Sociólogo escreve sobre o bom posicionamento de Canoinhas em índice de gestão municipal
O JMais publicou, em 25 de janeiro de 2017, matéria anunciando que Canoinhas apresenta a melhor classificação do Planalto norte catarinense no Índice de Efetividade da Gestão Municipal – IEGM, do TCE-SC. Não surpreende. Há algum tempo ouço comentários de que Canoinhas se destaca pela gestão pública no Planalto, resultado de anos de esforço. Isso ajuda a explicar porque a Cidade melhorou no aspecto urbano, apesar do histórico baixo dinamismo econômico regional. A reversão deste último aspecto é que é o desafio e requer planejamento. Na concepção moderna de gestão, planejamento inclui diálogo, transparência e defesa profunda do que é patrimônio da cidade, para que não seja entregue a gente de fora, com a cumplicidade de gente de dentro.
No quesito planejamento, todos os municípios caem em conceito. Poucos municípios brasileiros figuram bem nesse quesito. E planejamento na gestão pública vai além da tradicional competência técnica, seguramente elementar. Coincidentemente, leio paralelamente uma entrevista com o sociólogo Luiz Felipe D’Ávila sobre questões da gestão pública, inclusive dos municípios. Ali, o foco é na transparência e no diálogo com a Comunidade. São características como essas, entre outras é claro, que explicam a boa gestão nos municípios e o desenvolvimento das cidades.
Nisso, gestores recentemente reeleitos tem obtido ganhos de gestão, reconhecidos pelos eleitores, o que se poderia atribuir a qualquer reeleito, como os prefeitos de Blumenau e Joinville, que deram ótimas demonstrações de transparência, ao debaterem assuntos espinhosos que poderiam ter colocado em risco seus projetos eleitorais. Ao enfrentarem os debates com a Comunidadeem linguagem clara, esclareceram a população. Nesse sentido, muitos gestores ainda pecam, porque tem dificuldade de comunicação, coisa simples. O efeito quase sempre incomensurável disso são oportunidades perdidas. E a culpa é sempre dissipada pelas circunstâncias fora de controle, fatores exógenos, um blablabla interminável das “falsas lideranças”, nas palavras de D’Ávila.
Planejamento requer diálogo e transparência com a população. Capital social e humano, que podem ser incentivados por lideranças políticas inteligentes, é do que precisam as cidades. É preciso deixar trabalhar os mais engajados, inclusive na gestão pública, onde existe boa vontade, inteligência, inovação e capacidade de envolvimento com a Comunidade, coisa tão preciosa. Poucos compreendem que essa preciosidade revela o compromisso intestino com a o desenvolvimento local e gera, silenciosa e continuamente, as oportunidades que os seres humanos precisam para sua realização pessoal, com efeitos incomensuráveis às suas cidades.
O grande desafio das cidades do Planalto, e de suas gestões, é gerar oportunidades aos jovens, reter capital humano e preservar os patrimônios coletivamente construídos. Estes, depois de gerarem oportunidades e riquezas, tornam-se ruínas, devido à má gestão, a interesses alheios e forasteiros, e pela falta de diálogo republicano. Outras tantas oportunidades simplesmente deixam de surgir e esse fator invisível – aquilo que poderia ser mas não foi – é talvez a principal causa da estagnação, da decadência e do esvaziamento.
Nesse sentido, a emergência daquilo que pode ser e se materializar no desenvolvimento local-regional virá do diálogo público.A gestão pública pode tomar essa iniciativa, identificando oportunidades e defendendo, com coragem e desprendimento de interesses pessoais, o patrimônio que a Comunidade construiu. O maior exemplo disso são as universidades comunitárias catarinenses. Resultam do diálogo e da defesa do patrimônio comunitário com unhas e dentes.Retiveram capital humano e geraram oportunidades e riquezas. Cidades cresceram por conta delas. E, nos momentos de crise, o diálogo e o verdadeiro interesse coletivo superaram as dificuldades, salvo exceções.
Que alguém me convença de que não é a falta do diálogo que explica a derrocada de uma empresa solidamente construída, a estagnação de uma cidade, a corrupção ou a perda de um patrimônio endógeno, que foi cair em mãos alheias e de fora quando cada um deu de ombros e disse que o problema não era seu.
Que alguém me convença de que não é o diálogo que faz uma empresa superar sua grande dificuldade, faz uma cidade prosperar, ou impede que aquilo que sua valiosa Comunidade construiu com esforço próprio caia em mãos erradas.
Por patrimônio público, podemos entender uma prefeitura e suas responsabilidades, mas também uma instituição comunitária sem fins lucrativos e sem proprietário privado. Submetido a interesses escusos, acaba entregue, com a cumplicidade e as vantagens pessoais de alguns, a agentes estranhos ao bom interesse republicano e comunitário, expulsando capital humano, destruindo riquezas e esfacelando oportunidades.
Gestão pública tem a ver com planejamento. E planejamento, na concepção moderna de gestão pública, tem a ver com diálogo e transparência. Tem a ver com o envolvimento do poder público em tudo que diz respeito ao patrimônio público, sobretudo quando este patrimônio está diretamente relacionado às potencialidades do desenvolvimento. A nova gestão pública de Canoinhas, executivo e legislativo, inclusive com o auxílio do judiciário, tem a oportunidade de inovar nessa direção. Mais do que fazer a obrigação, é envolver-se em discussões que podem não parecer, mas são suas. É o caso de preocupar-se com qualquer instituição comunitária, em nome do legítimo interesse comunitário, com o intuito de preservar e fazer crescer, ao invés de dar de ombros.
É a lacuna deixada pela administração passada. Talvez não pareça, mas tem tudo a ver com planejamento e boa gestão municipal.
Walter M. K. B. é sociólogo