Crise do Hospital Santa Cruz só será solucionada com participação popular
QUEM TEM RAZÃO?
Quem ouviu atentamente o diretor administrativo do Hospital Santa Cruz (HSCC), Derby Fontana, na segunda-feira na Câmara de Vereadores, lhe deu razão. Quem ouviu não menos atentamente a secretária de Saúde, Zenici Dreher, ontem, na mesma Câmara, possivelmente também lhe deu razão. Isso explica a complexidade da saúde pública.
De fato, os dois estão na sua razão. Como já escrevi anteriormente, quem busca mocinhos e bandidos nessa história tende a se frustrar.
As contas do HSCC não fecham e a diretoria pede socorro ao Município que, como sempre ajudou, parece ser o recurso mais certo. O Município, por sua vez, acha que já ajuda demais e que, em se tratando de saúde, quanto mais se investe mais se gasta. É um saco sem fundo.
Ao que parece, no entanto, o Município vai ajudar, mas quer algumas contrapartidas, como conhecer a folha de pagamentos do HSCC. Justo. Como o Município não pode por lei dar recursos para pagamento de folha, Beto Passos (PSD) sugere que o valor seja revertido em exames e cirurgias. Seria uma boa solução, desde que viável.
Para além da discussão sobre o 13º dos funcionários do HSCC, no entanto, há uma lebre levantada por Zenici: “E no ano que vem?”, citando o próprio Fontana que diz que o hospital tem um déficit mensal de R$ 247 mil.
Não necessariamente o vilão dessa história, o Estado catarinense tem uma boa parcela de culpa ao não fazer os repasses pelos serviços realizados há meses. Mas o conceito de Estado é abstrato e quem fez a lambança já está fora do jogo. Em poucos dias Pinho Moreira vai curtir uma bela viagem pela Europa e vai esquecer que deixou este e tantos outros hospitais na mão. Sobrará para o próximo governador que, com muita sorte, descobrirá que Canoinhas existe. E tudo isso num cenário em que Canoinhas não terá um representante na Assembleia Legislativa.
IMPRECISO
Há um porém no orçamento apresentado pela Secretaria de Saúde de Canoinhas na sessão da Câmara de ontem. Dos R$ 450 mil que o Município repassa de recursos próprios, mensalmente, para o HSCC, R$ 220 mil vão direto para os médicos que trabalham no sobreaviso. Há ainda repasse para a obstetrícia. O HSCC apenas repassa o valor.
“O Município nada deve ao Hospital Santa Cruz”
do prefeito Beto Passos (PSD) na sessão de terça-feira, 20, da Câmara de Vereadores
A REAÇÃO DE PASSOS
Muito se questionou sobre o motivo pelo qual Beto Passos (PSD) tentou passar ao largo da polêmica envolvendo o HSCC. Pela fala dele na sessão da Câmara desta terça-feira, o prefeito tentou deixar claro que o problema era do HSCC. Acabou recuando ao perceber que para a população não interessa quem é o culpado, tudo recairá no seu colo, por mais injusta que essa interpretação seja. Em sua fala negou que o Município queira encampar a administração do HSCC, frisou que não pode repassar dinheiro para pagar salários e criticou de leve a atual gestão: “Se há problema de comunicação temos de colocar pessoas que tenham capacidade de diálogo com os médicos”, concluiu.
CONTA DE LUZ
Vereador Wilmar Sudoski (PSD) sugeriu que uma equipe do Hospital Santa Cruz vá de casa em casa em busca da contribuição na conta de luz. “Não adianta fazer no calçadão, quando as pessoas não estão com a conta de luz no bolso. Tem de ir à noite, quando o pai e a mãe estão em casa”, explicou.
A contribuição já existe. Na Câmara de Vereadores e na recepção do HSCC é possível preencher um formulário simples. O importante é ter em mãos o número da sua conta, discriminado no alto da fatura, um código que distingue cada consumidor. Qualquer valor é bem-vindo.
A PROPÓSITO
A Câmara aprovou requerimento que será enviado ao HSCC solicitando o número de pessoas e valor arrecadado com a campanha de doação pela conta de luz.
LEI DO RETORNO
A Câmara de Vereadores de Canoinhas aprovou requerimento rechaçando a PEC 0005.3/2017, que tramita na Assembleia Legislativa Catarinense e visa a redução no investimento destinado às bolsas do Art. 170 para as Universidades Comunitárias. A nova redação do Art. 49 da Constituição Estadual altera os percentuais de bolsas, aumentando gradativamente o volume de bolsas para as Instituições de Ensino Privadas, ou seja, faculdades e centros de ensino cuja margem de lucro se destina aos seus proprietários, sem o compromisso de oferecer serviços de pesquisa e extensão junto à comunidade a exemplo do que a UnC promove desde a década de 1970.
Reitora da UnC, Solange Sprandel da Silva ignorou solenemente vários pedidos de informações e de conversas feitas pelos vereadores canoinhenses nos últimos anos. Agora, precisa dos que ignora.
A aprovação do requerimento foi acompanhado de críticas ácidas à reitora. “Quando se faz questionamentos, é uma entidade privada. Quando precisam de um apoio nosso, aí é pública?”, questionou Paulo Glinski (PSD), para quem o assunto precisaria ser melhor analisado. “Quero que a UnC tenha cada vez mais bolsas, mas se desse para melhorar para as instituições privadas sem prejudicar a UnC, seria o ideal. Estamos votando em algo que não conhecemos. Voto a favor do requerimento, mas peço um levantamento para analisar se seria possível ajudar esses estudantes que pegam ônibus todo dia para ir a outras instituições de fora. Não estudam fora porque gostam de viajar, é porque a mensalidade é mais barata”, contextualizou.
Presidente da Câmara, Cel Mario Erzinger (PR) deixou claro que discordou da forma como a reitora foi reconduzida ao cargo. “Não discordo da gestão dela, que me parece uma pessoa competente, mas da forma como ela foi reconduzida”, frisou, lembrando que o professor Reinaldo de Lima Jr foi demitido logo depois da eleição, supostamente por cogitar competir contra a reitora reeleita. “Tem muita coisa a ser questionada e vamos questionar, afirmou.
Célio Galeski (PR) votou contra o requerimento por desconhecer o conteúdo. Ele também defendeu mais diálogo a respeito do pedido.
NATUREZA
Glinski tem razão em evocar os estudantes que seguem diariamente para União da Vitória. O Centro Universitário de União da Vitória (Uniuv) é uma fundação municipal e, como tal, não visa lucro e presta uma infinidade de serviços à comunidade. A Unespar é estadual e não cobra mensalidade dos alunos.