Mulher que assumiu autoria do tiro diz que não aguentava mais perseguição
Esdras Santos, 23 anos, baleado com um tiro na cabeça na madrugada deste domingo, 4, no bairro Água Verde, nas proximidades da Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Canoinhas, foi transferido ainda neste domingo para o Hospital São José, de Jaraguá do Sul. O estado dele é instável. Dos 27 fragmentos de bala que havia na cabeça dele, 15 foram retirados no Hospital Santa Cruz, de Canoinhas.

Leoni Lis, que confessou ter atirado contra o carro no qual Esdras estava, foi solta nesta segunda-feira, 5, e deve responder ao processo por tentativa de homicídio em liberdade. Segundo a filha de Leoni, a mãe está bastante abalada. Ela contou ao JMais que há três meses a vida da família foi transformada em um inferno quando seu irmão mais novo comprou um carro de um rapaz chamado Matheus. Na verdade, ele assumiu o financiamento do carro. Em troca, o rapaz deu um motocicleta para Matheus.
Pouco depois, o carro começou a apresentar problemas de mecânica. Como Matheus se recusava a resolver o problema, Leoni o procurou para desfazer o negócio. Sem acerto, o caso foi para a Polícia. Por sugestão de um policial militar, Leoni e Matheus concordaram que ele pagaria o conserto do veículo e o negócio se manteria. Matheus cumpriu o acordo, mas dias depois quis desfazer o negócio. Segundo a filha de Leoni, no entanto, Matheus teria rebaixado a motocicleta e por esse motivo seu irmão não aceitou desfazer o negócio.
Desde então, segundo a filha de Leoni, a casa da mãe vem sendo alvo de apedrejamentos constantemente. Matheus teria sido visto apedrejando a casa, ainda de acordo com ela.
Cansada da situação, Leoni usou uma garrucha calibre 36 herdada do pai para atirar contra o carro onde estava Matheus acompanhado de duas moças – uma delas menor de idade – e Esdras no banco traseiro. “Ela não aguentava mais e acabou fazendo essa burrada. Ela não sabia que esse rapaz estava junto e quando me ligou disse que tinha baleado o Matheus”, explica a filha de Leoni.
TRAGÉDIA ANUNCIADA
A Polícia Militar de Canoinhas, que prendeu Leoni logo depois do crime, já sabia do conflito envolvendo a família e Matheus. Quatro dias antes do crime o repórter Joaquim Padilha havia sido procurado por Leoni. Ele postou a conversa que teve com ela pelo Facebook no grupo de Whats app que a PM mantém com a imprensa e no qual está o comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, tenente coronel João Marcos Dabrowski de Araújo.
Na conversa, Leoni demonstra desespero. Ela conta que fez diversos boletins de ocorrência denunciando o caso. “Minha família está sendo ameaçada, prometeram colocar fogo na minha casa e ninguém faz nada. Há quase três meses que nós não dormimos. Quando dormimos, acordamos com pedradas na porta da garagem e agora todas as noites vamos dormir só depois das 3 da manhã porque entre meia-noite e uma hora é a hora que os vagabundos vêm atirar pedras na minha casa”. Ela conta que ligou duas vezes para o 190 e não obteve retorno. Foi até o quartel pedir rondas nas proximidades de sua casa, mas não foi atendida. “Quando mata em legítima defesa, ainda vai pra cadeia e toma por bandido”, diz Leoni na mensagem.
O JMais questionou a assessoria de imprensa do 3º BPM e o próprio tenente coronel Araújo sobre o caso. Araújo lamentou o ocorrido e respondeu que ” Fizemos ações e contatos para buscar prevenir ou reprimir aquilo que era alegado pela senhora que se dizia vítima de perturbações, com apedrejamento da sua casa por este que foi atingido pelo disparo e pelo que dirigia o veículo onde este atingido estava. Acertado estava com a senhora, que se o veículo e pessoas fossem vistas nas proximidades ou fizessem as ações de apedrejamento ou qualquer outra, que nos avisasse imediatamente. Assim aconteceu, como está no relato do boletim PM, indo a Guarnição de Serviço até o local e entrando em contato com a senhora. Infelizmente a Guarnição não localizou o homem que teria apedrejado a casa.”