Emoções em mais uma manhã tão linda…

“Tempo com Prosa e Verso”

 

 

Jogar palavras sobre o branco de uma folha de papel. Tingir com letras que levam ao concreto o abstrato que a mente domina. Eis o belo que me atrai desde tempos imemoriais. Rasgar as nuvens em busca do que nunca foi escrito. Procurar a frase que traduza o que da alma transborda. Dizer dos sentimentos que nos transportam de um páramo a outro nestas ondas contínuas que não cessam de rolar.

 

 

E o escrever por escrever, porque o escrever faz parte intrínseca da matéria de que sou feita. Envolvo-me nas letras, sentindo-me nelas amalgamada.

 

 

Foi assim que fui colocando, texto após texto, coisas, fatos, imagens e vivências de meus tempos passados, nestas páginas todas que me cercam. Nestas crônicas que me empurram para as doces ternuras da vida.

 

 

Foi assim que que estes pedaços todos foram formando livros. Que eu nunca pensei que algum dia poderiam ser do agrado de tantos.

 

 

Foi assim que o primeiro deles, “O Meu Lugar”, chegou às mãos do povo que ensina na Escola de Educação Básica “Tempo Feliz”. E para as mãos e olhares dos alunos que lá estudam.

 

 

Daquela colina, que irradia a luz do conhecimento para todos os cantos, um convite para um evento, de nome muito especial, eu recebo. Muito especial não só o nome. Como especial todo o evento foi.

 

 

“Tempo com Prosa e Verso”.

 

 

Tratava-se de um momento em que os alunos do ensino médio da Escola “Tempo Feliz”, fariam apresentações inspiradas no livro “O Meu Lugar”.

 

 

Extasiada eu me sentia no aguardo do esperado momento. Imaginava lá encontrar garotas e garotos, gaguejando, talvez, algum poema por eles escrito, declamando alguns versos de poetas maiores conhecidos e alguma inquirição sobre o livro.

 

 

Chovera muito na véspera e o céu em breu coberto prenunciava ventanias e um frio enregelador, um frio que vinha das montanhas andinas lá do sul da Patagônia Argentina.

 

 

Mas o céu daquela manhã nos surpreendeu. Os campos, as árvores e os telhados amanheceram cobertos de uma brancura ímpar que reluzia ao nascer de um esplendente sol que surgia, de repente, do nada, singrando, do nada, para brilhar em um profundo azul infinito.

 

Conduzida por minha amiga Annemarie Leber Sachweh, que ouve com carinho as minhas histórias há meio século já, fui ultrapassando os portões da escola que fica em uma colina também, bem nas antípodas da colina da Santa Cruz.

 

 

As surpresas começaram logo na primeira grande varanda, que circunda as salas de aula, pela face interna, junto a um aconchegante e ensolarado pátio.

 

 

Um painel em tons amarelecidos, tons que lembram o inverno, rodeado de folhas caducas, folhas mortas, folhas que da cor marrom já estão repletas, folhas caídas das árvores que ficam desnudas nos tempos de frio para que melhor os raios de sol possam nos atingir.

 

 

 

E no painel apenas uma frase. A frase que é parte de um poema. A frase que fez rolar as primeiras lágrimas minhas naquela manhã tão linda.

 

 

 

            “Este livro pretende ser lareira para os invernos de todas as estações…”

 

 

 

E mais em baixo, em meio a muitas flores:

 

Poema de Isis Maria Baukat.

 

 

Frase-Poema que encerra a apresentação que fiz na página inicial de “O Meu Lugar”.

 

 

Então continuei a caminhar por aquela varanda até a mesa de onde eu apreciaria o desenrolar de todo o evento.

 

 

Um silêncio, como os silêncios que envolvem os sacrários, era o silêncio que surpreendia pelo inusitado ao contemplar aquela multidão de alunos quietos e compenetrados, sentados em suas cadeiras.

 

 

Surpresa depois pela voz e perfeita dicção do aluno que foi o mestre de cerimônias. Suas primeiras palavras foram a causa de um desmoronar de outra torrente de lágrimas.

 

 

Lia ele as primeiras palavras de uma crônica que escrevi sobre um Natal em minha casa. “Um inesquecível Natal”. Emociono-me só em me lembrar daquela noite de Natal. Imagine-se o meu encantamento ao ouvir as primeiras palavras daquele texto por ele proferidas.

 

 

E então todo um teatro com alunas e alunos representando as personagens na história relatada. Com diálogos inusitados.

 

 

Com uma arvorezinha de Natal. Com um coro a entoar a eterna “Noite Feliz”.  As meninas encenando a família na cozinha a preparar a ceia de Natal. Outros enfeitando a árvore e sob ela colocando presentes. Numa alegria contagiante.

 

 

 

Com os sons do antipático telefone que toca chamando a médica para atender a uma emergência no hospital. Com aventais brancos e estetoscópios em punho, em silêncio, voltados para a paciente sobre a mesa cirúrgica. Os sons do coração em um rítmico bater. A alegria de ver o findar de um demorado procedimento emergencial. O abraço de Feliz Natal da equipe.

 

 

E… com o relógio da matriz sonando as badaladas da meia noite. Com a casa às escuras. E a surpresa final que relato no texto inserido no livro.

 

 

Depois poemas são declamados. Encenam os meus “Fantasmas das noites de neve”, enquanto um dos meninos lê a crônica como se um poema fosse.

 

 

Ouvimos outros poemas escritos pelos estudantes. Se eu citar algum nome aqui eu estarei cometendo um pecado imperdoável. Porque tudo foi lindo, impecável, emocionante. Nem um gaguejar. Tudo na mais perfeita entonação.

 

 

E então esperavam que algo eu lhes contasse. Mas o que seria um insípido monólogo eu substituí por uma conversa animada com todos. E assim foi ao finalizar o evento circunstancial. E assim foi na confraternização no decorrer do inigualável café que aquela manhã encerrou.

 

 

Recebi as mais lindas rosas que agora enfeitam a minha sala. Como descobriram que a rosa-champanhe é a minha preferida?

 

 

E mais um outro mimo que lágrimas ainda vertem ao vê-lo. Poemas de amor, da lavra dos alunos do ensino médio, da Escola “Tempo Feliz”, inspirados que foram pelos textos meus inseridos no livro. Uma poesia de Daiane Nieser, professora de Língua Portuguesa encerra a coletânea.

 

 

“Poetizando sentimentos”, um apanhado de poesias envoltas em bela encadernação emoldurada com arte. Leio-os, em conta-gotas, para não perder a magia. Porque poemas não podem ser lidos de uma golfada só.

 

 

Quando eu maculo uma página em branco com as palavras que nela jogo, jamais imagino que um dia elas serão transformadas em peça teatral, que serão declamadas como se poemas fossem.

 

 

Mas isto está acontecendo. Porque há jovens entre nós, ávidos pelo saber. Porque há mestres que lhes mostram os caminhos.

 

 

Curvo-me e, genuflexa, feericamente, aplaudo as construtoras deste magnífico evento. Para Annemarie Leber Sachweh, Joana Seleme Mioto, Maria Madalena Schiessl Moreira, Daiane Nieser, Juliana Vitoski e à plêiade de ávidos estudantes que naquela colina adquirem o conhecimento para a vida o meu abraço e o meu carinho.

 

 

 

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