Oscar 2020 tem melhor seleção de filmes em pelo menos 20 anos

Seleção semelhante só se viu em 1998

 

A SELEÇÃO

Desde 1998 que se busca uma lista tão formidável de indicados ao Oscar. Naquele ano, o fenômeno Titanic liderava as indicações com um recorde (14) só comparável a A Malvada (1951). Seus concorrentes não estavam exatamente a altura (todo mundo sabia que Titanic levaria a estatueta principal), mas não faziam feio nem um pouco. Lá estavam o melhor desempenho de Jack Nicholson em anos (Melhor É Impossível), uma comédia inglesa impagável (Ou Tudo Ou Nada), o filme que revelou ninguém menos que Matt Damon (Gênio Indomável) e o filme que ressuscitou o estilo noir, L.A. Cidade Proibida, isso num período em que só cinco filmes concorriam na categoria principal.

 

 

 

Hoje, os cinco filmes indicados na categoria principal em 1998 são reconhecidos e se tornaram referência. Shakespeare Apaixonado, que venceria no ano seguinte no ápice da obscura carreira de seu produtor, Harvey Weinstein, hoje é lembrado como a chacota que tirou o Oscar de Fernanda Montenegro (Central do Brasil) e deu a insossa Gwyneth Paltrow. Naquele ano, as regras para se presentear membros da Academia mudaram, justamente porque se suspeitou que a Miramax estaria dando alguns mimos para promover Shakespeare. Deu no que deu. Embora essa seja outra história, como que atingida pela maldição do Titanic, a Academia não encontrou nada de expressivo para indicar na sequência. Se Shakespeare Apaixonado é medíocre, o que dizer de Crash, no Limite (melhor filme em 2006), O Discurso do Rei (melhor filme em 2011), O Artista (melhor filme em 2012), Birdman (melhor filme em 2015, o pior de todos) e até mesmo de Os Infiltrados (2007), dirigido pelo mesmo Martin Scorsese de O Irlandês, que concorre neste ano, dez vezes superior ao thriller de 2007.

 

 

 

Se o ganhador do Oscar 2007 é inferior a O Irlandês, cabe dizer que todos os outros oito indicados a categoria principal deste ano venceriam facilmente dos últimos 20 ganhadores da estatueta mais cobiçada se com eles estivesse competindo em condições de igualdade, claro, sem dedo da Miramax ou similar dando agradinhos aos acadêmicos.

 

 

 

 

Só pra começar tem um dos filmes mais reflexivos sobre a polarização que o mundo vive atualmente. Coringa bebe na fonte da fantasia para nos dar um choque de realidade. Não à toa tem o recorde de indicações (11). 

 

 

 

Parasita bebe da mesma fonte. Reflete sobre a desigualdade que assola o mundo, mas com uma história tão impressionante e original que é impossível não ficar boquiaberto com a criatividade do genial Bong Joon Ho. O desfecho é um deleite tão surpreendente quanto o de Coringa.

 

 

 

 

 

O Irlandês é mais uma obra-prima de Scorsese e tem no elenco estelar (todos amigos dele) seu grande trunfo. É o retorno magistral de um mestre do gênero no ápice do domínio pelo que faz.

 

 

 

Tem espaço também para o romance, mas no caso de História de Um Casamento trata-se de uma das mais dolorosas leituras de um momento difícil para qualquer um: será que o amor acabou ou só fraquejou? Vale a pena continuar um amor melindrado? A riqueza do roteiro cabe como uma reflexão para qualquer pessoa em um relacionamento sério.

 

 

 

Era Uma Vez Em Hollywood reforça o fato de Quentin Tarantino ser tão bom que “tarantinesco” se tornou um elogio para qualquer filme. Nenhum cineasta até hoje, no entanto, conseguiu se aproximar da grandiosidade do ex-atendente de videolocadora que se tornou um gigante do cinema. Apenas vislumbres de sua genialidade foram vistos até o momento.

 

 

Ford v Ferrari é uma empolgante aventura mostrando até onde se vai para alimentar-se o ego. Uma imersão fascinante no mundo do automobilismo. Lembrando que a história é baseada em fatos.

 

 

 

Jojo Rabitt faz lembrar A Vida É Bela, filme sensação do Oscar 1999, até hoje reconhecido como um dos mais importantes filmes italianos recentes. Só que ao explorar a inocência infantil sob o prisma do nazismo, consegue entregar uma história ainda mais tocante e reflexiva.

 

 

Tem ainda a comédia o romance Adoráveis Mulheres e o épico ambientado na 1ª Guerra Mundial, 1917. Estes dois ainda não vi, mas a considerar pelos outros sete filmes, esta já é a melhor seleção dos últimos 20 anos do Oscar. Lembrando que 1917 já papou o Globo de Ouro, sinal de que pode superar os demais, que já estão acima da média. Que outras seleções como esta venham nos próximos anos.

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