Segundo o MPSC, era comum a empresa de Dercilio Severgnini concorrer com outra empresa suspeita
Assunto não tratado durante a coletiva de imprensa concedida pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e Polícia Civil de Canoinhas nesta quinta-feira, 13, os mandados de busca e apreensão cumpridos na casa de Dercilio Severgnini, irmão do prefeito de Major Vieira, Orildo Severgnini (MDB), formam um elo entre o prefeito e pelo menos três empresas investigadas. Dercilio figura como responsável pela Construções Santa Catarina, que, para os investigadores, pertence de fato a Orildo. A empresa participou de quatro processos licitatórios no Município de Major Vieira, sagrando-se vencedora em todas as suas participações, fato que totalizou contratações no montante de R$ 1.556.732,00. Somente entre 2017 e 2018, a empresa faturou R$ 782,9 mil em aluguel de máquinas pesadas para a prefeitura de Major Vieira.
Segundo a investigação, boa parte dos certames vencidos pela Construções Santa Catarina tinha como concorrente outra empresa suspeita de integrar o esquema: a Décio Pacheco e Cia, de União da Vitória. “Considerando as apurações até aqui realizadas, é clarividente a existência de fraude e frustração do caráter competitivo dos certames”, diz a denúncia que embasou a prisão preventiva do prefeito de Major Vieira e seu filho, Marcus Vinicius Severgnini. A Décio Pacheco se desdobra em outra empresa, pertencente ao filho do titular da primeira, ambas sediadas em União da Vitória. O nome da operação que prendeu Orildo e Marcus, Et Pater Filium, é justamente por envolver, nos dois casos, pai e filho.
A investigação encontrou indícios de envolvimento no suposto esquema de outras duas empresas. Uma testemunha disse “que não existiam outras empresas que executavam obras em Major Vieira, sempre era a BR Construções e Planaltina”. Segundo a investigação, as duas empresas são da mesma pessoa. A BR Construções
é de Gildo Lisboa e a Planaltina é de Gildo e o ex-prefeito de Monte Castelo, Sirineu Ratochinski. Segundo apurado pelos investigadores, as duas empresas ficam no mesmo endereço e tem o mesmo telefone.
A BR Construções já estava no radar do Grupo Especial Anticorrupção de Joinville a partir de um inquérito aberto no Paraná. Foi durante uma interceptação telefônica no Estado vizinho que nasceu a Operação Et Pater Filium. Na ligação, o prefeito Orildo manteve uma conversa suspeita com representante da empresa. Das 14 licitações das quais a BR Construções participou em 2019 em Major Vieira, venceu 12. Neste ano, das cinco licitações das quais a BR participou, venceu todas. Na casa do prefeito, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão, foi encontrada uma caixa com R$ 57 mil com o nome da empresa. Na agenda do prefeito havia diversas anotações com o nome de Gildo ao lado da descrição de valores que supostamente se referiam a dinheiro. A Polícia acredita que Gildo usava um preposto para repassar dinheiro ao prefeito via sistema bancário. Vários comprovantes de depósito no nome deste suposto laranja foram encontrados na casa de Orildo.
IMÓVEIS
Na casa de Orildo, a Polícia encontrou documentos que demonstram a compra de um imóvel no Condomínio Residencial e Comercial Rosana, localizado em Mafra, no nome da esposa de Orildo e da Construções Santa Catarina, a empresa do irmão do prefeito.
Orildo teria, também, envolvido a sogra no suposto esquema. As investigações indicaram que grandes quantias de dinheiro eram repassadas da conta da sogra do prefeito para Décio Pacheco e Décio Pacheco Júnior, ou depositadas na mesma conta por pessoas relacionadas às empresas de Décio e Décio Filho. “Montantes incompatíveis com as condições pessoais da mulher e concernentes a transações que não poderiam ter sido efetivadas por ela”, diz a denúncia.
Conforme destacado pelo promotor Renato Maia de Faria na entrevista coletiva de quinta-feira, 13, Marcus Vinicius teria usado uma beneficiária do Bolsa Família como laranja. Uma empresa no nome desta mulher teve documentação encontrada na casa do filho do prefeito.
O desembargador Sérgio Antonio Rizelo anotou no despacho que autorizou as prisões preventivas que as penas máximas previstas apenas para as infrações de lavagem de dinheiro (10 anos de reclusão) e de corrupção passiva (12 anos de reclusão) extrapolam em muito um quadriênio, dando uma prévia da possível pena de Orildo e Marcus se de fato eles forem condenados. Os dois seguem detidos na Unidade Prisional Avançada (UPA) de Canoinhas.
CONTRAPONTO
A reportagem tentou contato por dois dias com as empresas de Décio Pacheco e de seu filho, sem sucesso. Gildo Lisboa e Sirineu Ratochinski foram contatados por meio do WhatsApp, mas não responderam aos questionamentos da reportagem. Dercílio não foi localizado. A defesa de Orildo e do filho não foi localizada, porém, antes de ser preso, Orildo garantiu sua inocência e disse que não tinha ciência dos fatos que tinham levado o Ministério Público a investigá-lo. “Nunca peguei uma tampa de Coca Cola de ninguém”, afirmou à época.