O antigo cinema ganha nova esperança com proposta de restauração encampada por professores e acadêmicos da Uniuv
José Ernesto Wenningkamp Jr*
Peças teatrais, exibição de filmes, palestras e formaturas. As dependências do Cine Teatro Luz, no coração de União da Vitória, foram palco para os mais variados eventos, marcando assim a vida de muitos habitantes das cidades de União da Vitória e Porto União.
Sob a responsabilidade da prefeitura de União da Vitória, o espaço ficou sem receber melhorias durante anos, até que em 2015 foi fechado pela prefeitura por questões de segurança. Fechava-se assim as portas do único espaço disponível para a realização de eventos na cidade. Às intuições de ensino que nos últimos anos vinham sendo as que mais utilizavam o espaço para a realização de palestras ou colações de grau, restou apenas ter de atravessar os trilhos para o lado catarinense, em Porto União, e fazer o uso das dependências do Cine Teatro Ópera.
A história do antigo cinema ganhou contornos diferentes a partir de 2016, quando o Centro Universitário de União da Vitória (Uniuv) ganhou o processo de comodato do espaço para a exploração no período de 10 anos. O que pensava-se ser uma interdição por motivos de cautela, mostrou-se para a instituição no momento da entrega das chaves um problema muito mais profundo de recuperação.
O INÍCIO DO CINE TEATRO LUZ
Em 26 de janeiro de 1948, o então prefeito José Cleto, sancionou a Lei nº 3, que concedia a isenção de todos os impostos municipais no período de cinco anos à empresa ou pessoa que se propusesse a construir um prédio destinado a um cinema e a um teatro na cidade. Passados dois anos da sanção da lei, a Empreza Cine Diversões Limitada – assim mesmo, escrita com a letra “z” -, da qual o próprio prefeito José Cleto fazia parte como sócio, junto com mais 14 pessoas, começa a desenvolver o projeto do que viria a se tornar o Cine Teatro Luz.
José Cleto, na época, mandou o ofício nº 302/50 para a Câmara de Vereadores para que fosse votado em caráter de urgência a prorrogação da Lei nº3, pois a empresa interessada na construção do empreendimento já havia dado entrada no requerimento e nas plantas, para assim iniciar-se a construção do edifício.
O prefeito era visionário e a cidade estava em franco desenvolvimento, já sendo a maior produtora de madeiras para a construção no estado do Paraná. Cordovan Frederico de Melo Júnior, no livro Cine Luz no Tempo do Cinema, de 1996, relembra o discurso do prefeito à época. “Todas as boas iniciativas devem ser amparadas pela prefeitura, para que União da Vitória possa ser dotada de uma casa cine-teatral à altura do seu progresso e do merecimento da sua população”.
Eram 16 horas do dia 6 de outubro de 1951 quando autoridades e população das cidades irmãs (União da Vitória e Porto União) participaram do ato da inauguração do Cine Teatro Luz. Após o discurso de José Cleto, as 1.600 pessoas presentes, lotação máxima da sala de cinema, assistiram a primeira exibição, não de um longa-metragem, mas sim de três produções diferentes, que foram a edição do dia do Jornal Nacional, da TV Globo, o curta A Voz do Mundo e um desenho animado.

Trinta e oito anos após a sua inauguração, às 20h15 de 24 de setembro de 1989, com um público de 110 espectadores que acompanhou a pornochanchada Fogo e Prazer, o Cine Luz parou de funcionar. Local de encontro nos finais de semana, o Cine Luz fechou as suas portas sem o mesmo brilho da década de 1950.
Com a chegada das comemorações do Centenário de União da Vitória, em 1990, a prefeitura se viu obrigada a ter um espaço para sediar as comemorações como a escolha da Rainha do Centenário. Em conversas com os sócios-proprietários o prefeito Mario Riesenberg acertou o contrato que traria o espaço novamente para a população.

Com o fechamento em 2015, a prefeitura já não possuía mais interesse no comando do espaço, as exibições de filmes já haviam sido suspensas anos antes.
ESTADO CRÍTICO
A professora do Centro Universitário de União da Vitória (Uniuv), Fernanda Wolf, que trabalha no escritório modelo implementando pela Uniuv dentro do cine, lembra que a instituição tinha há algum tempo a intenção de se responsabilizar pelo espaço, mas que foram surpreendidos pelo estado no qual encontraram o espaço depois da assinatura do comodato com a prefeitura. “O que nós não sabíamos era o problema que vinha pela frente. Pelo espaço ser tombado pelo patrimônio do Estado, qualquer tipo de intervenção tem de ser aprovada pelo patrimônio do Estado do Paraná”.
No mês de agosto de 2016 professores do curso de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo, junto com estagiários do escritório modelo de Arquitetura instalaram o escritório modelo nas dependências do cinema. Um pedaço do forro havia desabado em cima das poltronas. O engenheiro Bruno Suscharski, um dos professores da instituição que participaram do levantamento que foi feito na estrutura do cinema, lembra que a situação encontrada era pior do que a instituição imaginava. “Principalmente por falta de manutenção, não era erro de projeto e nem falha, foram intervenções que foram feitas sem os devidos cuidados”.
Em frente ao palco, ao lado esquerdo de quem está na plateia, uma grande parte do forro cedeu. Nesse ponto havia sido instalado um sistema de iluminação novo, durante a reforma que ocorreu no início dos anos 2000, pelo projeto do governo do estado do Paraná “Velho Cinema Novo”. Para Suscharski o estado em que o cinema se encontra não é resultado apenas e exclusivamente da última administração municipal, mas sim de uma falta de cuidado e planejamento de anos. “Não podemos culpar apenas um, foram anos de mal cuidado com a estrutura do prédio”. As tesouras que seguram o telhado estavam tomadas por cupins, sem um projeto de manutenção. A elas foram adicionadas as cargas da iluminação, o que ajudou no desabamento.

Allan Diego Bockor, acadêmico do curso de Engenharia Civil, é um dos estagiários responsáveis pelo levantamento da estrutura, para que se faça o projeto de restauro. Bockor, que foi designado para fazer o levantamento da parte elétrica do cinema, relata que muitas “gambiarras” foram feitas na estrutura, sem a liberação do Corpo de Bombeiros e do Instituto do Patrimônio Histórico do Paraná. “Hoje se você ver quase nenhuma iluminação do cinema funciona, a cada dia, alguma parte a mais deixa de funcionar”. O estagiário ainda lembra que um fator a mais acarretou na demora do levantamento por completo da estrutura do cinema, pois não havia planta da parte elétrica.
Sobrecarga, infiltrações, pequenos incêndios, enfim, a falta de manutenção do Cine Teatro Luz acabou acarretando na demora do processo de levantamento que a instituição está fazendo para que seja enviado para o instituto em Curitiba. Sucharski lembra que são inúmeras as pessoas que acabam criticando a demora da reabertura do espaço, mas lembra que se a instituição não tivesse assumido a administração do espaço, a situação poderia ser pior. “Não consigo mensurar como ia estar, mas poderíamos até ter tido um desabamento por completo da estrutura”.
Em processo de finalização, segundo Fernanda, o projeto deve ser levado pelo reitor Allison Frantz até Curitiba e entregue para a única arquiteta responsável pelo patrimônio do estado. “Acreditamos que até o mês de agosto tenhamos a aprovação, para assim conseguirmos fazer a abertura de edital para darmos início ao restauro”.
O PROJETO
Fernanda afirma que a instituição tem como projeto final para o espaço, transformá-lo em um espaço cultural, deixando de ser apenas um cine teatro, servindo a comunidade e a própria instituição, com a realização de suas colações de grau.
O RESTAURO
Segundo Suscharski, no momento da assinatura do contrato a instituição poderia seguir dois caminhos, o da reforma ou do restauro. Pela lembrança do lugar presente na memória de muita gente optou-se pelo caminho das pedras para o engenheiro. “Eu colei grau lá em 2014, temos uma lembrança que poderia ser modificada com a reforma”. Optando-se pelo restauro, cada metro quadrado do edifício teve de ser catalogado para que, ao final do processo, tudo seja exatamente igual ao original.
*José Ernesto Wenningkamp Jr é estagiário. Acadêmico de Jornalismo da Uniuv