Aos 87 anos, morre ex-vereador de Canoinhas Alinor Pereira

Alinor foi eleito vereador por três vezes

 

 

Morreu na madrugada desta quinta-feira, 17, o ex-vereador de Canoinhas Alinor Pereira, aos 87 anos. Ele estava internado há uma semana no Hospital Santa Cruz de Canoinhas. Pereira deixa esposa, uma filha, um neto e três bisnetos.

 

 

 

Alinor foi eleito vereador por três vezes. Por dois anos foi presidente da Câmara de Vereadores. Na primeira vez, na década de 1970, nenhum dos vereadores era remunerado. As gestões remuneradas vieram somente depois do ano de 1975.

 

 

 

“Quando os vereadores não eram remunerados, parecia que as pessoas trabalhavam com mais vontade. Evitava os oportunistas”, disse em entrevista publicada no jornal Correio do Norte em 2006. Alinor acreditava, no entanto, que hoje, os vereadores têm mais liberdade. “Fui vereador na época da ditadura. Tínhamos medo dessa doença chamada ditadura”.

 

 

 

Seu corpo está sendo velado na Capela Mortuária São José. O sepultamento está marcado para às 16h, no Cemitério da localidade da Fartura.

 

 

 

 

 

 

LEIA ABAIXO, NA ÍNTEGRA, PERFIL DE ALINOR PUBLICADO NO JORNAL CORREIO DO NORTE EM 2006

 

A conversa com Alinor Pereira, 74 anos, foi fácil. De fala clara e concisa, Alinor abre a guarda logo de cara, ao dizer que é fã do CN desde 1950, quando servia o Exército e pedia a um padrinho que o enviasse o jornal, por meio de trens, para Curitiba. “Era a forma que tinha para me manter informado sobre o que acontecia em Canoinhas”, conta.

 

 

 

 

Alinor faz parte da imensa família Pereira. Primo em terceiro grau de outros dois Pereira famosos – Alenir e Acássio – e até mesmo do onipresente Francisco de Paula Pereira, fundador da vila que originou a cidade de Canoinhas.

 

 

 

Alinor explica que a ramificação dos Pereira que pertencia a sua família, desembarcou por essas terras por volta de 1880. Eles vinham de Campo Alegre e se fixaram no território conhecido hoje por Fartura. Seu avô, Joaquim Pereira, comprou as terras, hoje pertencentes a Alfredo Kohler e começou a plantar para garantir sua sobrevivência. Na Fartura, conheceu a mulher com quem casaria – da família Borges.

 

 

 

 

O pai de Alinor nasceu na Fartura. Romalino seguiu a tradição da família e continuou trabalhando na lavoura.

 

 

“Era uma época mais fácil de se viver. A terra era barata”, recorda Alinor, contando que certa vez lembra que faltou leite para uma família. Para resolver a carência, eles deram nada mais do que dois alqueires de terras em troca de uma vaca leiteira. “Na época, uma vaca não valia quase nada, assim como a terra”, sentencia.

 

 

 

 

 

 

NO TEMPO DOS JAGUNÇOS

Alinor diz que ouviu diversas histórias sobre a época da Guerra do Contestado (1912-1915). “Minha família sofreu muito. Meu pai andava com a boca inchada de tanto levar tapas do meu pai, para parar de chorar, evitando chamar a atenção dos jagunços”.

 

 

 

Assim como muitas famílias interioranas, os Pereira se refugiaram no centro da cidade, fugindo da fúria dos jagunços. No entanto, o que deixaram foi destruído.

 

 

 

Quando voltavam para suas terras, encontravam sua casa e seus materiais de trabalho, todos queimados. “Sem contar que se você não concordasse com eles, te matavam”, conta se referindo aos jagunços.

 

 

 

 

 

QUEBRA DE TRADIÇÃO

Alinor nasceu em 1931. Por anos, trabalhou com os pais na lavoura. Mas quando foi para Curitiba cumprir o serviço militar, conheceu um novo mundo. “Um rapaz novo, como eu era na época, quando vai para a cidade grande, volta com outra cabeça”. Essa nova visão deu a Alinor a idéia de montar um comércio. Foi desse comércio que, por 35 anos, Alinor tirou seu sustento. “Mas não deixei a lavoura, ainda tenho minhas plantações na Fartura”, frisa.

 

 

 

 

VEREANÇA

Alinor foi eleito vereador por três vezes. Por dois anos foi presidente da Câmara de Vereadores. Na primeira vez, na década de 1970, Alinor conta que nenhum dos vereadores era remunerado. As gestões remuneradas vieram somente depois do ano de 1975.

 

 

 

Sobre o alto salário que os vereadores recebem hoje (R$ 4,8 mil), ele acha demais. “Dois mil e quinhentos já estava bom”, avalia. E vai além – “Quando os vereadores não eram remunerados, parecia que as pessoas trabalhavam com mais vontade. Evitava os oportunistas”. Mas Alinor acredita que hoje, os vereadores têm mais liberdade. “Fui vereador na época da ditadura. Tínhamos medo dessa doença chamada ditadura”.

 

 

 

 

 

Falando em política, pergunto a Alinor quem ele acha que foi o melhor prefeito da história de Canoinhas. Depois de um silêncio de pelo menos um minuto, Alinor sentencia – “Alfredo de Oliveira Garcindo abriu um caminho muito bonito, contudo ter sido cassado, foi um grande prefeito”. Garcindo, falecido há pouco mais de três anos, foi prefeito de Canoinhas na década de 1970.

 

 

 

LEMBRANÇAS

Alinor mora na rua Roberto Elke desde 1962. Ele lembra que por essa época, a estrada era péssima, de chão batido, e que a vizinhança era bem pouca. O bairro Jardim Esperança, praticamente terminava onde estava seu comércio. “Daqui pra lá era só mato”, conta.

 

 

O bairro foi crescendo quando justamente na gestão de Garcindo, foi feito o asfalto da Roberto Elke. Elke, por sinal, era o proprietário das terras que ficavam além do comércio de Alinor. Nessas terras, funcionava uma de suas serrarias e um barbaqual.

 

 

 

“Foi um homem bacana para Canoinhas, muito inteligente”, opina.

 

 

 

 

Para provar a inteligência de Elke, Alinor conta uma história bem peculiar. “Certa vez, um empregado do Robertão o levou para a Justiça, por um motivo que não me recordo. Como naquele tempo, rico sempre ganhava de pobre, os dois foram falar com o delegado e não houve acerto. Ao voltarem, o Robertão chegou no açougue do falecido Anastácio, (onde hoje está o Centro Comunitário da Cohab 1), e comprou cinco quilos de linguiça. Chegando em sua propriedade, amarrou o portão com aquela linguiça, sob o olhar atônito do empregado que lhe perguntou, incrédulo, o porquê de tal atitude. Ao que Robertão respondeu simplesmente, ‘Porque eu quero’. Na segunda conversa com o delegado, o empregado foi logo avisando – ‘Sei não delegado, mas o patrão tá louco, amarrou o portão com lingüiça’. Como Robertão já havia alertado o delegado de que o empregado gostava de mentir, foi logo rindo da situação e negando que fosse capaz de cometer tal despautério. Resultado: ganhou a demanda”.

 

 

 

 

Além de Elke, Alinor recorda de muitos outros grandes empresários que contribuíram de forma decisiva para o progresso da cidade como Jacob Fuck, João Abrahão Seleme, Alfredo Mayer, Irmãos Zugman, Jordan e Stein.

 

 

 

TRAGÉDIA EM FAMÍLIA

O tempo passou, mas Alinor parece não ter superado completamente a dor de ter perdido três filhos. A vida, por sinal, nem sempre foi boa para ele. Em 1975, quando voltava com o amigo e colega de vereança, José João Klempous (falecido neste ano), de uma reunião do PMDB, seu partido de coração, sofreu um acidente que lhe custou a visão do olho direito. Anos depois, passou dois anos de cama por problemas de saúde. “Há uns 10 anos, levo uma vida boa. Mas sofri muito nessa vida”, avalia.

 

 

 

 

 

PERDAS

Falando em perdas, Alinor recorda do amigo Neuzildo Borba Fernandes, morto no ano passado (2005), considerado por ele, o grande líder do PMDB em Canoinhas. “Neuzildo deixou uma grande lacuna na política canoinhense”, opina.

 

 

 

Sobre voltar à política, Alinor é enfático. “Aceitaria ser candidato a vereador somente se os vereadores voltassem a trabalhar sem remuneração. A política é um esporte, porque precisamos lucrar com o esporte”, questiona, deixando um enorme ponto de interrogação na cabeça de todos nós.

 

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