Grupo de empresários procurou os vereadores nesta semana pedindo que o feriado seja extinto ou adiado para o primeiro domingo do mês de maio; Igreja Católica será consultada
De tempos em tempos os vereadores de Canoinhas voltam a um assunto polemizado há mais de uma década. Instituído em 2004, o feriado municipal de Santa Cruz nunca agradou a classe empresarial que, desde então, pressiona os vereadores a revogarem a lei que instituiu o feriado. A grande queixa é que ele praticamente emenda com o feriado de 1º de maio, causando, segundo eles, prejuízos. “Se você analisar a arrecadação de Canoinhas, no mês de maio, sempre cai, e no mês seguinte não recupera. Estamos em um momento de crise, estamos perdendo vários órgãos, não consigo me conformar que Canoinhas perdeu a ADR (Agência de Desenvolvimento Regional), então precisamos criar mecanismos que nos tornem fortes”, diz a vereadora Norma Pereira (PSDB), que defende que o feriado seja facultativo ou fixado sempre no primeiro domingo de maio. “Os nossos companheiros vizinhos não podem usufruir da Festa de Santa Cruz porque é em dia de semana. Fazendo a festa em um domingo, poderíamos atrair visitantes vizinhos”, sugere.
Segundo ela, um feriado custa R$ 27 mil para o Hospital Santa Cruz, somente em horas extras. “Quem estiver internado em um quarto particular não pode ser cobrado dobrado porque é feriado”, pondera.
Na segunda-feira, 12, representantes da classe empresarial se reuniram com os vereadores para pedir a extinção do feriado. Um projeto chegou a ser esboçado e deveria entrar em regime de urgência na sessão de terça-feira, 13, o que não aconteceu. Presidente da Casa, vereador Coronel Mario Erzinger (PR) se reuniu nesta sexta-feira, 15, com representantes das classes política, empresarial e religiosa para discutir o assunto. Ficou acordado que neste ano não haverá nenhum alteração, 3 de Maio segue sendo feriado municipal. Nos próximos dias, no entanto, deve ser elaborado projeto de lei que extingue o feriado de 3 de Maio a partir do ano que vem. A ideia é que as comemorações se prolonguem ao longo da primeira semana de maio e culminem na tradicional Festa de Santa Cruz no domingo.
Outra discussão que deve entrar em pauta nos próximos dias é a alteração no feriado de aniversário do Município. A ideia é que independente do dia em que o feriado cair, será comemorado sempre na segunda-feira imediatamente posterior ao dia 7 de setembro. “A intenção é favorecer a Fesmate e até mesmo quem viaja nos feriados”, explica Erzinger.
HISTÓRICO
O dia de Santa Cruz foi declarado feriado em Canoinhas mediante lei municipal instituída em 2004 pelo então prefeito Orlando Krautler. Segundo a lei, a data está no calendário oficial da cidade pelo valor histórico e religioso que representa.
Segundo o historiador Fernando Tokarski, há duas versões para o 3 de maio em Canoinhas: a primeira afirma que a data é a que o fundador da cidade, Francisco de Paula Pereira, chegou aqui, em 1888. A segunda é de outro 3 de maio, sete anos depois, quando foi erguida a primeira cruz da cidade, no local onde foi construída a primeira capela, na Colina de Santa Cruz. “Quando foi criado o distrito, para reforçar a tradição religiosa, ele passou a se chamar Santa Cruz de Canoinhas”, diz Tokarski.
Em um incêndio na capela de Santa Cruz, o símbolo sagrado foi um dos únicos a permanecer intacto, reforçando ainda mais sua relação com Canoinhas, que a instaurou padroeira.
Diferentemente de outras cidades, que comemoram a data de santos e santas como protetores, ela é o símbolo religioso máximo e é marcada pela tradicional Festa de Santa Cruz, na Igreja Matriz Cristo Rei. Outras celebrações também relembram as origens do município na mesma data como a Cavalgada, promovida pelo Clube do Cavalo.
POLÊMICA
Em 2006, pela quarta vez em três anos, a Câmara dos Vereadores de Canoinhas tomou uma decisão quanto à comemoração religiosa de três de maio. A data passou a ser feriado municipal, condição da qual havia sido destituída pela mesma Câmara um mês antes.
A nova decisão foi tomada por meio de votação secreta. O empate de cinco votos a cinco, conforme determina o regimento interno da Câmara, definiu a manutenção do veto do prefeito a Lei aprovada na Câmara, que tornava o dia de Santa Cruz, feriado móvel, sempre no primeiro domingo de cada mês.
O argumento do prefeito Leoberto Weinert (PMDB) para manter 3 de maio como feriado municipal se baseou em fatos históricos que remontam a criação do município. “Segundo levantamentos históricos tem-se que o dia 3 de maio seria uma das datas preferidas pelo monge João Maria de Jesus, que orientava os camponeses para que erguessem cruzes na referida data, sugestão que era acatada pelos moradores locais, que passaram a comemorar o dia 3 de maio como dia de Santa Cruz com a realização de festas que reuniam toda a comunidade”, diz trecho da justificativa apresentada por Weinert aos vereadores.
O resultado da votação provocou mal-estar entre os vereadores que mantiveram o voto aberto a favor do feriado móvel. Logo após a votação, Wagner Trautwein (PSDB) pediu que o regimento fosse revisto para que vetos como esse fossem votados abertamente. Paulo Glinski (PFL) acompanhou Trautwein na solicitação e até o presidente da Câmara à época, Silmar Golanovski (PMDB), aprovou a revisão do regimento, que classificou de “arcaico”.
A situação que colocou a Câmara em evidência fez com que o resultado da votação vazasse por meio dos próprios vereadores.
CRONOLOGIA DO FERIADO
> Abril de 2004
Câmara aprova por 12 votos a dois a criação do feriado de 3 de maio. 12 de setembro passava a ser ponto facultativo
> Setembro de 2005
Vereador Paulo Glinski (PFL) revela que uma Lei de 1959 que determinava 12 de setembro feriado municipal não foi revogada
> Agosto de 2006
Prefeito Leoberto Weinert (PMDB) manda a Câmara, projeto de Lei que oficializava 12 de setembro como ponto facultativo. Os vereadores vetam o projeto
> Setembro de 2006
Pressionados por empresários, os vereadores decidem por oito votos a um, transformar o dia de Santa Cruz num feriado móvel (primeiro domingo de maio), mantendo 12 de setembro como feriado municipal
> Outubro de 2006
Vereadores voltam atrás e aceitam o veto do prefeito ao projeto. Dessa forma, três de maio volta a ser feriado municipal.
> Março de 2018
Reunião entre lideranças religiosas, políticas e empresariais decide por manter o feriado neste ano, porém, projeto de lei será elaborado para por fim ao feriado em 2019.