Entidades de comunicação divulgam notas de repúdio
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, 8, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, fez críticas a cobertura da imprensa no escândalo provocado pela compra de 200 respiradores ao custo de R$ 33 milhões.
Uma reportagem do site The Intercept Brasil, apontou possíveis irregularidades na compra destes equipamentos que custaram R$ 33 milhões. A polêmica resultou no pedido de exoneração do então secretário de Estado da Saúde, Helton de Souza Zeferino.
Na coletiva, Carlos Moisés não chegou a citar um veículo ou jornalista, mas falou na “exposição excessiva” na divulgação de possíveis responsáveis, além de dizer que “o jornalismo tem que ser rediscutido”.
Moisés definiu como uma cobertura excessiva e a necessidade de apurar os fatos antes de qualquer julgamento. “Eu particularmente acho que há uma exposição excessiva de casos que levam a julgamento popular e daqui a um tempo nós vamos ver se há prejuízo ao erário público, quem provocou, e aí sim vão ser apontadas as pessoas que de fato agiram. Eu não tenho nenhuma dúvida de que há precipitações”, disse.
Na manhã deste sábado, 9, quando 35 mandados de busca e apreensão eram cumpridos e bens eram apreendidos, Moisés soltou uma nota afirmando que “em momento algum propus cercear a liberdade de expressão de empresas ou de jornalistas”:
“Quando discutimos respeito e ética no jornalismo profissional percebemos o quanto
ele representa como fonte de informação confiável que se traduz em pilar da
democracia, agindo em prol da sociedade, tendo, dentre outros, o compromisso com
o interesse público.
Veículos de imprensa, seus colaboradores e jornalistas são a voz dos desvalidos,
são as pontes para a correção de injustiças e irregularidades, inclusive no poder
público, pois descortinam o que nem sempre está às claras, investigam e promovem
a justiça.
Enquanto cidadão ou homem público sempre me pautei pelo absoluto respeito à
imprensa e aos seus profissionais.
De outra via, não posso me calar enquanto assisto uma parcela de profissionais que
busca dar respostas a fatos que ainda são objeto de investigação não madura ou
conclusiva, emitindo pré-julgamentos, afirmando na dúvida, induzindo a opinião
pública a conclusões precipitadas.
Em momento algum propus cercear a liberdade de expressão de empresas ou de
jornalistas. Minha fala se refere a um grupo diminuto que se utiliza do mais
importante instrumento democrático – o jornalismo – para, de maneira parcial,
manchar a reputação de pessoas ou instituições sem lhes permitir o direito ao
contraditório e à preservação da imagem. O abandono da prudência e da espera
pelo avanço ou conclusão de investigações causa, injustamente, prejuízo moral
irrecuperável, incita o ódio numa sociedade tão carente de propósitos e de
esperança em dias melhores.
O apelo aos empresários, que também ajudam a manter o sistema de comunicação,
é no sentido de reconhecer a legitimidade dos mesmos a participarem da discussão
deste modelo carcomido e irresponsável, insistentemente utilizado por uma minoria,
mas que tem o poder de causar profundos e irreparáveis estragos nas vidas de
muitas pessoas.
Seguirei firme na proteção da vida dos catarinenses em meio à pandemia, não
tendo compromisso com o erro.”
CONTRAPONTO
A Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert) divulgou uma nota de repúdio as declarações do governador. A entidade enfatiza o compromisso dos veículos de comunicação de Santa Catarina na cobertura da pandemia da covid-19.
Nota de Repúdio
A Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão- ACAERT repudia as declarações feitas hoje pelo Governador Carlos Moisés da Silva durante um evento transmitido ao vivo para empresários em nível nacional.
Durante o evento, Carlos Moisés da Silva insinuou que a imprensa catarinense deveria ser cerceada através da pressão de empresários, na condição de anunciantes dos veículos de comunicação, em torno do que ele considera um “jornalismo decente”.
A ACAERT considera que esse tipo de manifestação demonstra, por parte do governante, um total desconhecimento do papel da imprensa, que tem a obrigação de divulgar toda e qualquer informação que for de interesse público e para o bem da sociedade.
Reforçamos ainda que o segmento não mediu esforços, desde o início da pandemia, para levar a informação precisa aos catarinenses, reforçando os protocolos de segurança das autoridades de saúde e dando ampla divulgação, principalmente, aos esforços do Governo do Estado no combate à COVID-19, que teve horas exposição na programação das principais emissoras de Santa Catarina.
Nos surpreende, portanto, o conteúdo dessas declarações pelo tom de ameaça e as insinuações autoritárias, uma vez que o próprio mandatário elogiou e agradeceu publicamente por diversas vezes em coletivas de imprensa a cobertura profissional que vem sendo feita pelos mesmos veículos que hoje ele pede que sejam responsabilizados por fazerem justamente aquilo que lhes é de obrigação, informar a população.
Esperamos que prevaleça o respeito com o segmento da comunicação e com a democracia, na qual a liberdade de imprensa é um direito inegociável e não pode sofrer qualquer tipo de pressão ou insinuação por parte de quem quer que seja. Como proferiu a suprema corte americana ao absolver os jornais que divulgaram documentos secretos: “A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”.
Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão – ACAERT
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) também se posicionou.
NOTA DE REPÚDIO
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) repudia as afirmações do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), que, nesta sexta-feira (8), durante debate virtual e após tecer críticas ao trabalho da imprensa, sugeriu que empresários do estado pressionem os meios de comunicação, usando a condição de anunciantes, em uma clara tentativa de cerceamento à imprensa livre, plural e independente.
É lamentável que o governador desconheça o real papel dos veículos de comunicação profissionais, que, principalmente em um momento de crise sanitária mundial, exercem a missão fundamental de informar a sociedade.
A ABERT lembra que a imprensa tem uma responsabilidade social na manutenção da democracia e da diversidade de opinião, e qualquer tentativa de coação é um ataque à liberdade de expressão.
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão