Um passeio com Adair Dittrich pela Alemanha
Nada vi e nem me lembro do caminho que o nosso comboio percorreu dentro da noite entre Colônia e Munique. Tenho certeza de que fora um sono só. Sem sonhos. No ponto exato em que do trem saltávamos com nossas bagagens o jovem garoto Edmundo nos aguardava.
Era nossa intenção passarmos algumas horas apenas em Munique com ele, entregar-lhe as preciosas encomendas que sua mãe, Fléride, lhe enviara e, mais tarde, seguir para Bregenz, na Áustria, aonde as Irmãs Franciscanas da St. Joseph Haus, de Gaissau, por nós estariam esperando.
Nosso europass vencer-se-ia dentro de poucos dias e ainda planejávamos ver algo na Suíça antes de regressarmos para casa.
Edmundo ficou desolado pela nossa tão curta estadia com ele. Não aceitava que não ficássemos, pelo menos, mais um dia. Estava fazendo um curso em Munique e morava numa residência de um casal de intelectuais. Dizia ser bem aprazível, bastante espaçosa e que trazia o convite de seus anfitriões para que lá nós também nos hospedássemos.
Convenceu-nos. Mas, para que lá permanecêssemos mais um dia, necessário era que, de imediato, solucionássemos alguns problemas. Precisaríamos adquirir mais alguns dias adicionais para o nosso europass. Conseguido isto, ir na companhia aérea transferir nosso voo de retorno e telefonar para St. Joseph Haus que chegaríamos apenas no dia seguinte.
E a tudo Edmundo foi logo resolvendo com a maior facilidade, pois, fluente já era no idioma alemão.
Deixamos nossas malas e seus carrinhos no guarda-volumes da Hauptbahnhof e com nossas mochilas de mão fomos seguindo o jovem amigo até o local de sua morada. Onde fomos recebidos com amáveis sorrisos, um belo banho, um aconchegante quarto e um delicioso café da manhã servido no jardim.

E então saímos pelas ruas. Ver e conhecer Munique com Edmundo a nos ciceronear. Idealizara ele tão bem o nosso itinerário que, ao faltarem uns dez minutos, talvez, para o meio-dia chegávamos a um restaurante com mesas espalhadas ao ar livre em uma grande praça que ficava defronte a um magnífico prédio. Era a Rathaus, a Prefeitura, que ele nos disse ficar no coração de Munique, a Marienplatz.
Munida já de novos cartões postais comecei a rabiscá-los enquanto esperávamos saborear as famosas salsichas acompanhadas de pães especiais e da famosa cerveja da terra da cerveja.
À medida que o meio-dia se aproximava a praça já estava completamente tomada por uma multidão munida de possantes câmeras fotográficas e filmadoras.
Foi então que Edmundo, sorrindo, nos pediu que olhássemos para a fachada principal do prédio a nossa frente, onde logo o famoso carrilhão daria o seu espetáculo. O espetáculo do famoso Glockenspiel.

Que exatamente ao meio-dia teve início com o ressoar das sonoras badaladas de seus quarenta e três sinos.
E a cada badalada do carrilhão surge, saindo de um túnel lá no alto uma surpreendente figura que até me parecia ser em tamanho natural. Em cada uma das doze badaladas que marcam a décima segunda hora do dia outras figuras vão surgindo. Seriam personagens de contos de fada estes grandes bonecos de madeira que se movimentam ante nossos estupefatos olhares? Edmundo nos explica que cada momento é um trecho da história da cidade ali representado. O desfile dos enormes bonecos de madeira e a música que irrompe do grande carrilhão é o imperdível espetáculo que marca o ponto exato da metade do dia em Munique.

Na parte da tarde o nosso jovem amigo tinha alguns compromissos a cumprir, mas nos deu todo um roteiro do que poderíamos ver e visitar até a hora do jantar. Sugeriu que percorrêssemos a margem esquerda do rio. O rio é o Iser que corta a cidade. E neste caminho encontramos a Karlsplatz com seus belíssimos chafarizes até chegarmos à Igreja Frauenkirche com suas altíssimas torres. E, claro, de elevador, fomos até o alto de uma delas para de lá desfrutarmos da magnífica visão da cidade.
Visita imperdível é ao Museu da Ciência e da Tecnologia. São objetos demais a nele se ver e admirar. Visitamos apenas algumas salas. Lá é encontrado um dos mais notáveis acervos do mundo no que se refere à ciência. Objetos desde a Idade da Pedra nele poderão ser admirados.

O mais lindo panorama de flores enfeitando janelas de que eu me lembro ter visto em minhas andanças pelo mundo. São milhares de janelas com floreiras abarrotadas por um mar de flores pendentes, flores com os mais vivos coloridos que guardados na memória para sempre ficarão.
Caminhando pelas ruas mais flores fomos encontrando. Atravessamos parques e jardins onde o perfume que delas se irradiava enchia os ares e os nossos corações.
E nesse nosso feliz peregrinar, pela segunda vez na Europa nos deparamos com um bando de crianças, em jovial algazarra. Crianças alegres em seus felizes programas de férias, saltitando entre as alamedas de um grande jardim florido.
Houve tempo ainda para um breve tour em ônibus, para que pudéssemos apreciar mais alguns pontos de destaque.

Foi assim que chegamos até o belo castelo de Nymphenburg que fica longe do centro histórico por onde andávamos a pé. O único castelo que nessa ocasião eu visitei, pois os outros dois famosos que Ludwig, o chamado rei louco, mandou construir ficam bem mais distantes. O Nymphenburg é um castelo em estilo barroco rodeado de jardins de estonteante beleza. Dizem ser este jardim o mais belo da Europa. Aliás, Munique toda é um jardim.

Passamos pela Universidade e pudemos nos deslumbrar ainda com as instalações do Olympia Park, a Vila Olímpica de Munique, onde se desenrolaram os Jogos Olímpicos de 1972.
Não sei dizer se foi o sono que me abateu primeiro ou se foram as pernas que vergaram, mas, após o jantar com nossos anfitriões nem pensar em dar mais um passo na rua eu conseguiria. Mas, a noite com eles foi um desfrutar de novos conhecimentos. Estávamos junto de pessoas de um nível cultural elevadíssimo. E nos entendemos numa mistura de línguas com Edmundo, na maior parte do tempo, servindo de intérprete. E eu tanto quisera mais desfrutar daquela noite com eles. Absorver sua cultura. Mais infiltrar-me em seu intelectualizado mundo. Mas, o repouso fazia-se necessário. E nossos anfitriões tinham seus compromissos cedo a cumprir na manhã seguinte.
Após o café da manhã, religiosamente servido no jardim no decorrer de todo o verão, deles nos despedimos.
Deixamos nossas mochilas no guarda-volumes da estação ferroviária onde marcamos nossas passagens para Bregenz para a tarde daquele dia e saímos a caminhar pela cidade, pois, de muitos belos lugares ainda poderíamos desfrutar.

Fomos então andar pelo Jardim Inglês com um rio com ondas que parecem cantar, cheio de flores, cheio de verde, cheio de encantos. Um jardim inglês com uma torre chinesa. Um jardim cheio de canais com águas de estonteantes cores que variam com a incidência da luz do sol através do verde das árvores. Um jardim com aprazíveis barraquinhas para o nosso almoço de despedida. Com salsicha, batata e, claro, cerveja. Cerveja da Bavária.
Como sempre, nas viagens, tudo passa tão rápido. Parecia que de quase nada se viu ou se desfrutou. Mas, para nós que iríamos fazer apenas um ato de presença em Munique por algumas horas, até que muito conseguimos ver. Graças aos nossos anfitriões e ao nosso cicerone Edmundo.
Saímos pela tarde ensolarada rumo à Hauptbahnhof para tomarmos o trem para Bregenz, Áustria, onde as freiras estariam nos esperando para nos levar para a casa delas em Gaissau.