Há um ano, Canoinhas parava com bloqueio da BR-280 por caminhoneiros

Por uma semana caminhoneiros obstruíram o acesso a Canoinhas pela rodovia BR-280

 

 

 

R$ 34 milhões. Esse foi o prejuízo que a economia canoinhense teve com a greve dos caminhoneiros, que nesta semana completa um ano, segundo o assessor de Relações Institucionais da Fecomércio, Elder Arceno, em fala na Câmara de Vereadores de Canoinhas no ano passado. Por nove dias, o trânsito pela BR-280 foi obstruído em três pontos. A maior concentração se deu no trevo das concessionárias Fiat, Autoshow Chevrolet e Ford, no acesso à Canoinhas pela rodovia. O JMais acompanhou diariamente a evolução da greve, eco de um movimento nacional, que assustou as autoridades e chamou a atenção para a importância dos caminhoneiros. Literalmente, o País parou.

 

 

 

Os primeiros motoristas começaram a chegar no dia 22 de maio. Já no dia 23, havia bloqueio total para caminhoneiros em Canoinhas, Mafra, Porto União e Irineópolis. Neste dia aconteceu a primeira reunião do Grupo de Operações Coordenadas (Grac) no Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd), sediado em Canoinhas.

 

Greve dos caminhoneiros em Canoinhas em maio do ano passado/Arquivo

 

Edson Antocheski, que coordenou a Defesa Civil durante a greve na região, lembra que no começo houve apoio maciço da população ao movimento, inclusive levando comida para os caminhoneiros grevistas.

 

 

 

No dia 25, representantes do movimento de caminhoneiros se reuniram com o Grac e disseram que nada mudaria com o anúncio do Governo Federal de que os militares poderiam intervir no conflito, dispersando os pontos de bloqueio. “Não concordamos com o que o governo ofereceu como proposta e vamos continuar o movimento, até porque não existem pontos de bloqueio como ele (Temer) falou, aqui em Canoinhas”, garantiu o caminhoneiro Francisco Burgardt, um dos líderes do movimento à época.

 

 

 

A partir do posicionamento irredutível dos manifestantes, o Grac começou a criar estratégias para garantir o abastecimento de funções essenciais.

 

 

 

Antocheski lembra que houve um monitoramento constante e diário – inclusive no fim de semana – do movimento. “Foi feito um acordo com os grevistas para liberar um comboio de combustíveis para abastecer os veículos da segurança pública e das ambulâncias, transporte de médicos e enfermeiros para as unidades de saúde do interior”, conta.

 

 

 

Os grevistas reclamavam da desinformação provocada por supostos líderes da categoria, que chegaram a firmar acordo com o governo Temer. A despeito de qualquer negociação, eles se mantiveram irredutíveis nos pontos de bloqueio.

 

 

 

No dia 26, uma missa foi realizada em plena BR-280. Manifestantes se uniram aos caminhoneiros com bandeiras do Brasil nas costas, entoando o hino nacional. “O manifesto se tornou por um país melhor e não somente pela causa dos caminhoneiros”, diz Fabio Cisz, um dos manifestantes.

 

 

 

A partir do dia 27, uma segunda-feira, a mobilização começou a afetar serviços como a educação e a saúde em Canoinhas e região. Nos postos começou a faltar combustíveis, levando motoristas a filas quilométricas. Aulas foram canceladas e posto de saúde restringiram serviços. Nos supermercados imagens de prateleiras vazias começaram a circular em grupos de WhatsApp, principalmente prateleiras de leite e hortifrutigranjeiros. Começou a faltar gás de cozinha também. Barricas de leite eram jogadas em fossas sépticas no interior, o que também era registrado em imagens.O transporte público começou a ter horários restringidos.

 

 

 

A situação foi ficando cada vez mais preocupante e no dia 29, a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDLs) de Santa Catarina, que inicialmente apoiou o movimento, pediu o fim da greve. Neste mesmo dia, os postos de saúde de Canoinhas fecharam as portas. O Hospital Santa Cruz suspendeu as cirurgias eletivas e anunciou que começavam a faltar medicamentos para ações emergenciais.

 

 

 

No dia 30 de maio, com o enfraquecimento do movimento em todo o País e a iminente intervenção militar a mando do Governo, os manifestantes na BR-280 encerraram o bloqueio. Em coletiva de imprensa eles afirmam que a luta continua. Entre as reivindicações que a categoria mantém e que não foram contempladas no acordo para o fim do movimento, eles citam a aprovação de projetos de lei relacionados à regulamentação do transporte de cargas e à remuneração mínima de frete. “É chegado o momento de entender que nossos objetivos não foram atendidos na plenitude, mas conseguimos alguma coisa. Conseguimos uma trégua de 60 dias nos preços, e isso é uma conquista importante para caminhoneiros, para a sociedade. Mas se, após esse período, houver oneração novamente de preço de forma desordenada pela política adotada pela Petrobras, certamente os movimentos vão começar novamente”, expressou Burgadt.

 

 

 

Debaixo de uma bandeira imensa do Brasil, eles fotografaram para mostrar que seguem unidos. Um deles chorava com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida nas mãos.

 

 

 

 

PREJUÍZOS

 

Carlos Burigo, presidente do Sindilojas, que congrega o comércio de Canoinhas e região, lembra que o prejuízo econômico para Canoinhas foi ainda maior porque somou os feriados de 1º e 3 de maio. “As manifestações da população são justas e necessárias em um país democrático, demonstrando à classe política a insatisfação e a incredulidade da população neste sistema corrompido e corrupto em que vivemos , tanto que a greve e as manifestações tiveram um efeito devastador nas eleições passadas, passando a limpo a classe política”, lembra.

 

 

 

 

Para Burigo, neste momento.as forças políticas ao invés de se unirem para o crescimento do país digladiam em brigas internas, “ colocando os interesses pessoais e partidários acima do interesse público e econômico”. Há um movimento que ameaça retomar as estradas do País se as reivindicações dos caminhoneiros não forem atendidas. Nesta sexta-feira, 31, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) chegou de surpresa em um restaurante de beira de estrada e almoçou com cerca de 30 caminhoneiros. O objetivo foi amenizar a tensão entre eles e o governo.

 

 

“Há uma preocupação hoje também e isso causa um impacto bastante significativo. Eles (os caminhoneiros) podem provocar a falta de alimentação para a população. Por isso há um monitoramento constante da categoria”, explica Antocheski.

 

 

 

CRONOLOGIA DA CRISE

21/05

* Começam as primeiras paralisações motivadas pela disparada no preço do diesel.

 

 

22/05

* Aumenta o número de bloqueios nos Estados. Primeiros reflexos no abastecimento começam a surgir. Em Canoinhas, caminhoneiros bloqueiam a BR-280.

 

 

23/05

* Petrobras reage e anuncia mexe no preço do diesel. Baixa de 10% no combustível é divulgada, assim como congelamento dos preços. Protestos seguem e atingem praticamente todos os Estados.

 

 

24/05

* Aumenta o impacto à população. Diminui oferta do transporte coletivo, há filas em postos de combustível e voos são ameaçados. Reivindicações do movimento, que eram baseadas em demandas da categoria, passaram a falar em anticorrupção. Governo anuncia negociações, mas um acordo é rejeitado.

 

 

25/05

* Michel Temer publica decreto dando poder de polícia para as Forças Armadas visando à ação para garantir a distribuição de combustivel, desbloqueando rodovias.

 

 

 

26/05

* Governo aposta na normalização da situação. Em diversas cidades brasileiras cargas são transportadas com escolta.

 

 

 

27/05

* Associação Brasileira dos Caminhoneiros assina acordo com o governo para por fim às paralisações de autônomos. No entanto, a greve continua.

 

 

 

28/05

* Desabastecimento se agrava. Governo desconfia que grupos políticos estejam infiltrados nos movimentos. SC é o terceiro Estado com mais bloqueios, perdendo para Rio Grande do Sule Paraná.

 

 

 

29/05

* Greve perde força no país, mas trechos importantes para o abastecimento do Estado seguem bloqueados. Polícia faz ações para desbloquear as estradas.

 

 

 

30/05

* Polícia desmobiliza bloqueios nas rodovias federais.

 

 

 

31/05

* Com desbloqueio nas rodovias, centrais de abastecimento comçam a receber mantimentos.

Rolar para cima