Estudo de trânsito no centro de Canoinhas traz conclusões óbvias

Entre as recomendações de uma empresa de Blumenau está a instalação de estacionamento rotativo e faixa elevada onde já existe

 

O estudo de tráfego que será apresentado em audiência pública na próxima quarta-feira, 21, às 19h, na Câmara de Vereadores de Canoinhas, não traz medidas efetivas para melhoria do fluxo de veículos na cidade. É o que concluem três especialistas no assunto consultados pelo JMais, que teve acesso ao estudo completo.

 

 

Com português precário e erros grosseiros como o que afirma que a empresa Mili é sediada em Canoinhas (na verdade fica em Três Barras), o estudo começa com um levantamento de fluxo feito em apenas um dia (9 de novembro de 2017) em quatro esquinas do centro da cidade. A partir do levantamento há sugestões óbvias como a criação de faixas elevadas e instalação de semáforos.

 

 

Ao longo de 46 páginas, fartas em fotos das esquinas estudadas, o estudo traz informações redundantes como que “De um modo geral, as vias possuem duas faixas de tráfego em um único sentido, formando vários binários no centro da cidade, e não possuem pontos sensíveis de estrangulamento do tráfego, com exceção das ruas Francisco de Paula Pereira e Senador Felipe Schmidt que possuem trechos com uma única faixa de rolamento para acomodar o calçadão.”

 

 

O estudo traz ainda dados defasados sobre o número de veículo que circulam pela cidade. Os dados são de 2016, enquanto que o Departamento de Trânsito fornece a quem o consultar dados atualizados a cada mês. Os dados de 2016 são os mais recentes disponíveis na página do IBGE na internet.

 

 

A partir do levantamento feito em novembro, o estudo conclui que “De acordo com a pesquisa realizada em campo, o tráfego de passagem no horário de pico corresponde a 80% do tráfego na área de estudo.” Não há comparação com outros dias já que o estudo foi feito em apenas um dia. “Pedimos para ser um dia que sabíamos que seria de grande movimento por ser logo depois de as empresas pagarem o salário de seus funcionários”, justifica prefeito Beto Passos (PSD). Os pontos de estrangulamento seriam o acesso à prefeitura de Canoinhas pela rua Coronel Albuquerque, na esquina com a Mallon Motors; rotatória de acesso a Universidade do Contestado, vindo pela rua Eugênio de Souza; acesso à Escola Santa Cruz pela rua Eugênio de Souza (na verdade é o mesmo acesso à UnC); e o acesso às empresas localizadas no bairro Industria número 1 pelas ruas Barão do Rio Branco ou Getúlio Vargas.

 

 

 

O estudo sugere a criação de um anel viário. Este anel já existe desde 2004, quando o então prefeito Leoberto Weinert (MDB) concluiu obra iniciada por Orlando Krautler. O anel liga a rua Adão Tiscka, no Cristo Rei, à BR-280.

 

 

Nos quatro cruzamentos onde o estudo foi feito, as contagens, tabuladas a cada 15 minutos de pesquisa, foram classificadas por tipo de veículo: automóveis, ônibus, caminhões acima de quatro toneladas, reboques e semirreboques. Motocicletas, bicicletas e pedestres, no entanto, não foram incluídos nas contagens.

 

 

 

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico que custou R$ 14,9 mil aos cofres públicos é de que “o tráfego da região apresenta alguns pequenos problemas pontuais, como acúmulo de carros e caminhões nos horários de pico nos semáforos; problema de travessias dos pedestres, parada de veículos em segunda faixa e velocidade elevada dos veículos em alguns trechos”. Aponta, ainda que “o tráfego de caminhões de maior porte, reboque e semirreboques, faz com que o binário central perca sua fluidez, principalmente em horários de pico”. Constata a inexistência de ciclovias ou faixas para ciclistas e que “alguns cruzamentos não semaforizados apresentam riscos para a travessia dos veículos e pedestres, além de possuírem tempos de espera excessivos.”

 

 

O estudo constata no cruzamento com a rua Coronel Albuquerque o elevado fluxo de veículos da via preferencial, associado à alta velocidade, o que “gera uma situação de insegurança para os veículos da via secundária (rua Barão do Rio Branco, vindo do bairro Industrial)”.

 

 

Constata, ainda, “situação de conflito gerado entre os veículos que vêm da rua Cel. Albuquerque que desejam entrar à direita na rua Vidal Ramos (sentido sul), com os veículos que vêm do bairro Industrial e desejam entrar à esquerda na rua Vidal Ramos (sentido norte).

 

 

Ainda aponta que os cruzamentos da rua Barão do Rio Branco (via principal) com as ruas Vidal Ramos e Major Vieira (vias secundárias) apresentaram tempos de espera nas vias secundárias próximos ao limite recomendado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Deinfra) de 45 segundos, para interseções não semaforizadas.

 

 

 

PROPOSTAS DE MELHORIAS

Para o estudo, os problemas apontados se resolvem com a implantação de travessia de pedestres elevada no cruzamento da rua Barão do Rio Branco com a rua Cel. Albuquerque, com o objetivo de diminuir a velocidade dos veículos e garantir maior segurança para os pedestres; melhorar a canalização dos veículos no cruzamento com a rua Cel. Albuquerque através de marcas no asfalto, tachões e ilhas; e implantação de semáforo no cruzamento com a rua Vidal Ramos, “visando diminuir o tempo de espera e aumentar a segurança, além de proporcionar a formação de pelotões de veículos que garantiria maior segurança também no cruzamento com a rua Major Vieira.” Esse semáforo já existia e, segundo o ex-secretário de Infraestrutura de Canoinhas, Gilson Guimarães, foi retirado à época de sua gestão porque comprovadamente o fluxo melhorou na esquina depois dessa ação. Gilson, que preside atualmente o conselho do plano diretor e da Associação dos Arquitetos e Engenheiros do Vale do Contestado (AEVC) diz que uma medida muito mais simples resolveria o gargalo da Cel Albuquerque. “Basta abrir mão inglesa na rua Caetano Costa, permitindo que quem transita pela Cel Albuquerque e que queira permanecer no centro possa entrar na esquina da Mallon Toyota e possa entrar à esquerda na rua Vidal Ramos”, explica.

 

 

O estudo ainda sugere a abertura parcial do calçadão da Felipe Schmidt, além de faixa elevada na rua Major Vieira, o que já existe antes de o estudo ter sido feito. “Também poderá ser avaliada a mudança da rua Major Vieira, entre as ruas Caetano Costa e Eugênio de Souza, para via de mão dupla de modo a encurtar as rotas e diminuir o tráfego de passagem que hoje é favorecido pelo binário”, sugere.

 

 

O estudo chega a sugerir que Canoinhas institua estacionamento rotativo, o que já existe há mais de sete anos. Também prevê restrição a tráfego de veículos pesados no centro. A primeira lei de que se tem notícia que proíbe o trânsito de veículos pesados pelo centro é de 2001. Depois foi reeditada pelos prefeitos Leoberto Weinert e Beto Passos (PSD), inclusive com placas instaladas em várias esquinas da cidade.

 

 

 

CONTRAPONTO

O JMais tentou ouvir a empresa telefonando para um número encontrado na internet. A Insight Engenharia e Consultoria não tem site nem páginas em redes sociais, conforme pesquisa feita pela reportagem. Fabio Fiedler, apontado como sócio da empresa nas últimas eleições foi candidato derrotado a vereador em Blumenau pelo PSD, mesmo partido do prefeito Beto Passos. Em texto publicado no site “Informe Blumenau” em outubro de 2016, logo depois das eleições, sabe-se que “Fábio Fiedler tinha tudo para alçar voos mais altos, mas as denúncias eleitorais contra ele e o afastamento por quase um ano por determinação da Justiça Eleitoral abortaram os planos. Foi condenado em primeira e segunda instâncias, mas conseguiu no TSE, em Brasília, zerar o processo. Lá entenderam que ele não teve acesso a todos os dados da denúncia e portanto ficou com a defesa comprometida, remetendo o processo de volta para a Justiça Eleitoral de Blumenau.”

 

 

No site da Câmara de Blumenau, Fiedler é descrito como administrador, que “começou sua política ainda na universidade, quando foi presidente do DAAD e do DCE da Furb. Já foi professor técnico em Informática, consultor administrativo e assessor para Assuntos da Juventude. Em 2004 foi diplomado suplente. De 2005 até 2008 respondeu pela Praça do Cidadão e pela Ouvidoria da Prefeitura.” Não há nenhuma referência a trânsito em seu currículo. O JMais conseguiu três números de telefone: dois celulares supostamente pertencentes a Fiedler e outro fixo, supostamente da empresa dele. Nenhum deles atendeu às ligações da reportagem.

 

 

Apontado como seu sócio, Robinsom Fernando Soares também não foi localizado pela reportagem.

 

 

Antes de sair de férias, o prefeito Beto Passos foi informado do levantamento feito pela reportagem. Disse que estudaria melhor o documento e voltaria a entrar em contato com o JMais, o que não aconteceu.

 

 

 

 

CINCO PÉROLAS E UMA DÚVIDA

  • O estudo sugere a criação de um anel viário, supostamente para desviar o trânsito do centro. Este anel existe desde 2004.

 

  • O estudo prevê a proibição de trânsito de veículos pesados no centro. Lei reeditada outras duas vezes existe desde 2001. Da última vez, placas foram instaladas pela cidade.

 

  • O estudo recomenda instalação de estacionamento rotativo na cidade, o que existe desde 2011, suspenso momentaneamente por problemas com edital.

 

  • O estudo afirma que a empresa Mili fica em Canoinhas.

 

  • Recomenda, ainda, que se instale faixa elevada na rua Major Vieira, o que já existe antes do estudo ter sido feito.

 

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O estudo recomenda abertura do calçadão da Felipe Schmidt para mão dupla e instalação de faixas elevadas e semáforos. Segundo especialistas, isso não resolve dois dos maiores problemas da cidade, que estão no engarrafamento de veículos em horários de pico nas sobrecarregadas ruas Francisco de Paula Pereira e Getúlio Vargas. A abertura do calçadão diminui tempo de deslocamento entre uma rua e outra, mas não melhora a fluidez. Para isso teria de se abrir mais uma via. Uma medida sugerida seria abrir mão dupla na Francisco de Paula Pereira, diminuindo o calçadão ou reduzindo vagas de estacionamento.

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