Há 65 anos, morte de vereador agitava círculo político de Canoinhas

Faury de Lima contraiu tétano depois de sofrer uma queda na Câmara de Vereadores

 

 

 

Há 65 anos, em 7 de setembro de 1955, Canoinhas perdia seu mais jovem vereador até então. Aos 23 anos, Faury de Lima, do PSD, morria vítima de tétano. A forma como ele contraiu a doença é fruto de um dos episódios mais rumorosos que a política canoinhense já viu, talvez, jamais superada em termos de repercussão.

 

 

 

No dia 22 de agosto daquele ano, Faury teria se irritado com opositores durante a sessão da Câmara de Vereadores, que funcionava no prédio onde hoje está a Fundação Cultural de Canoinhas.

Fundação Cultural de Canoinhas/Arquivo

 

O plenário funcionava no segundo piso do prédio, onde hoje está a Biblioteca Pública Municipal. Esbaforido, Faury deixou o recinto bastante nervoso e acabou tropeçando na escada (alguns juram que foi empurrado, o que jamais se provou judicialmente), sendo arremessado contra a janela, que se quebrou. Ferido por cacos de vidro, Faury foi levado para o Hospital Santa Cruz. “Como alvo principal dos ódios, procurou vertiginosamente encontrar a rua, quando foi cair na curva da escada, contra a vidraça que lá existe, ferindo-se gravemente na mão esquerda. Assistido prontamente pelo humanitário dr Osvaldo Segundo de Oliveira, dias depois melhorava, muito embora o seu desmesurado abatimento físico fosse causa de inquietação para seus amigos”, contou o jornal Barriga Verde, admirador de Faury não somente por suas virtudes enquanto político, mas por ele defender os ideais do PSD, partido desde pronto apoiado pelo jornal.

 

 

 

 

Faury chegou a receber alta médica e participou dos comícios de campanha, já que se tratava de um ano eleitoral, com pleito marcado para outubro. No dia 29 de agosto, depois de participar de uma sessão da Câmara, Faury retornou ao Hospital.

 

 

 

 

Desenganado pelos médicos, no fim da tarde de 7 de setembro de 1955, Faury foi mandado para a casa de seu tio, Bento José de Lima, na rua Vidal Ramos. Chegando lá, teria dito, segundo o Barriga Verde: “Graças a Deus agora sinto-me feliz”. Ele morreria duas horas depois. “Chorou o próprio coração de Canoinhas ante o esquife inanimado de Faury, talvez a expressão máxima no setor da esperança que a cidade depositava entre tantos outros valores da nova geração”, relatou o Barriga Verde, que lembrou que semanas antes Faury acompanhou a caravana de Juscelino Kubitschek, que o chamava de “menino vereador”. Apesar de Faury ter morrido de uma doença, o Barriga Verde insinuava que “seus algozes” tiveram parte na morte, uma referência à queda na Câmara no dia 22 de agosto.

 

 

 

 

Segundo relato do Correio do Norte, jornal que rivalizava com o Barriga Verde por apoiar a UDN, a briga do dia 22 se deu durante discurso do então vereador Alfredo Garcindo que atacava Haroldo Ferreira (PTB, partido aliado do PSD), então candidato a prefeito. Irritado com as acusações contra o correligionário, Faury jogou uma cadeira contra Silvio Mayer, vereador alinhado a Garcindo. Mayer sofreu algumas escoriações. Na saída do plenário, antes da queda, Faury ainda teria derrubado o irmão marista Geraldo Luiz, que assistia a sessão.

 

 

 

 

 

REAÇÃO

Já no dia da fatídica sessão da Câmara havia comentários de que Adolar Wiese, que assistia à sessão, teria dado uma rasteira em Faury, ocasionando sua queda. Adolar e testemunhas afirmavam que ele não teria dado rasteira alguma. Outras testemunhas  afirmaram o contrário. Chiquinho de Lima, irmão de Faury, ruminou a intriga durante meses e em 29 de janeiro de 1956 matou Adolar a tiros.

 

 

 

Jornal Correio do Norte de 7 de fevereiro de 1956/Reprodução

 

 

O Correio do Norte, repetindo o estilo adjetivista do Barriga Verde quando da morte de Faury, tratou Adolar como “mártir inocente da calúnia, da intriga e da mentira”. “Estava Adolar em mangas de camisa, completamente desarmado, debruçado na porta do carro do sr Rodolfo Bayerl, combinando uma viagem para o dia seguinte, quando foi violentamente empurrado e atirado a queima-roupa por Francisco de Lima, mais conhecido como Chiquinho, sem ter tempo para esboçar um gesto sequer de defesa”, relatou o Correio do Norte, atribuindo até mesmo a bíblica frase “Eles não sabem o que fazem” como a última de Adolar. Francisco foi preso depois de passar dias escondido na casa de um parente. Julgado, cumpriu vários anos de pena.

 

 

 

“A morte de Adolar é uma nódoa que ficará para sempre gravada, em letras de sangue inocente, nas páginas da história de Canoinhas”, escreveu o Correio do Norte. O Barriga Verde não tinha dúvida disso também, mas em relação à morte de Faury. A julgar pelo fato de 65 anos depois estarmos recordando essa história, eles tinham razão.

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