Leia artigo de opinião do sociólogo Walter Marcos Knaessl Birkner
Dizem que se conselho fosse bom, não se dava de graça. Mas quando se trata do interesse comunitário, quanto mais sugestões, melhor. Portanto, vão algumas considerações eventualmente úteis aos eleitos, no executivo e no legislativo. Aos futuros prefeito e vice, recomenda-se desafiarem a desconfiança a suas candidaturas a partir dos critérios da gestão pública e foco na inovação. Aos vereadores de um legislativo felizmente renovado, sugere-se uma atuação mais legislativa e afirmativa, de envolvimento com a comunidade e igual foco na inovação. Ambos devem estar comprometidos com a sinergia política para o desenvolvimento.
A vitória apertada e de virada pode ter sido muito emocionante à dupla eleita e aos seus eleitores mais próximos, mas assusta. Saber quais as motivações desses eleitores é um exercício sociológico que exige um sério esforço, pra quem se elegeu e pra quem não. Inclusive durante a campanha isso devia ser feito, o que sempre ajuda nas estratégias. Afinal, reduzir as pesquisas eleitorais à intenção de voto é desconhecer o papel abrangente desse instrumento, por isso mesmo caro. Perder ou ganhar uma eleição é o resultado de uma equação complexa, mas quando o trapezista já se acha muito bom, ele pensa que aprendeu a voar.
De todo modo, o propósito desse artigo é outro. Trata-se de recomendar aos vencedores do pleito, Beto Passos e Renato Pike, que encarem com vigor o desafio de superar a desconfiança acerca da capacidade de ambos em administrar o Município. Nesse sentido, o que parece um problema, pode se transformar numa grande oportunidade. E, bem no fim, estamos falando de algo muito importante. A gestão pública é um tema civilizatório, sem o qual o desenvolvimento de um município fica emperrado. Não faltam exemplos de municípios com alta arrecadação e baixo desenvolvimento. É só olhar pro lado.
O foco deve estar na vocação econômica e na inovação. Será um erro insistir na velha estratégia de esperar do governador, do deputado etc. Seria procurar lá fora o tesouro que está aqui. Sugiro mirem-se nos exemplos das principais cidades catarinenses, sobre as quais o Diário Catarinense publicou excelente matéria no domingo das eleições. A tônica de seus empresários, gestores públicos e agentes cognitivos é foco na vocação econômica, através da inovação. Todas terão seus Centros de Inovação, algo do que os eleitos precisam se inteirar. E não se trata de pensar em grandes empreendimentos. Trata-se de incentivar e valorizar os pequenos.
Não obstante, eleitos, prefeito e vice, seus futuros secretários, além dos vereadores eleitos, não tem a obrigação exclusiva de saber e fazer. Tarefa mais nobre e própria de seus mandatos será promoverem o diálogo e a cooperação entre executivo e legislativo. Por extensão, juntos e em momentos diversos, podem ajudar a tecer o diálogo e a cooperação permanentes entre eles e os agentes do desenvolvimento, sejam os econômicos, sejam os cognitivos. Já me pronunciei anteriormente sobre a necessidade de Canoinhas reunir esforços de inteligência e espírito público para discutir e formular estratégias de médio e longo prazo.
Então temos três sugestões. 1) Seguir os parâmetros da gestão pública. É o óbvio mas precisa ser dito e capitalizado. Se alguém tiver interesse, este link dá uma ideia de como Canoinhas aparece em mapas de gestão. 2) Motivar a energia empreendedora e criativa da Cidade. Se o município de Mafra vai receber alguns empreendimentos industriais porque está geograficamente bem localizada, podemos estudar tais cadeias produtivas e detectar serviços e produtos, despertando vocação exportadora. 3) Apostar decisivamente no diálogo e na cooperação.
O eleitor pode não saber como, mas espera atitudes inovadoras quando decide pela alternância. Em Canoinhas, a alternância deve ser compreendida como uma oportunidade histórica. No legislativo, a renovação de 60% também indica oportunidade que o eleitor fornece aos eleitos. É uma dádiva eleitoral. É claro que os vícios da miséria econômica e mental continuarão existindo. Mas, executores e vereadores precisam inverter as estratégias: ao invés do modo individualizado, o modo comunitário. Ao invés de bater nos ombros e afirmar: “deixa comigo que eu resolvo o teu problema”, “vamos discutir os problemas da nossa Cidade”.
Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo