Dado inicialmente como suicídio, perícia cogitou tratar-se de homicídio a partir de prova agora contestada
Nova reviravolta no caso do homem encontrado morto, baleado na cabeça, em Bela Vista do Toldo em agosto de 2013. Alcindo Reichardt, 71 anos, a princípio, teria atirado contra a própria cabeça enquanto a esposa dormia no quarto ao lado.
Essa versão, contestada pelos filhos de Alcindo, ficou sob questionamento com um laudo pericial assinado pelo perito aposentado do Instituto Geral de Perícias (IGP), Marco Antonio Bubniak, atestando que a bala que atingiu a cabeça de Alcindo era de calibre diferente da arma entrada na mão direita da vítima.
Agora, novo laudo da Polícia Civil contesta a versão do perito canoinhense. Segundo as conclusões de Bubniak, a bala encontrada no crânio de Alcindo em exumação realizada em 2016 seria de calibre 32. Já o revólver que estava na mão de Alcindo com um tiro deflagrado, seria de calibre 38. “Se fosse colocada uma bala de 32 no 38, poderia ter estourado na mão do atirador ou, se entrasse no crânio da vítima, não teria trajetória retilínea”, explicou Bubniak à época.
Agora, porém, novo laudo da Polícia Civil atesta que a bala é , de fato, de calibre 38, portanto, condizente com a arma encontrada na mão direita da vítima.
O JMais quis saber mais detalhes sobre o laudo, mas como o processo corre em segredo de Justiça, não conseguiu obter mais informações sobre o que muda no processo daqui em diante.
DÚVIDAS
O novo laudo é mais um capítulo na controversa investigação da morte de Alcindo. No dia 14 de agosto de 2013, sua esposa, Maria do Carmo Marczak Reichardt, 59 anos, foi dormir tarde. Ela e o marido dormiam em quartos separados por causa dos problemas de saúde de Cindo, como chama a viúva. “Jamais imaginava que ele fosse fazer o que fez”, afirmou Maria em entrevista ao JMais publicada em setembro de 2016.
Maria diz que só o viu, segundo ela, no dia seguinte, quando um dos filhos de Alcindo bateu em sua casa para avisar que a filha do casal estava internada no Hospital Santa Cruz se recuperando do parto de sua primeira filha. Ao abrir o quarto onde estava Alcindo, Maria diz que gritou e levou as mãos à cabeça: “Por que você foi fazer isso comigo?”, questionava ela ao ver o marido com a cabeça estourada por um tiro que entrou no seu ouvido e se alojou em seu crânio. Dali em diante, em choque Maria diz que de pouco se lembra. De uma coisa, no entanto, tem certeza: nenhum policial a questionou. Foi ouvida na Delegacia, dias depois, por iniciativa dela mesma, ainda de acordo com sua versão.
Bubniak esteve na casa somente dois dias depois. O responsável pela Delegacia de Bela Vista do Toldo, Deivid Mota, assinou o boletim de ocorrência apontando aparente suicídio, tese que sustenta até hoje. Os dois peritos do IGP foram chamados, mas não compareceram por estarem viajando. Como ninguém do IGP compareceu no local, o policial civil requereu exame de alcoolemia e toxicologia em função de Alcindo usar remédios controlados. O revólver, cujo porte Alcindo tinha, foi recolhido e encaminhado ao IGP.
As testemunhas começaram a ser ouvidas na semana seguinte. Sebastião Reichardt, filho de Alcindo e enteado de Maria, que encontrou o pai morto junto com a madrasta, disse que Maria demorou a atendê-lo. Quando o fez, o levou ao quarto do pai. Ele afirmou que não via motivos para o pai se matar, mas ressalvou que naquele dia o pai havia ido até um banco fazer um empréstimo para trocar de carro e descobriu que tinha uma dívida de R$ 12 mil contraída por um dos filhos tendo ele como avalista. Como o filho não pagou a conta, Alcindo não teve cadastro aprovado. Isso o teria deixado muito nervoso.
Maria, mais tarde, relataria que ele chegou a chorar por causa da situação, mas ele mesmo garantiu que eles resolveriam o problema. Outros três dos oito filhos do primeiro casamento de Alcindo prestaram depoimento sempre afirmando que o pai não tinha motivos para se matar e estranhando a versão de Maria de que não ouviu nenhum disparo de arma de fogo naquela noite. “Não sei o que dizer, só sei que não ouvi nada”, garante Maria que, depois de morar 21 anos com Alcindo, teve de deixar a casa, segundo ela, por pressão dos filhos.
Os herdeiros, por sua vez, dizem que não culpam ninguém, mas que acham estranho a madrasta não ter ouvido o tiro.
Essa estranheza se agravou quando em setembro de 2015, dois anos depois da morte de Alcindo, um laudo assinado por Bubniak atestou que ele não se matou. “Não estou dizendo que ele foi assassinado, apenas afirmo que não houve suicídio”, disse o perito à época.
O laudo jogou gasolina na relação já inflamada entre os herdeiros de Alcindo. Os filhos não aceitam que Maria divida a herança do pai, com quem ela era casada em regime universal de comunhão de bens e tinha uma filha. A defesa de Maria afirma que não havia motivos para Maria matar o marido. “Se fosse pela herança, bastava se separar que ela garantiria sua parte de qualquer forma”, afirmou o advogado de Maria, Wilson dos Santos.
O inventário de Alcindo está em processo judicial.
EXUMAÇÃO
O laudo de Bubniak suscitou um pedido de exumação do corpo por parte do delegado Wagner Meireles, o terceiro que cuidou do inquérito que investiga o caso. Ele queria saber, justamente, se a bala alojada na cabeça do morto saiu da arma que pertencia a Alcindo e que ficava na cozinha da casa coberta por um pano de louça. A juíza criminal Gisele Ribeiro determinou a exumação.
Bubniak apontou cinco fatores que levaram ele a concluir que não houve suicídio: 1) falta de manchas de retorno na mão da vítima; 2) posição da arma em relação ao corpo; 3) a não queda da arma no solo; 4) não foram detectadas manchas de sangue na arma; e 5) falta de resíduos de chumbo na mão da vítima.