Se você estiver em pé, sente-se, se estiver sentado, segure-se na cadeira: o corte maior foi na Educação básica
Wellington Lima Amorim*
A principal surpresa que a política nacional nos reservou nesta semana foi o anúncio feito pelo novo Ministro da Educação: um corte de 30% dos investimentos em Educação superior. O argumento que fundamenta tal atitude é de que a economia se faz necessária para uma melhor gestão e direcionamento de recursos para a Educação básica. A premissa está correta, é preciso inverter a pirâmide, e desenvolver políticas públicas que diminuam a desigualdade social no país. No entanto, não passa de uma premissa retórica. Na verdade, o bloqueio de recursos para as Universidades Federais foi de 25,85%. Todavia, se você estiver em pé, sente-se, se estiver sentado, segure-se na cadeira: o corte maior foi na Educação básica: 39,68% segundo a Andifes (Associação Nacional de Dirigentes Federais do Ensino Superior). Você ainda poderia se perguntar: e os colégios militares? Não sofrerão nenhum tipo de corte, pelo contrário, o governo federal promete criar um em cada capital brasileira.
Que governo é este que bloqueia aproximadamente 40% dos investimentos em Educação básica direcionada ao público da sociedade civil? A Educação se tornou a principal inimiga deste governo. Mas por que isso aconteceu? No ano de 2018 uma palestrante foi impedida de realizar uma conferência na UFF, acusada de fascismo ficou presa em uma sala durante horas, sob fortes ameaças e diversas ofensas. Em outro momento, uma professora na UFG foi expulsa da Universidade acusada de ter um discurso fascista. Na UFMG uma jovem foi espancada por um grupo da Juventude Socialista. Na UFPE a sala de um professor foi depredada e pichada com a seguinte frase: Stalin matou pouco. Pois é, o mesmo ocorreu na UFPI e na UFMA, onde eu protagonizei uma das cenas mais deprimentes da minha carreira como professor.
Na opinião do governo federal estes são os motivos para desenvolver a tese de que as Universidades Federais se tornaram inimigas da sociedade civilizada. Como resolver tal questão? Punindo as IES por balburdia? Bloqueando verbas que seriam importantes para os Hospitais Universitários e Centros Médicos? Ou ainda, prejudicando toda a comunidade acadêmica, muitos estes que não respaldam o comportamento IRRESPONSÁVEL desta extrema esquerda? Desde a abertura política as Universidades forma assoladas pela IRRESPONSABILIDADE de uma esquerda corrupta que tomou conta da gestão universitária. Porém, a lógica do ex-capitão e do Rasputin de subúrbio é a seguinte: se no pelotão um soldado comete um erro todos pagam! Em vez de punir e responsabilizar os gestores coniventes, tolerantes, omissos com desregramento da coisa pública, ele pune a todos. Sabemos aonde esta lógica perversa e sádica irá nos levar.
No filme Nascido para Matar, dirigido por Stanley Kubrick, o personagem Recruta Pyle não está apto ao serviço militar, devido ao seu elevado peso e comportamento desajeitado. Por isso, todo o grupo passa a ser punido devido aos erros de seu colega de pelotão, o que faz que seus companheiros de farda queiram se vingar e golpear durante horas o soldado desprotegido. A partir deste momento ele se torna um soldado exemplar, mas desenvolve uma personalidade sociopata que leva o recruta, em uma cena memorável, a assassinar o Sargento e cometer suicídio logo em seguida. Qual o instrumento utilizado pela vida aquartelada para se atingir a eficiência e homogeneização dos comportamentos? A hostilização entre os grupos, neste caso entre o pelotão e o Recruta Pyle.
Enfim, se os IRRESPONSÁVEIS utilizaram por longos anos a luta de classes para impor o aparelhamento nas Universidades Federais, agora, Bolsonaro e seu bruxo da Virgínia, utilizam o RESSENTIMENTO E A GUERRA CULTURAL como instrumento para destruir as Universidades Federais e transformar os campi, em verdadeiros campos de batalha. Nada mais previsível, bizarro e truculento: uma tragédia sempre anunciada. Vocês podem até dizer: isto tudo está muito longe de nossa realidade! Nunca irá acontecer! Vejamos outro case, descrito pelo jornal “O Globo’:
“Segundo, a denúncia, um garoto de 14 anos dera um tiro na cabeça e acabara de falecer, quinze horas depois do disparo (…). A chamada em destaque na primeira página do GLOBO de 17 de maio de 1989 resume a história: “Com o revólver do seu pai, o estudante Celestino José Rodrigues Neto, o Netinho, de 14 anos, cometeu suicídio anteontem à noite, em sua casa, por considerar que sua mãe havia sido humilhada ao vê-lo ser advertido publicamente durante a formatura de sua turma, no Colégio Militar. Netinho (…) havia sido punido sob acusação de ter “colado” durante uma prova. Ele deixou carta em que afirma ser inocente e pede que sua farda e seus brinquedos sejam dados a seus amigos”. (…) Aos 14 anos de idade o “Netinho” cursava a oitava série do referido estabelecimento de ensino castrense e, portanto, realizava o seu curso médio regularmente. Em 1990, ao fazer uma prova de geografia, foi acusado de consultar um livro e com base nesse fato recebeu uma pena de suspensão de seis dias. Não satisfeita, a direção do colégio mandou reunir o corpo discente no pátio e através de um capitão-instrutor (capitão Costa Vaz) procedeu-se a humilhação pública do adolescente, fato agravado pela presença da mãe do aluno no local. Dois dias depois da iniquidade o menino se suicidou, após escrever uma carta pedindo desculpas à genitora, sinal dos seus bons sentimentos e caráter. Em nota da época, a seção de relações públicas do Exército informou que a “cola” era uma transgressão disciplinar passível de expulsão do aluno do colégio, assim como o namoro e o uso de drogas. O evento foi muito noticiado pela imprensa por se tratar do suicídio de um jovem aluno do Colégio Militar. Na época, o jornal O Globo trouxe a manchete “Humilhado, aluno do Colégio Militar se mata”, e dizia que “as regras disciplinares do Colégio Militar são velhas e ultrapassadas, da época de Napoleão; e por isto, a instituição está parada no tempo.”[1]
Faz exatamente 30 anos que eu e o netinho convivíamos na Vila Militar do Campos dos Afonsos no Rio de Janeiro. Não éramos amigos íntimos, mas circulávamos juntos, tínhamos amigos em comum, e eu frequentava a Igreja Nossa Senhora do Loreto, que fica dentro da Universidade da Força Aérea, onde na época, fui capaz de assistir a missa de sétimo dia em lembrança de seu falecimento. É preciso refletir sobre este cenário que me impactou e até hoje como educador, não consigo deixar de me lembrar do mal que um sistema de ensino perverso e sádico pode causar as pessoas.
No momento em que a Educação, Ética e respeito ao próximo se tornam conceitos desgastados e supérfluos, e as disciplinas de Filosofia e Ciências Humanas deixam de serem “úteis”, pois tudo precisa virar óleo para por na máquina do Estado em nome da eficiência e da operacionalidade do ensino, fica o alerta: CUIDADO COM OS LÍDERES QUE VOCÊS ESTÃO CRIANDO, pois a responsabilidade é daqueles que agem, mas também está no colo destes que movidos pelo RESSENTIMENTO terceirizaram suas ações.
*Dr Wellington Lima Amorim é professor