O Brasil maquiavélico

Bolsonaro tenta ser, ao mesmo tempo, temido e amado, mas escolhe a primeira característica ao lidar com seus aliados

 

Antonio Vasco*

 

Maquiavel escreve “O Príncipe” em dedicatória a Lourenço de Médici. Quando escreveu ele estava exilado e se preocupava com a unificação da Itália que estava dividida em principados que constantemente guerreavam. Ainda não era como no Brasil de 2018 no qual a “direita” e a “esquerda” guerreavam, mas já é possível traçarmos um paralelo.

 

 

O paralelo pode ficar mais evidente ao percebermos que Maquiavel se preocupa em embasar sua obra com fatos históricos (como os dois polos políticos tentaram fazer para vencer as eleições de 2018), mas ele inova quando descreve duas formas de crueldade: a crueldade proveitosa e a crueldade contraproducente; a primeira se faz uso uma única vez por motivos de segurança e a segunda é empregada de forma indiscriminada e habitual. O que era inovação para o século XVI hoje se tornou repetitivo. Não estamos nos referindo à crueldade da facada dada no então candidato Bolsonaro, mas sim à violência simbólica decorrente do cruel hábito de mentir anabolizando os números e a honestidade dos governos anteriores no afã de vencer o pleito eleitoral.

 

 

O fato é que o Príncipe está preso. Preso porque optou pela praticidade nas ações, que não estavam alicerçadas em atitudes “éticas”, pois depois de um tempo os requisitos éticos colocaram em risco a própria segurança do Estado que o Príncipe montou para si. Podemos imaginar que a perda do poder deve doer tanto quanto a amputação de um membro. O medo da amputação tentou ser transferido aos eleitores na forma de medo do regime militar. Entretanto o candidato que saiu vencedor se colocou como algo melhor do que a mera alternância de poder. Assim ficou a impressão de que a alternância de poder (ou a mera redistribuição do poder) pode ser comparada a um formigamento que se sabe ser passageiro.

 

 

A vitória do militar não deixa as práticas maquiavélicas caírem no esquecimento, contudo parece que o atual presidente optará pela “crueldade proveitosa” (usada para incutir o medo pelo exemplo). Isso pode ser verificado no episódio Bebiano, quando um suposto aliado pretendia fornecer informações privilegiadas a um grupo de mídia sem a autorização do presidente.

 

 

Bolsonaro tenta ser, ao mesmo tempo, temido e amado, mas escolhe a primeira característica ao lidar com seus aliados. Veremos como lidará com a oposição. De qualquer forma quem tem …tem medo.

 

 

*Antônio Vasco, médico veterinário, formando de Direito UnC Canoinhas

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