Ah! A Riviera Francesa! A Côte d’Azur! O ponto de encontro das celebridades do mundo, das celebridades da vida. O místico espaço estendido entre a montanha e o mar. Entre os Alpes Maritimes e o Mediterrâneo. O consagrado território onde Paganini fez vibrar as cordas de seu violino para o deleite dos nobres de uma bela época e de um cassino onde perdeu seus dobrões.
Côte d’Azur de cantos e encantos com suas sinuosas rodovias contornando escarpas. Onde, dentro de um prateado Jaguar conversível, em alta velocidade, uma garota, com cabelos esvoaçando ao vento derramava suas lágrimas de dor e angústia, como escrevera Françoise Sagan (*) que por ali também viveu.
E a pé ou de bonde fomos perambulando por Nice. Novo idioma, nova moeda, outros costumes, outra cultura e uma diferente culinária com novos aromas e novos sabores. Nice com uma língua ainda mais diferente que me pareceu mesclar o arcaico francês com o italiano, o Niçard ou Niçois.
Nice é o ponto de chegada de onde se irradiam as partidas para quem deseja conhecer não só o restante da Riviera Francesa como, também, indo em direção às montanhas, os locais das plantações de flores de onde se originam e são elaborados os inigualáveis perfumes franceses.
Como o nosso tiro era de curto alcance ficamos apenas num pequeno trecho da Riviera, o trecho entre Cannes e o Principado de Mônaco. E Nice no meio.
E era inadmissível não molhar o corpo nas águas do Mediterrâneo. Contornando a passarela logo alcançamos a escadaria que descia até a praia. Que eram, passarela e escadarias, construídas com grossas tábuas de madeira. Que escurecidas se encontravam pelo uso, pelo tempo, pela maresia ou pelo próprio óleo que ali fora pincelado a fim de as proteger.
E a ilusão de uma belíssima praia como as conhecemos aqui, logo se desvaneceu. Embora já soubéssemos que não haveria areia fina a surpresa foi encontrar apenas pedregulhos e seixos onde pés descalços não conseguiam pisar.
Onde hoje se veem guarda-sóis, geometricamente enfileirados, pelas praias da Riviera eu vira pequenas tendas com apenas uma abertura vertical na parte da frente.
E a multidão, vinda dos mais variados e distantes rincões da Europa, acomodada em grossas esteiras ou colchonetes estendidos sobre as cadeiras de praia, as “long-chaises”, onde, confortavelmente, se pode recostar, diverte-se ao sol do verão mediterrâneo.
E ficamos a andar pela Promenade des Anglais embevecendo-nos com as mansões e prédios de um lado e o mar do outro.
Um longo suspiro ao nos depararmos com o deslumbrante Hotel Negresco, tão cantado e tão falado, nos anos dourados, nas colunas sociais de jornais e revistas pelo mundo afora. Hotel Negresco e sua abóboda rosada, um marco da charmosa arquitetura mediterrânea.
Incalculável o imenso número de iguarias encontradas em incontáveis restaurantes. Talvez tanto quanto o número de países do mundo.
E depois ver o mar em Cannes e o Palácio dos deslumbrantes e famosos festivais de Cinema.
Entre a estação ferroviária e o mar atravessamos o intrincado desenho de ruas, de curtas ruas, de ruas de apenas um quarteirão e todas geometricamente elaboradas.
Ao completar-se o caminho de um quarteirão, dobra-se à esquerda ou à direita e a meio caminho segue-se em frente. Depois mais um trecho igual e dobra-se outra vez e, continuando assim, ziguezagueando, em linhas sempre retas, chega-se à avenida beira-mar.
Sempre imaginei uma cidade com este desenho. Ou, pelo menos, morar em um bairro assim. Sem necessidade de semáforos, lombadas ou guardas de trânsito. Impossível andar em alta velocidade ali.
Enquanto, estupefatas, víamos um congestionamento de Ferraris e Lamborguinis na avenida defronte ao mar, um vendedor ambulante nos oferece pêssegos. Compramos vários e, à sombra das árvores e ouvindo o marulhar das ondas, fomos apreciá-los. Enormes e sumarentos pêssegos, de coloração amarelo-ouro com nuances em laranja e em vermelho. E ao saboreá-los ficamos literalmente encharcadas com a quantidade de sumo que deles jorrava. E um sabor totalmente insosso, numa eloquente demonstração de que é nos pequenos que a melhor essência é encontrada.
As praias de Cannes já são contempladas com areias o que torna a entrada no mar bem mais agradável.
Mas a fama mesmo desta cidade é devida ao Festival Internacional de Cinema no “Palais des Festivals” onde, em 1962, o filme brasileiro “O Pagador de Promessas”, dirigido e protagonizado por Anselmo Duarte recebeu a “Palme d’Or”.
(*) Françoise Sagan, escritora francesa, autora de “Bonjour Tristesse”, “Núvens que passam”, entre outros romances.