Somente no ano passado, 467 boletins de ocorrência relatando agressão contra a mulher foram registrados na Delegacia de Canoinhas, 276 somente na cidade de Canoinhas
Nesta semana comemorou-se o Dia Internacional da Mulher, mas assim como no resto do Brasil e em várias partes do mundo, as mulheres da região pouco têm o que comemorar. Ganham salários menores, são discriminadas, criticadas e, ainda, são alvo fácil para homens que as veem como objetos ou propriedade privada.
Dados da Secretaria de Segurança Pública relacionadas à Delegacia da Comarca de Canoinhas mostram que somente em 2016, 467 boletins de ocorrência relatando algum tipo de agressão contra mulheres foram registrados na comarca, que compreende as cidades de Canoinhas, Bela Vista do Toldo, Major Vieira e Bela Vista do Toldo.
Chama ainda mais a atenção o alto número de casos de estupro registrados na comarca: foram 96 no ano passado, 54 dos quais em Canoinhas. Três Barras vem em seguida com 25 casos.
VIOLÊNCIA EM NÚMEROS
CANOINHAS | |
Estupro | 54 |
Agressão à mulher | 276 |
BELA VISTA DO TOLDO | |
Estupro | 9 |
Agressão à mulher | 14 |
MAJOR VIEIRA | |
Estupro | 8 |
Agressão à mulher | 31 |
TRÊS BARRAS | |
Estupro | 25 |
Agressão à mulher | 146 |
MAL NACIONAL
Em relatório intitulado O Estado dos Direitos Humanos no Mundo em 2016-2017, a Anistia Internacional afirma que o governo brasileiro é incapaz de “respeitar, proteger e cumprir os direitos humanos de mulheres e crianças”. O documento lembrou de dois casos de estupros coletivos ocorridos no Rio de Janeiro no ano passado.
Segundo Luanna Tomaz, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenadora do programa de atendimento a vítimas de violência da universidade, a violência sexual é banalizada no país. “A cultura do estupro denuncia muito essa permissividade e demonstra nossa dificuldade em compreender o que seja violência sexual”, afirmou em entrevista à repórter Laís Modelli, da Rádio Brasil Atual.
Para a advogada Leila Linhares, integrante da comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que fiscaliza a implementação da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, os abusos sexuais contra as mulheres têm origem nos tempos da escravidão, e o machismo se intensifica na medida em que elas vêm ganhando direitos e autonomia nos últimos anos.
“Estamos diante de um fenômeno que não é recente na sociedade brasileira. No Brasil, desde que foi descoberto, há uma cultura predatória, da exploração. As mulheres escravizadas, negras e indígenas foram objetos de ações sexuais predatórias. Isso se manteve na nossa sociedade”, diz Leila. “O que a gente pode perceber é que, talvez, o aumento dos casos, além da maior denúncia feita pelas mulheres, corresponde também a uma reação de um machismo extremo, violento, contra a ascensão social das mulheres. As mulheres, hoje em dia, podem estudar, trabalhar, querer se divertir, andar na rua na hora em que for necessário, mas toda essa cultura machista é uma maneira de dizer ‘o lugar de vocês é dentro de casa’.”
Segundo dados do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado em 2016, uma mulher foi estuprada a cada 11 minutos, no ano anterior.