A apresentação sem graça de Neil Patrick Harris na cerimônia do Oscar deste ano traduz o quanto insosso foi o ano de 2014 nos cinemas. Coroação maior dessa mesmice foi o prêmio de melhor filme e direção para Birdman. O filme é ruim, falsamente intelectualizado. Soa como piada interna sobre Hollywood e como quem vota no Oscar pertence à comunidade, nada mais coerente do que premiarem o filme que parodia a realidade dos votantes. mas se tivessem, de fato, entendido o filme, talvez não votariam em uma chacota sobre o mainstream hollywoodiano.
Serve de conforto os quatro prêmios (mesmo número de prêmios de Birdman) de O Grande Hotel Budapeste. A riquíssima produção de Wes Anderson pode não se levar a sério, mas pelo menos reconhece isso, ao contrário de Birdman. Antes tivesse arrematado o recorde de prêmios e levado direção e filme também.
O meu preferido era Boyhood. Acabou ficando somente com o prêmio de atriz coadjuvante para Patricia Arquette, merecidíssimo. Boyhood não mereceria o Oscar principal porque levou 12 anos para ser feito, mas justamente pelo efeito que a longevidade lhe confere. Ver atores envelhecendo e/ou crescendo diante de nós por quase três horas nos dá uma intimidade com esses atores que nunca tinha sentido antes no cinema. Daqui a alguns anos, quando se falar nesta edição do Oscar, se questionará qual o propósito da academia ao premiar Birdman em detrimento de um filme como Boyhood.
O prêmio de melhor filme estrangeiro para o polonês Ida também foi um erro diante da força de Leviatã e Timbuktu.
A Academia acertou, no entanto, em todos os prêmios de atuação, com destaque para a sempre merecedora Juliane Moore, por Para Sempre Alice. Há tempos ela merecia a estatueta.
Outra grata surpresa foram as três prêmios para Whiplash, todos merecidíssimos.
Ademais, fica a lição de que Hollywood precisa se reinventar urgentemente. Com exceção de Sniper Americano, todos os outros filmes tiveram arrecadação pífia nas bilheterias. A falta de criatividade está levando a uma interminável rede de sequências de filmes inspirados em HQs, sem dar espaço para muito conteúdo. Daí uma seleção tão fraca como a deste ano. Faltam bons filmes. Que este ano seja um pouco melhor.