Ela se diz revoltada por ter sido alvo do deboche dos supostos proprietários do estabelecimento
Uma semana depois de o deputado estadual Jessé Lopes (PSL) ganhar repercussão nacional por ridicularizar o movimento #Nãoénão, que busca deixar claro aos homens que ao primeiro não a uma cantada eles não devem insistir, a estudante de Direito C.W. diz ter sido estuprada e sofrido desrespeito e humilhação depois de dizer não a L.R.T., 23 anos, que trabalhava como segurança no Imigração 54 Pub, em Canoinhas, na noite de domingo, 19.
C.W. foi com alguns amigos perto das 20 horas para participar da 1ª Choppada de Verão, evento que acontecia no local. Em um texto publicado por ela mesma no Facebook, ela conta que estava rodeada de amigos e começou “a dançar e a beijar”. “No final da festa, eu e minhas amigas fomos convidadas a ficar para um after… que erro”, continua. Ela conta que acabou ficando com o segurança que trabalhava no local.
O segurança teria levado C.W. para um local reservado, onde eles trocaram carícias. L.R.T. teria começado a passar a mão nas partes íntimas de C.W. e, mesmo sob protestos dela, retirou o pênis para fora da calça e tentou penetrá-la. Por telefone, C.W. contou ao JMais que a todo o momento dizia que não queria fazer sexo com ele e tentava se desvencilhar, mas ele não a largava. “Ele me segurava com força, mas não deixou sinais nos braços. Fiquei machucada porque ele tentou penetrar e não conseguiu”, conta.
Ao se desvencilhar do rapaz, C.W. foi ao banheiro e depois foi falar com um dos proprietários do Imigração, que estava com os fregueses. “Falei que ele tinha de contratar pessoas mais educadas, porque ele (o segurança) tinha me estuprado. Ele riu na minha cara”, conta.
Uma amiga de C.W. foi tirar satisfações com o segurança. Ela chamou a estudante e o acusado para esclarecer a situação. “Eu dizia para ele ‘quantas vezes eu disse para você parar?’, ele disse que não falaria nada e virou o rosto. Peguei minha bolsa, liguei para o 190 e denunciei ele”, conta. Dois policiais foram até o local. L.R.T. negou o crime. “O dono (do bar) perguntou o que poderia fazer para eu dizer que era mentira. Um dos policiais disse que eu poderia ser presa se estivesse mentindo. Ele demonstrou que não estava acreditando em mim, mas fez o boletim de ocorrência. Na delegacia, o cara chamou um advogado, não quis ajuda do dono do Imigração”, relata C.W.
Ela afirma que enquanto esperava a chegada da PM, “os dois donos do bar” ficaram rindo e passando em frente a ela, “como se fosse uma coisa normal”.
Os policiais militares recomendaram que C.W. fosse para a Delegacia. C.W. fez exame de corpo de delito, que confirmou o estupro. Desde 2009, o crime de estupro abarca outras formas de assédio que não necessariamente terminam em penetração. Nova lei ampliou a sua aplicação para casos que com a lei anterior eram tratados como crime de atos libidinosos. A redação da lei anterior dizia que o crime de estupro se constituiria quando ocorresse conjunção carnal sem o consentimento empregando de violência ou grave ameaça. Foram introduzidos como crime de estupro também o constrangimento do toque, carícia, entre outros atos sem consentimento da vítima, denominado como atos libidinosos.
CONTRAPONTO
O Imigração postou uma mensagem em suas redes sociais na tarde desta terça-feira, 21, afirmando que “a equipe do Imigração 54 PUB (…) repudia qualquer ato de abuso ou desrespeito, não tolerando comportamentos desse tipo. Quanto ao ocorrido mencionado anteriormente, já solicitamos a troca imediata do segurança em questão para a empresa responsável. Esperamos que após a apuração dos fatos a Justiça prevaleça. Nossas sinceras desculpas aos nossos amigos e clientes. Episódios desse tipo são totalmente inaceitáveis e nós não seremos coniventes com qualquer situação de desrespeito”.
Um dos proprietários da VIP confirmou que L.R.T. trabalha para a empresa, mas naquela noite especificamente, fazia um trabalho para o Imigração como barman.
O JMais conversou com o proprietário do Imigração. Apesar de C.W falar em “donos”, ele se apresentou como único proprietário do bar. Ele pediu para não ter o nome exposto, mas explicou que L.R.T., de fato, trabalhava como segurança naquela noite. “Ele nos ajudou no bar, mas ele estava a serviço da VIP Segurança”, afirma, lembrando que o episódio teria ocorrido depois que o bar já estava fechado. Ele diz que em momento algum C.W. se dirigiu a ele e que ele só tomou ciência da situação com a chegada da Polícia. “Ninguém sabe de fato o que aconteceu, só eles (a moça e o rapaz), mas de qualquer forma, repudiamos esse tipo de atitude”, afirmou.
“As pessoas estão acusando o Imigração, mas não somos culpados, temos de esperar a Justiça”, reclamou, ressaltando que o caso suscitou uma série de medidas que ele pretende tomar para evitar que episódios como este voltem a acontecer.
A VIP Segurança, para quem L.R.T. estaria trabalhando, reafirmou que o rapaz estava a serviço do Imigração naquela noite, muito embora seja seu funcionário, e confirmou que ele será despedido por causa da acusação.
A Polícia Militar afirmou que desconhece a postura inadequada de um dos policiais que teria atendido a ocorrência e recomenda que C.W. registre um depoimento na corregedoria do 3º Batalhão de Polícia Militar para que seja devidamente apurada a situação.
O delegado de comarca, Marlon Bosse, disse que L.R.T. chegou a ser detido, passou por audiência de custódia e foi solto, mas que vai responder a processo pela acusação de estupro.
Procurado, LRT não quis se pronunciar.