Menino que teve morte causada por tijoladas na cabeça tem órgãos doados

Johnny Anderson de Almeida tinha 21 anos de idade

 

A morte cerebral de Johnny Anderson de Almeida, 21 anos, constatada na madrugada de quinta-feira, 12, devolveu a esperança a pelo menos cinco pessoas. Abordados pela equipe de transplantes do Hospital Santa Cruz de Canoinhas (HSCC), os pais do menino concordaram em doar os órgãos saudáveis dele. Dessa forma, uma equipe especializada em explante se deslocou rapidamente de Blumenau a Canoinhas e, perto do meio-dia de quinta começou o explante, ou seja, a retirada dos órgãos. “Após  a família dizer sim a doação a central de transplantes é comunicada, que organiza a busca no sistema nacional por receptores compatíveis que aguardam na fila por um transplante. Fatores como tipo sanguíneo, tamanho, peso, idade e comorbidades impactam na viabilidade”, explica a coordenadora de Transplante do Hospital Santa Cruz, Karin Adur.

 

Johnny tinha 21 anos/Reprodução/Facebook

 

O bem que Johnny fez foi imensurável. Suas córneas foram para Joinville, o fígado para Curitiba e os rins e pâncreas para Blumenau. Os transplantes foram feitos menos de 12 horas depois, tempo máximo para os órgãos ficarem fora do corpo humano. Para agilizar o processo, um avião do Estado pousou no aeroporto de Três Barras para levar a equipe coordenada pelo dr Andrew Massutti e os órgãos para Blumenau. Antes a equipe deixou as córneas no Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, de Joinville. Uma equipe médica de Curitiba veio especialmente para levar o fígado.

 

 

 

 

 

PROCESSO

Karin destaca a importância de se deixar a família avisada de que você é um doador de órgãos. Apenas parentes de primeiro grau podem tomar a decisão. “Não adianta mais deixar isso registrado na carteira de identidade, se a família não consentir depois de decretada a morte encefálica, não tem como fazer o explante”, explica.

A enfermeira frisa que o processo para se decretar a morte encefálica é bastante rigoroso, passando por três exames (dois clínicos e um de imagem) diferentes e atestada por três médicos. “Isso nos dá segurança no processo. Somente após o último exame, de imagem, quando se constata que não há mais atividade cerebral, é que se confirma a morte cerebral. Por lei, não podemos manter os suportes de vida quando a morte encefálica foi constatada”, explica.

 

 

 

Karin ressalta que a doação de órgãos não altera a aparência do doador, que pode ser velado normalmente, com o caixão aberto, assim como aconteceu com o apresentador de TV Gugu Liberato, exemplifica. “Estruturas artificiais sustentam o corpo para que ossos retirados não façam falta”, acrescenta. 

 

 

 

 

Este foi o nono explante no HSCC desde que a Coordenadoria de Transplantes foi criada, o segundo neste ano.

 

Equipe que trabalhou no explante

 

 

 

 

A conscientização da importância de ser um doador de órgãos tem surtido efeitos, embora ainda exista muita gente na fila de espera. No ano passado eram 523 somente em Santa Catarina, número alto, mas bem menor que os 1.688 de 2010. No total, no ano passado, segundo a SC Transplantes, foram realizados 1.217 transplantes em SC, número bem maior que os 654 de 2008.

 

 

 

 

CONSOLO

Johnny teve uma morte trágica. Ele foi atacado por dois desafetos que desferiram várias tijoladas na cabeça dele no final de semana passado. Atendido pelos bombeiros desacordado, ele foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Cruz, onde teve a morte cerebral confirmada na quinta. 

 

 

 

O pai dele, Moacir de Almeida, ainda inconformado com a morte do filho, vê a doação como uma espécie de consolo. “A gente para e pensa se acaso fosse meu filho que precisasse (de um órgão) para sobreviver, eu ficaria muito feliz se tivesse um doador, e agradeceria para sempre. A gente sabe que o corpo vai para debaixo da terra e vai se decompor dali uns dias, então é uma forma de saber que o filho da gente não morreu em vão. Saber que os órgãos não estão apodrecendo na terra, estão fazendo outra família feliz. A alma dele, onde estiver, está feliz também”, disse.

 

 

 

 

Evolução no número de transplantes em SC

2018: 1.217

 

2017: 1.217

 

2016: 1.286

 

2015: 1.332

 

2014: 1.386

 

2013: 1.175

 

2012: 1.035

 

2011: 1.015

 

2010: 969

 

2009: 883

 

2008: 654

 

 

 

 

Total de pacientes em lista de espera em SC

2018: 523

 

2017: 555

 

2016: 505

 

2015: 611

 

2014: 833

 

2013: 1.149

 

2012: 1.339

 

2011: 1.191

 

2010: 1.688

 

Fonte: SC Transplantes

 

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