Indispostos a pagar o custo eleitoral da quarentena, políticos relaxam medidas sem embasamento científico
ME INCLUA FORA DESSA
O libera geral assinado pelo governador Carlos Moisés (PSL) anteontem sem nenhum embasamento científico é prova de que pra ele já está alto demais o custo político da quarentena. Aqui em Canoinhas, prefeito Beto Passos (PSD) já havia jogado para a galera ao permitir por meio de decreto no domingo, 19, a reabertura de academias e atendimento no espaço físico dos restaurantes que, observe-se, já vinham atendendo por delivery. Quem de fato precisasse de um restaurante só não poderia usar a mesa do estabelecimento para se alimentar.
Sobre as academias, o virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), disse em entrevista à revista Saúde que o fechamento destes estabelecimentos “é uma boa medida de distanciamento social. Não é bom que tenhamos muitas pessoas ofegantes em um ambiente fechado, compartilhando os mesmos aparelhos”. Como se propaga por gotículas respiratórias e pode contaminar halteres, equipamentos e vestiários, o vírus de fato pode se aproveitar das salas de ginástica para se disseminar.
Mesmo assim, Moisés liberou o atendimento nestes locais. Efeito da pressão dos setores, que se sentiram injustiçados ao ver outros comércios não essenciais abertos na semana passada.
Entende-se, claro, o nefasto efeito econômico para empresários desses setores. Todos estão sofrendo. Com raras exceções como supermercados e farmácias, em todos os setores houve e haverá perdas. É aí que se estabelece o polêmico dilema saúde x economia. A famosa escolha de Sofia que caiu nas mãos de governantes, que, como sempre digo, têm sua capacidade de gestão testada nestes momentos de crise, não quando inauguram obras e cumprimentam cidadãos em festas e quermesses.
Ao anunciar o decreto de anteontem, a exemplo dos anteriores, Moisés não apresenta nenhum parecer técnico. Usa apenas seu secretário de Saúde, Helton Zeferino, que por mais técnico que seja, acima de tudo é um político, para endossar o que diz. Não há estudo, pesquisa, parecer nenhum. Pior, todas as ações prometidas por Moisés para combater o coronavírus andam a passos de tartaruga. Os testes rápidos, apontados como de suma importância por especialistas para se controlar a pandemia, chegaram em número mirrado ao Estado (são 70 mil até ontem para uma população de mais de 6,7 milhões), ou seja, pouquíssimas pessoas serão testadas. As vagas de UTI ainda não foram concretizadas e os hospitais olham com desconfiança a oferta de mais leitos de enfermaria, conforme a coluna mostrou ontem.
Indisposto a pagar sozinho a fatura da impopularidade por manter regras de isolamento, Moisés jogou para o colo dos prefeitos. Eles podem mudar as regras, mas somente para mais, nunca para menos, tanto que Passos chegou a ser interpelado pelo Ministério Público anteontem por causa do relaxamento das regras. Prefeitos, por sua vez, não vão bancar essa fatura a menos de seis meses das eleições.
A solução seria colocar todo mundo para dentro de casa, então? Não, o que os governantes deveriam ter feito neste um mês de isolamento foi divulgado claramente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e repetido continuamente por especialistas: testa-se a maior parte da população e libera-se aos poucos. Quem está bem volta para a linha de frente da produção. Aqueles que apresentam sintomas ou estão com a doença se isolam e vão sendo liberados a medida que novos testes comprovem a cura. Você conhece alguém que foi testado em Canoinhas? Deve ser mais fácil achar um entrevistado pelo Ibope.
MEDIDAS
Moisés e os prefeitos argumentam que estabeleceram regras para as pessoas saírem de casa (máscara, álcool gel e distanciamento social). Com exceção de Major Vieira, que está multando quem for flagrado sem máscara nas ruas, é excesso de otimismo acreditar que todas as pessoas vão seguir as recomendações.
IMAGEM
Preocupados com a imagem da Câmara, os vereadores de Canoinhas vão fazer sessão extra nesta quarta-feira, 22. Pela primeira vez em muitos anos, eles vão repor uma sessão que deveria ter ocorrido em dia de feriado, ou seja, ontem.
Enquete feita pelo JMais com 403 leitores mostrou que os vereadores são os mais mal avaliados na região. Notas de 1 a 6 somam 71% das opiniões. Notas de 7 a 10, a média portanto, alcançam 29% dos participantes.
PRESENÇA
Depois da secretária de Saúde Katia Oleskoviz, que participou da sessão de anteontem, hoje é a vez do presidente do Hospital Santa Cruz, Reinaldo de Lima Jr, que vai falar sobre a preparação do HSCC para receber pacientes com covid-19.
MAIS INFORMAÇÕES
O Governo do Estado ampliou as informações disponíveis ao cidadão nos boletins epidemiológicos sobre covid-19 e no site www.coronavirus.sc.gov.br. Desde ontem, os catarinenses têm acesso diário a quantidade de pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs), quantos utilizam respiradores e o número de pessoas que receberam alta para leitos de enfermaria, tanto na rede privada quanto no Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo é facilitar o acesso aos dados relacionados às ações de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus em Santa Catarina.
PROJETOS
Dois projetos de lei (PLs) elaborados pelos deputados estaduais e aprovados pela Assembleia foram transformados em lei na semana passada, com a sanção do governador Carlos Moisés da Silva (PSL). As matérias fazem parte das medidas adotadas pelo Parlamento catarinense para auxiliar Santa Catarina no enfrentamento da pandemia do coronavírus (covid-19).
Já está em vigor a isenção de ICMS, inclusive sobre importação, sobre medicamentos, produtos e equipamentos médicos e hospitalares que estejam relacionados à pandemia, até setembro deste ano. O objetivo é baratear os custos para a aquisição de insumos necessários ao enfrentamento do covid-19. A proposta foi elaborada pela Bancada do MDB na Alesc e transformada na Lei 17.930, de 14 de abril de 2020.
Também já está em vigor a suspensão temporária do envio de certidões para protestos de débitos inscritos em dívida ativa tributária ou não. A medida vai valer inicialmente por 90 dias, mas será prorrogada enquanto perdurar o estado de calamidade pública em Santa Catarina.
EM DEFESA DE CRISTINA

Sem conseguir ficar sem um bode expiatório para estocar, os bolsonaristas radicais elegeram um novo alvo depois que defenestraram o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. O alvo agora é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC), escreveu um artigo em defesa de Cristina. Depois de fazer vários elogios à ministra, disse que “esse perfil e esse desempenho não impediram, contudo, que a ministra se tornasse alvo de uma prática criminosa e abjeta que, infelizmente, toma conta de Brasília: a injúria, a difamação e a calúnia contra ela despejadas nas redes sociais. É o abominável método da destruição de reputações que vem ocorrendo, perpetrado por grupos de interesses escusos, de índole radical e de objetivos nada republicanos.”
Para Pedroso, “os brasileiros sabem que Tereza Cristina presta um admirável serviço ao País. O governo precisa mais dela do que ela do Governo. Não há dúvida que eventual saída da ministra Tereza Cristina do Ministério da Agricultura diminuirá o Governo de Jair Bolsonaro.”
89%
dos ouvidos por pesquisa Datafolha dizem que decisão sobre o uso de Cloroquina, medicamento apontado como eficaz pelo presidente Bolsonaro no combate à covid-19, cabe aos médicos