermeabilização superficial, impedem que a água infiltre e fique armazenada no mesmo. Uma das melhores formas de se fazer a gestão integrada das águas é cuidar do solo. Portanto, há uma profunda ou intensa relação e interação entre água e o solo, e vice-versa. Nesta direção, como nos relacionamos ou cuidamos ou não do solo, repercute na quantidade e qualidade das nossas águas.
Normalmente, quando pensamos ou falamos de águas, nos lembramos dos mares, rios, lagoas ou outros. No entanto, poucas vezes associamos, lembramos, percebemos ou ainda sabemos que a maior quantidade de água doce, superficial e prontamente disponível às necessidades dos seres vivos está no solo! Para que não falte água é necessário, então, com que a água da chuva se infiltre no solo e nele permaneça armazenada. E para isso é preciso manejar correta, caprichosa e qualificadamente o solo agrícola, utilizando-se práticas de manejo adequado, das quais se destacam: a proteção permanente do solo, com vegetação anual ou perene ou seus resíduos (palha) durante o ano; fazer sucessão, rotação ou consorciação de culturas; construir terraços para manejar o escoamento da água superficial e evitar os processos erosivos; possibilitar a infiltração das águas, dentre outros. Já nas áreas urbanas, pode-se ter maior número de ruas com calçamento ou paralelepípedos e menos asfalto; utilizar lajotas ou pavers, os quais possibilitam a infiltração das águas; plantar espécies de árvores adequadas onde for possível, dentre outras. Além disso, nos espaços rurais e urbanos podemos e devemos captar a água da chuva, armazená-la em cisternas e reaproveitá-la em atividades diárias, como em descargas de vasos sanitários, lavar calçadas, automóveis, dentre outros usos menos nobres. Trata-se, pois, de uma tecnologia social exequível, funcional e disponível a todos.
Conservar e cuidar dos solos é conservar e cuidar das águas, da vida, do desenvolvimento socioeconômico humano e do bem-estar dos animais.
Este artigo é uma homenagem especial e em vida a um estudioso, conhecedor e defensor do correto uso, manejo e conservação do solo, engenheiro agrônomo Leandro do Prado Wildner, pesquisador da Epagri no Centro de Pesquisas para a Agricultura Familiar – Epagri/Cepaf, de Chapecó SC.
*Dr. Jairo Marchesan é docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]