Leia a homenagem da colunista Adaír Dittrich
Hospital Santa Cruz – 75 anos de história
Foto: Inauguração do HSC, em 7 de março de 1939Sete de Março de 1939.
Após vinte anos o dia mágico de um sonho tornado realidade, o dia mágico em que um sonho, enfim, concreto se tornasse. De tijolo em tijolo. De tostão em tostão. De rifa após rifa. De pequenas festas beneficentes a grandes festas em prol da construção daquele sonho.
Centenas de quilômetros percorridos em troles e charretes puxados a cavalo, em trens, a pé, cobrindo todas as áreas que pertenciam ao que era então o município de Canoinhas, a fim de angariar os brindes, as dádivas, os óbolos.
Diante de uma comunidade intrigada e desconfiada Thereza Gobbi jamais mediu esforços para que fosse concretizado o sonho de se construir em Canoinhas um Hospital.
Foi a terrível visão de um ferroviário que teve seus membros inferiores arrebentados sob as rodas de um trem que manobrava na estação de Marcílio Dias o impulso inicial na alma de Pedro Gobbi Filho, seu filho, para que se iniciasse a campanha.
O acidentado foi, ali mesmo, no pátio da estação, socorrido por Thereza Gobbi que, de tiras de um lençol fez ataduras que ajudassem na estagnação do sangue. Com outros lençóis foi feita a improvisada maca que o levaria num vagão de carga para o socorro distante que seria somente em Curitiba.
Foram vinte anos de trabalho por parte de Thereza Gobbi e de suas amigas e amigos, para que o Santa Cruz fosse erguido.
Por longos anos o trabalho pareceu ficar estagnado, por desilusão da difícil empreitada, por ter poucas pessoas ajudando, pelo povo ver, enfim, que o Hospital não saía das chamadas para as festas e rifas.
Mas a desilusão maior foi ver que o dinheiro arrecadado foi perdendo seu valor frente a uma desvalorização de nossa antiga moeda.
Foi após a morte de meu tio Pedrinho, em 1932, que Thereza Gobbi reiniciou a campanha.
Em uma carta enviada em 1944 para o Conde Francisco Matarazzo Junior ela escreveu:
“Estou nesta luta desde o ano de 1919. Comecei eu com as minhas jóias que eu trouxe da Itália para dar o início ao Hospital (que ela escrevia sem H). Apesar de pequeno o lugar onde moro, encontrei gente boa e muitas Senhoras amigas e abnegadas que muito trabalharam junto comigo para este fim.”
“Neste Hospital falta muita coisa ainda, como ferramentas para operações. Tomo liberdade de lhe pedir esse óbolo em memória de seu pai o Conde Francesco Matarazzo, cujo livro que narra a história de sua vida eu li e vi quanto bem o senhor seu pai fez em vida.”
Perguntas mil, inquirições maldosas, a obra, enfim, erguida estava e a fita inaugural sendo cortada a frente de extasiados e compenetrados olhares, por Nereu Ramos, então Interventor do Estado.
Construir um Hospital é uma coisa. Mantê-lo atuante é outra. Lembro que minha Nonna vinha semanalmente a Canoinhas para, de perto, ver as coisas lá dentro. Ela mesma, ajudada por minha mãe, costurava os lençóis para os leitos dos pacientes e a roupa que seria usada na sala de operações. Operação era o termo usado e não cirurgia, como hoje.
Inicialmente Thereza queria que o Hospital fosse construído no alto de um morro entre Marcílio Dias e Canoinhas, situado a uns três quilômetros do centro da cidade. Era o terreno que ela tinha e se propunha a doar. Mas, devido à distância a comissão gostaria que ficasse na cidade. E onde e como comprar? Não foi preciso. O senhor Victor Soares de Carvalho fez a doação de um terreno seu que é onde se encontra nosso Santa Cruz.
Hoje, lá está a nossa casa de atender aos nossos pacientes, altaneira, com milhares de metros acrescentados ao projeto inicial e com milhares de pacientes atendidos em seus leitos, um marco sem dúvida no progresso de Canoinhas!