“Não existe ‘eu bem’ e os outros que se explodam”, diz Klempous

Assista a entrevista com José João Klempous, prefeito de Canoinhas por duas ocasiões

 

 

Para quem conversa pela primeira vez com José João Klempous, 77 anos, não é muito difícil descobrir porque ele foi eleito por duas vezes, prefeito de Canoinhas. A simpatia e o bom humor parecem ser indissociáveis da personalidade desse legítimo político que parece ter no humanismo seu principal trunfo.

 

 

Os pais de Klempous vieram da Europa. Miguel Klempous veio aos 17 anos da Polônia e Nathália Pontarolo veio ainda criança, aos sete anos, da Itália.

 

 

Os dois se conheceram, anos mais tarde, em Rio dos Poços, onde Miguel deu seqüência à tradição seguida até hoje por Klempous e seus filhos – o açougue da família.

 

 

A localidade canoinhense de Rio dos Poços já chegou a ter clima de cidade com cinema, cortume, moinhos, posto de combustíveis, açougue, além de ter a primeira linha de ônibus  até o centro da cidade (de propriedade de Antonio Moreschi), tudo proporcionado pela bem sustentada economia da localidade onde estava instalada a Madeireira Zaniolo.

 

 

“Era praticamente uma minicidade, que chegou a ter muito mais opções comerciais do que o centro de Canoinhas”, arrisca Klempous.

 

 

Essa época a que Klempous se refere era a década de 1930 e a prosperidade durou pouco. Quando a companhia de energia elétrica Canoinhas Força & Luz se instalou em Canoinhas, começou a oferecer incentivos por meio de descontos às empresas que se instalassem no Campo d’Água Verde. Foi para esse bairro que a Zaniolo se mudou na década de 1940 e onde permaneceu até entrar em concordata nos anos 1990.

 

 

A Zaniolo e muitos outros símbolos do progresso de Rio dos Poços veio para a cidade, deixando para trás áureos tempos que possibilitaram comparar Rio dos Poços a uma boa e confortável cidade.

 

 

A VINDA PARA A CIDADE

Junto com boa parte do comércio de Rio dos Poços, Miguel também trouxe a sua Casa Natal para o centro de Canoinhas. O nome “Casa Natal”, seria uma forma de eternizar o Brasil como sua nova terra e lembrar o compromisso que assumiu como meta de trazer toda sua família da Polônia para cá. Morreu precocemente, aos 45 anos, antes de conseguir cumprir a promessa.

 

 

Com a morte do pai, Klempous, aos 16 anos, se tornou o homem da casa. “Vinha da escola e corria trabalhar no açougue. Fazia a lição de casa, dez, 11 da noite”, e emenda “agradeço ao meu pai por ter me ensinado a trabalhar, hoje devo a ele e minha mãe o que sou”.

 

 

Foi em homenagem ao pai, aliás, que Klempous entrou na política. O pai sempre ansiou ser político, mas não podia por conta do fato de ser estrangeiro.

 

 

Klempous prometeu e cumpriu. Foi vereador em 1972 e prefeito por duas gestões. A primeira na década de 1980 e a segunda na década de 1990.

 

POLÍTICA

Falando em política é inevitável comentar sobre os oito anos que Klempous esteve à frente da Prefeitura de Canoinhas. Assim, ele logo vai desfiando um rosário de realizações que lhe orgulham muito. A instalação do Corpo de Bombeiros, médicos nas intendências e bairros, Clínica da Mulher e da Criança, gabinete odontológico móvel nas escolas, remoção de moradores das áreas alagadiças da cidade para o bairro Aparecida, Conselho Tutelar, asfalto que liga o bairro Aparecida ao Campo d’Água Verde, compra da Funploc, 65 novas escolas, são alguns feitos que Klempous destaca.

 

 

“Fiz obras que durarão décadas ou séculos. Nunca se foi feito tanto em tão pouco tempo”, afirma florescendo mais uma vez o espírito político que lhe é peculiar.

 

 

FESMATE

A ideia de se promover a Festa Nacional do Mate (Fesmate), nasceu de uma reunião convocada por Klempous em agosto de 1988. Klempous, no último ano de seu primeiro mandato à frente da Prefeitura, queria uma festa popular para comemorar os 77 anos do município. Representantes de entidades de classe e o secretariado de Klempous, compareceram em peso a reunião. “A ideia era de fechar ruas e construir barracas”, remontando ao estilo quermesse de festejar. Mas o empresário João Pedrassani teve uma ideia ousada. Como a Prefeitura tinha acabado de comprar o terreno onde hoje está o Parque de Exposições, João sugeriu que o terreno fosse limpo e um Parque fosse construído no local a fim de abrigar a festa e, obviamente, servir para exposições e eventos, posteriormente.

 

 

A ideia, que inicialmente foi considerada loucura já que se teria apenas 90 dias para aprontar o Parque, acabou sendo aprimorada e colocada em prática. Dois dias depois o então secretário da Administração, João Gonçalves Neto, e o então secretário de Obras, Orlando Krautler, viajavam para Caçador a fim de trazer a cópia da planta de um Parque de Exposições que a Prefeitura caçadorense havia recém-construído.

 

 

Com a planta embaixo do braço, os secretários iniciaram imediatamente a construção do Parque. Homens trabalhavam dia e noite nas obras. “Em ritmo acelerado foram licitadas e contratadas oito empresas. Em período recorde, o Parque foi inaugurado e pago”, afirma Klempous.

 

 

Na noite do dia 28 de outubro de 1988, homens ainda trabalhavam nos arremates do Parque. No dia 29, a 1.ª Fesmate começava com atrações que iam de feira de gados, festival de Bandas e Fanfarras a shows musicais como com o Conjunto Musical 2001, de Videira (SC).

 

 

A concepção da Fesmate, Klempous deve a seu “eficiente secretariado”, em especial a Elói Bona, Fernando Tokarski, Orlando Krautler, João Gonçalves Neto, Cacilda Riske Capanema e Lauro Muller. “Todos contribuíram de uma forma ou outra”, arremata.

 

 

Dentre as curiosidades da Fesmate, Klempous recorda da rifa de um carro, certa vez, que foi sorteado para uma pessoa que comprou um bloco inteiro da rifa e esqueceu de entregar o bloco preenchido. Por um mês, a organização da festa procurou o misterioso ganhador do veículo sem sucesso. A solução foi sortear o carro novamente e até hoje se especula quem foi o primeiro sorteado.

 

 

Sobre a trajetória da Fesmate, Klempous analisa, “o objetivo da Fesmate é mostrar o que temos de melhor. Com a queda da indústria ervateira essa vocação se perdeu, hoje valorizamos muito mais os shows nacionais; é preciso recuperar essa vocação”, fala com a autoridade de quem participou da organização de cinco Fesmates e que carrega consigo o orgulho de ter sido um dos pioneiros da festa.

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