Com Paulo Guedes, Ministério da Economia fez ajustes importantes, mas coordenação do governo necessidade de ajustes urgentes
UM ANO DE BOLSONARO
Começo o vibrante ano de 2020 – especialmente para nós, jornalistas que cobrem política, afinal teremos eleições municipais – com um olhar ainda para 2019. Encerrado o primeiro ano do tumultuado governo de Jair Bolsonaro, já é possível fazer uma análise mais acurada do que o “novo” nos trouxe.
Bolsonaro fez bem para a economia, é fato. Apesar de não entender nada do assunto, como ele mesmo admite, soube colocar a pessoa certa à frente do Ministério. Paulo Guedes é minimamente coerente e suas ideias liberais sinalizam positivamente ao mercado. A aprovação da reforma da Previdência foi sua grande façanha e os bons frutos da reforma ainda estão por ser colhidos. Não é à toa que o Via Atacadista, o Pif Paf e o Superpão vão investir neste ano em Canoinhas. Trata-se de um efeito da onda positiva iniciada pelo governo na área econômica que proporcionou estas boas novas para a cidade. Há de se ressalvar, também, os efeitos benéficos da reforma trabalhista de Michel Temer.

Bolsonaro acertou também na Infraestrutura e Agricultura, muito embora ainda esteja por se sentir os efeitos da liberação de inúmeros agrotóxicos. As medidas liberalizantes da ministra Thereza Cristina, no entanto, agradam o mercado interno e externo. Sérgio Moro, o ministro estrela, ainda não mostrou a que veio, mas há de se ressaltar a queda nos índices de criminalidade, uma combinação de ações estaduais, mas que tem no apoio do governo federal um pilar importante.
Também é mérito de Bolsonaro o arrefecimento da corrupção. Embora ainda esteja por se explicar as relações de seu filho Flavio com as rachadinhas da Assembleia carioca e as candidaturas fakes criadas pelo ministro do Turismo, nada atingiu diretamente Bolsonaro até o momento. “A corrupção era uma senhora vistosa, que andava cravejada de diamantes pelas ruas de Brasília”, reconheceu o senador Esperidião Amin em entrevista à coluna no ano passado. “Agora ela está mais contida”, completou.
Amin é amigo de longa data de Bolsonaro e ele mesmo admite que não concorda com todas as “ideias de Bolsonaro”, nas palavras dele, citando especificamente o relaxamento na venda de armas.
Ideias talvez não seja a palavra certa, mas “atropelo”, talvez. Bolsonaro, em partes, formou uma equipe técnica, mas se mete, aparentemente sem entender, em tudo o que elas fazem. Foi assim que se meteu indevidamente em questões delicadas da área econômica, causando pânico no mercado, incêndios que tiveram de ser apagados por Guedes.
Em vários momentos Bolsonaro dá a impressão de não entender a natureza do cargo que ocupa, o que pode ser perfeitamente ajustado, se ele tiver vontade. Quando tenta se aprofundar em uma questão que deveria ser respondida por um ministro, se atrapalha e causa desconfiança no seu governo.
O grande problema do governo Bolsonaro vem justamente do que ele mais critica nos governos petistas: a ala ideológica. Esta ganha um espaço muito maior porque é liderada pelo próprio presidente, tendo nos ministros da Educação, Relações Exteriores e Mulher, da Família e dos Direitos Humanos seus pilares mais xiitas. Os quatro trataram de implementar no governo uma gestão ideológica assim como acusam o PT, só que com sinal trocado.

Bolsonaro se elegeu sob o signo do liberalismo. “Mais Brasil e menos Brasília”, menor presença do Estado na vida do cidadão, criando e não dando condições de ele progredir. Ok, mas parece que só Guedes segue esse mantra. Na cabeça de Bolsonaro, ser liberal comporta desamarrar os empresários dos tentáculos do governo, mas decidir como o cidadão deve se comportar. Damares Alves, em entrevista à Globo News, chegou a dizer que quer atuar dentro das famílias, reconciliando pais e filhos. Como o governo pode fazer isso?
A tutela de extrema direita na cultura, comandada por gente que demonstra pouco apreço por artistas (como existir cultura sem artistas?) talvez seja um dos fatos mais graves, ainda a apresentar seus efeitos nefastos. Mas há outro setor tão importante quanto contaminado pela ideologia de extrema direita. O ministro da Educação dedica seus dias a xingar a esquerda nas redes sociais, inclusive com erros grotescos de português. Isso quando há tanta coisa por fazer como a renovação do Fundeb, que vence neste ano. Em que brigar e xingar pelas redes sociais contribui com a educação? Entre as pérolas diárias soltas por Bolsonaro na saída do Palácio do Planalto, a mais recente atingiu o ápice de uma sandice que parece planejada. Dizer que os livros têm “muita coisa escrita” soaria engraçado se saísse da boca de uma criança de 4 anos. Saída da boca do presidente é no mínimo triste.
Com fala direta e extremamente simples, pontuada por lives semanais pelas redes sociais, Bolsonaro parece cada vez mais propenso a pregar para convertidos, enquanto é ridicularizado por quem discorda dele. O presidente não faz o menor esforço para tentar conciliar o país. A divisão do Brasil é o efeito mais nefasto da eleição. Não foi Bolsonaro quem a criou, mas é ele quem insiste em perpetuá-la sabe-se lá com que intuito.
CANOINHAS E BOLSONARO
Bolsonaro teve 75,4% dos votos no segundo turno em Canoinhas. É um número extraordinário, mas que não causa surpresa em uma cidade historicamente anti-PT. Em 2012, Beto Passos se candidatou pelo PT e, com 46,4% dos votos, perdeu para Beto Faria (MDB), que ficou com 53,5%. Naquele momento, Passos surfava na onda positiva do governo Dilma (o desastre completo viria no segundo mandato), mas não foi a presidente quem garantiu a ele a votação que, embora não o tenha eleito, com pouca estrutura de campanha e dinheiro, foi expressiva. Passos se alicerçou na carreira como radialista, pontuada por serviços comunitários.
O dado é interessante para estudar a possível influência do governo Bolsonaro na eleição municipal deste ano. Em 2010, Dilma recebeu 39,2% dos votos no segundo turno em Canoinhas. O derrotado José Serra (PSDB) recebeu 60%. Pela lógica partidária, Passos deveria receber exatamente os 39,2% dos votos de Dilma em 2012, mas recebeu 7,4% a mais de votos. É um percentual interessante de pessoas que certamente ignoram a questão partidária dos candidatos canoinhenses.
MAIS SOBRE INFLUÊNCIA

Em 2016 Beto Passos se candidatou pelo PSD, partido que hoje preside em Canoinhas, e recebeu 50,6% dos votos, se elegendo por uma margem de 1,24% em relação a Beto Faria. Dois anos antes, Raimundo Colombo (PSD) recebeu 58,4% dos votos canoinhenses, garantindo a vitória já no primeiro turno. O segundo colocado, Paulo Bauer (PSDB), que chegou a ter um escritório em Canoinhas quando senador, recebeu minguados 22,02% dos votos.
São sinais de que presidentes e governadores tendem a ter pouca ou nenhuma influência nas eleições municipais.
TECNOLOGIA
A prefeitura de Bela Vista do Toldo licitou a empresa Liberty Pró Indústria e Comércio de Equipamentos para a compra de notebooks que devem ser usados nas escolas municipais. O valor da licitação é de R$ 135,7 mil.
ISENÇÃO
A exemplo de Canoinhas, Bela Vista do Toldo também aprovou e já está em vigor lei que isenta de IPTU imóveis pertencentes aos portadores de doenças graves incapacitantes e aos doentes em estágio terminal irreversível desde que destinado, exclusivamente, ao uso residencial.
SALDO
O Coletivo Santa Cruz reclama de crise, mas somente em 2019 recebeu R$ 981,7 mil da Prefeitura de Canoinhas. O valor se refere ao transporte escolar que presta ao Município.
NOVO ASSESSOR
A Câmara de Canoinhas criou um cargo de assessor parlamentar com salário mensal de R$ 2,3 mil e exigência de ensino médio completo. A nomeação é de livre escolha do presidente da Casa.
REEMBOLSO
Donos de mais de 2 milhões de veículos no Brasil têm direito de pedir de volta o valor pago a mais do DPVAT deste ano. Esses motoristas pagaram o seguro obrigatório antes de sair a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reduziu a cobrança. Segundo a seguradora Líder, que administra o DPVAT, em Santa Catarina são 65 mil donos de veículos com direito ao reembolso.
IDADE

O deputado Rogério Peninha Mendonça (MDB/SC) aderiu à PEC para que seja diminuída de 16 para 14 anos a idade mínima de ingresso do jovem no mercado de trabalho. Atualmente, a legislação permite o emprego na condição de jovem aprendiz, mas com uma série de restrições e sem carteira assinada.
O deputado diz que consultou a opinião dos seguidores nas redes sociais e 95% dos 4 mil internautas que votaram, optaram pela redução da idade para os 14 anos. “O resultado não me surpreende e reflete minha opinião. Eu comecei a trabalhar muito antes disso e, desde que seja conciliado com os estudos, o trabalho ajuda o adolescente a ser uma pessoa honesta e do bem. Estudando e trabalhando, a chance de entrar para o mundo do crime é muito menor”, defende o deputado.
O texto propõe trabalho diurno em condições não insalubres ou perigosas. A PEC é de autoria do deputado Kim Kataguiri (DEM/SP).