Incra afirma que desconhece invasão do MST em Valinhos

Foto: Vista aérea do acampamento/Divulgação

Com Fábio Rodrigues, do CN

Há alguns metros do acesso à localidade de Felipe Schmidt, na BR-280, dezenas de barracas foram montadas em um novo acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A área, de 500 hectares, segundo o integrante do MST, Elias Ribeiro, é sequência do acampamento que já existe do outro lado da rodovia. “A área não está definida ainda para o assentamento. Nosso objetivo é que fique tudo em uma área só”, diz.

Nesta quarta-feira, 11, o CN visitou o acampamento do MST. Cerca de cem famílias estão na área. Alguns integrantes do Movimento trabalham e retornam às barracas apenas à noite. “Nós determinamos uma organização. Todos os que estão aqui têm a inscrição avaliada. Precisam apresentar uma carta da Justiça, para ver se tem processo, CPF, RG. Não é qualquer um que pode entrar no assentamento”, afirma Ribeiro.

Segundo ele, a documentação serve como garantia de que não haverá problemas no acampamento. “Não somos bandidos e nem queremos que pensem isso de nós. Nosso pessoal quer trabalhar.”

De acordo com Ribeiro, a área ocupada pelo Movimento não tem documentação e, por isso, foi apontada pelo Incra ao MST. “Quem tem acesso à documentação é o Incra. Talvez a área correta não seja aqui, mas o Incra vai dizer”, explica.

Os integrantes do MST aguardam as negociações. “O juiz agrário deve vir aqui na próxima semana. Esperamos que a área não tenha documento mesmo. Queremos a terra para plantar e vender na barraca de produtos orgânicos”, conta, indicando o ponto de venda das produções do Movimento. “O próprio arrendatário desse terreno disse que aqui não tem documento.”

Ribeiro ainda comenta que as famílias que estão no acampamento são da região, principalmente, de Felipe Schmidt e Irineópolis. “Os moradores mais antigos dizem que foram expulsos daqui, que ajudaram a plantar grama nesses terrenos. Eles, inclusive, estão acampados aqui, porque sabem como foi o processo dessa área.”

 

DISPUTA DE TERRA

A assessoria de imprensa do Incra em Santa Catarina respondeu ao questionamento do CN por telefone, afirmando que o órgão desconhece a invasão em Valinhos.

Texto enviado pela própria assessoria, em janeiro deste ano, e publicado pelo CN, mostra que 29,4 hectares de terras em Felipe Schmidt haviam sido transferidos pela União ao Incra para assentamento de famílias sem-terra. A área hoje ocupada, no entanto, fica em Valinhos, ao lado de Felipe Schmidt. O Incra não soube informar se os acampados confundiram a localidade.

A assessoria diz, no entanto, que o Incra foi convidado a participar de uma vistoria na próxima quinta-feira, 19, no local do acampamento. No dia 27 haverá uma audiência com o juiz agrário no Fórum de Canoinhas, a fim de discutir a questão. O Incra deve participar dessa audiência também.

De acordo com a advogada Mônica Krauss, que representa a família Tomasi, proprietária legal da área, a área é produtiva.  Ela diz aguardar um posicionamento da Justiça a fim de resolver a questão.

A família Tomasi aguarda há anos uma definição sobre outra área, na margem oposta da rodovia BR-280. Em abril de 2007, cerca de 250 famílias tomaram a posse da área, criando o maior acampamento sem-terra do Estado. A disputa segue há oito anos na Justiça. Os acampados dizem que as terras pertencem à União e haviam sido expropriadas pela família Tomasi, proprietária legal da área. Os Tomasi, que moram em Porto União, mas têm a propriedade legal de uma vasta área de terras na região de Valinhos e Irineópolis, afirmam que as terras nunca foram da União e apresentam documentos que comprovam a posse. A decisão sobre a propriedade está nas mãos do juiz agrário que, até o momento, depois de sucessivas audiências, não tomou decisão.

 

TERRA LIVRE

O acampamento Terra Livre nasceu da expulsão de cerca de 250 famílias das áreas reclamadas pelo Exército em Papanduva. A vasta área de 10,5 mil hectares de terras se estende até Três Barras, onde o Exército mantém o Campo de Instruções Marechal Hermes.

A ocupação desta área em Papanduva se deu como forma de denúncia pela utilização de terras da União para produção de soja e criação de gado, numa área que deveria ser utilizada como Campo de Manobra do Exército brasileiro, segundo o MST.

Depois da ocupação em abril de 2007 o acampamento Terra Livre mudou de local duas vezes. Ficou em Irineópolis por quatro meses e desde outubro de 2007 está na localidade de Valinhos.

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