Série é sob medida para quem está entediado com mesmice
OUSADIA
A profusão de séries que chegam ao Brasil por meio do streaming (mais de 400 por ano) é um deleite e tem muita coisa boa, mas é bem fácil de encontrar histórias muito semelhantes. Quem está cansado da mesmice, Lovecraft Country é uma ótima pedida. A série encerrada recentemente na HBO (disponível na HBO GO) é um choque de inovação.
A história, contada de maneira não linear, subverte gêneros, ridiculariza convenções e estimula a criatividade. A série é inspirada na obra de H.P. Lovecraft, um dos autores que ajudaram a moldar o gênero terror. Seus contos imaginativos atravessaram gerações, e inspiraram cineastas icônicos como John Carpenter (Enigma de Outro Mundo) e Stuart Gordon (Re-Animator). Contudo, poucos sabem que o escritor era abertamente racista. Basta pesquisar, e em cinco minutos, você verá declarações terríveis do artista.
Pois é justamente essa face nada elogiosa de H.P. Lovecraft que a série ironiza, ao empoderar personagens negros que enfrentam o verdadeiro terror dos anos 1950: brancos psicopatas que viam no racismo a forma de extravasar seu instinto assassino.
Os monstros grotescos inventados por Lovecraft fazem pano de fundo para questões muito maiores, que infelizmente seguem atuais. Na trama, Atticus (Jonathan Majors) embarca em uma viagem pelos Estados Unidos para solucionar o desaparecimento do pai. Na época, os negros percorriam o país com a ajuda de um guia chamado Green Book (lembram do filme que ganhou o Oscar principal do ano passado?), que indicava estradas e locais seguros para a comunidade afro-americana. Ao lado de Leti (Jurnee Smollett) e George (Courtney Vance), Atticus enfrenta situações humilhantes pela cor de sua pele, mas o que acontece na sequência das humilhações é redentor, ao melhor estilo Tarantino. A redenção é só o começo de uma história fantástica, cheia de reviravoltas e personagens marcantes. Vale cada segundo.