Maioria na população, as mulheres somam hoje 52% do eleitorado brasileiro segundo a Justiça Eleitoral
José Ernesto Wenningkamp Jr*
Chegado o período eleitoral iniciado no dia 5 deste mês, a representatividade da mulher na política começou a ganhar as manchetes dia após dia. Este ano o pleito de outubro será comandado por Rosa Weber, que assumiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no lugar de Luiz Fux. Essa é a segunda vez em mais de 70 anos de sua criação que o TSE vai ser comandado por uma mulher. Carmen Lucia chefiou o órgão em 2012.
Desde o ano de 2009, uma lei obriga que os partidos apresentem ao menos 30% de candidatas mulheres. Segundo dados do TSE, na última eleição, de cada dez candidatos que não receberam nenhum voto, nove eram mulheres. Muitas delas serviram como laranjas apenas para preencher a cota obrigatória.
A publicitária Gabriela Borges de Souza afirma que desde a sua primeira votação, sempre teve uma tendência em votar em mulheres, mas que sempre sentiu falta de uma presença ainda maior delas nas eleições. “Umas das coisas que implicam nessa falta de mulheres é a força que os partidos exercem em relação às candidaturas”. Giselle considera que a participação política é algo cotidiano e maior do que apenas eleger representantes. Para ela existem mulheres fazendo política em favor da justiça social. A publicitária lembra que as mulheres podem fazer coisas tão boas quantos os homens. “Elas ajudariam as mulheres a serem mais fortes, com projetos sociais, lembrando daqueles que são mais esquecidos pelos poderes públicos”.
São três as mulheres que entraram no pleito nacional deste ano, representando a região. Do lado paranaense dos trilhos Natalie Unterstel, nascida em Porto União, concorre pelo Podemos. Já na parte catarinense Norma Petermann Pereira (PSDB) e Adriana Dorneles Paz Kanamien (Novo) concorrem, respectivamente, por Canoinhas e Mafra na disputa pelo Congresso.

Norma Pereira já conhece a política mesmo que de forma municipal. Ela está no segundo mandato como vereadora do município. Para ela, as mulheres são um pouco avessas a participação em atividades políticas, porém afirma que como são a maioria no eleitorado possuem uma função importante na sociedade. “A sociedade cobra uma efetiva contribuição nas mudanças do comportamento na política e na condução dos interesses do País”.
Norma afirma que a participação feminina na política vem em um momento histórico que o País atravessa. A candidata ainda afirma que as mulheres já possuem um histórico de lutas, que começaram com o direito ao voto. “ O cenário político do nosso País pede por razoabilidade, rigidez, honestidade e sensibilidade , que as mulheres aplicam no seu dia a dia”.

Nascida em Porto União, mas moradora da capital paranaense, Natalie Untestel afirma que existe muito terrorismo para que as mulheres fiquem longe das eleições e decisões. Para ela, que faz parte do movimento Renova Brasil, um exemplo foi a aprovação da reforma política no ano passado. “As mulheres ficaram com um teto de 15% no fundo eleitoral, já os homens podem ter acesso a 100%, é importante quebrar este tipo de barreira artificialmente construída”.
Na história do Brasil apenas uma mulher chegou ao Palácio do Planalto. Natalie lembra que não basta apenas ter uma presidente ou dez congressistas, o número deve ser muito maior, sem haver espanto com isso. “As estatísticas indicam que uma maior participação feminina em governos resulta em melhor gestão e menor corrupção”.

Novata no meio político assim como o seu partido, Adriana Dorneles lembra, assim como Natalie, que a política feita pelas mulheres é menos corruptível e mais determinada. Publicado no Journal of Economic Behavior & Organization pelos pesquisadores Chandan Jha e Sudipta Sarangi, uma pesquisa feita em 125 países, incluindo o Brasil, concluiu que onde há mais mulheres participando do governo a corrupção e menor.
Adriana afirma ainda que a mulher apenas pela sua condição de gênero já enfrenta diversas dificuldades para ingressar na vida política. “As mulheres possuem jornada de trabalho dupla e até tripla, cuidam dos filhos, são casadas e ainda auxiliam na economia familiar”, afirma.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 104,772 milhões de habitantes são mulheres, sendo 51,6% da população. No estado do Paraná, segundo o TSE, podem ir às urnas em outubro 4.178.327 (52,42%) mulheres paranaenses. Já em solo catarinense estão aptas a irem as urnas 2.613.655 (51,55%) milhões de mulheres.
Desde o dia 5, com a homologação das candidaturas, o País possui hoje 13 candidatos a Presidência da República, destes apenas uma e mulher, Marina Silva (REDE). Há também em quatro chapas a candidatura a vice presidência de mulheres: Manuela d’Avila (PCdoB, reserva de Fernando Haddad na chapa com o PT), Katia Abreu (PDT), Ana Amélia (PP) e Sonia Guajajara (PSOL). O Ministério Público está investigando se a presença de mulheres como vice nas chapas de governadores e presidentes está servindo apenas como meio para os partidos se apresentarem igualitários.
A presença feminina na política é algo discutido há gerações. A professora de Filosofia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), Giselle Moura Schnoor, comenta que historicamente as mulheres foram educadas para a vida privada, mas que aos poucos conseguiram o direito ao voto e a serem votadas. “Não temos uma representatividade igualitária em cargos de poder e isso certamente reflete no perfil das ações desenvolvidas por instituições públicas e privadas”.
*José Ernesto Wenningkamp Jr é estagiário do blog Em Foca, estudante de Jornalismo da Uniuv