Leia análise de Tony Goes
Aconteceu o impensável. O Datafolha chegou a arriscar no sábado que o candidato do PSDB estava se aproximando de uma vitória no primeiro turno, mas o resultado final pegou todo mundo de surpresa. Tão chocante quanto é saber que João Doria venceu em 56 das 58 seções eleitorais de São Paulo – nas outras duas, no extremo sul do município, venceu Marta Suplicy. A imagem de playboy difundida pelas redes sociais não pegou no mundo real. O povão gosta de um candidato que ostenta riqueza, desde que pareça que fará alguma coisa – um truísmo descoberto por Evita Perón e explorado pela própria Marta.
Que deve ter encerrado de uma vez por todas suas pretensões à Prefeitura de SP: amargou o quarto lugar em sua terceira derrota na briga pelo cargo, e terá 75 anos na próxima eleição. Melhor se consolidar no Senado. Celso Russomanno também não deve voltar ao páreo, depois de repetir o script de 2012: arrancou em primeiro com folga, só para desidratar na reta final. Bonito mesmo fez Fernando Haddad, mas nem tanto. Os pouco mais de 16% que conquistou se devem ao esforço da militância, e ele alcançou a pontuação mínima para liderar a renovação do PT.
Teria emplacado com brio uma passagem para o segundo turno, não fosse o rolo compressor de João Doria. Os próximos dias serão cheios de análises de cientistas políticos, tentando entender o que se passou em São Paulo. Claro que o tempo maior no horário eleitoral pesou, claro que a estratégia de pintar o double coxinha royal deluxe como não-político colou. Doria tem muitos pontos em comum com Donald Trump: trombeteia ser um empresário de sucesso muito maior do que de fato é, apresentou “O Aprendiz” e tem propostas que trazem a barbárie de volta, como o aumento do limite de velocidade nas marginais. Pelo menos não é uma metralhadora de ofensas. No mais, eu confirmei minha reputação de pé-frio: como sempre aconteceu desde que comecei este blog, NENHUM dos candidatos que eu apoiei foi eleito. João Junior e Todd Tomorrow não ficaram nem entre os mais votados de seus partidos, respectivamente no Rio e em SP.
Por aqui a eleição já foi encerrada, mas na minha terra natal a disputa ainda promete emoções. Foi um alívio e uma angústia ver Marcelo Freixo passar para o segundo turno carioca: o cara é realmente uma figura do bem, mas será que consegue derrotar o bispo Crivella? A direita somou muito mais votos do que a esquerda por lá. Freixo terá que seduzir os eleitores do centro, os que votaram em Osório e Índio da Costa, ao invés de chutar a canela de todos. Acho que esta foi a primeira eleição que refletiu o processo iniciado pelas manifestações de 2013, pois aconteceu em plena crise eco nômica e política.
Não digo que o país que emerge dessas urnas seja definitivo: o momento ainda é de transição, e só em 2018 teremos uma noção mais clara do que é este novo Brasil. Mas já dá para dizer que a era pós-Lula finalmente começou.