Retardo natural

A sociedade brasileira, ao eleger Bolsonaro, o fez, tendo por referência a sua própria cultura

 

 

Wellington Lima Amorim*

 

Na minha curta e incompetente vida militar, especializei-me na engenharia. E aprendi, bem cedo, que sempre que eu desejar realizar uma explosão, preciso de um fio de re-tardo. O objetivo é retardar o tempo necessário para se abrigar e não ser atingido pelos estilhaços de uma explosão. O que isto significa? Explico: atraso, demora, retardamento. Simples: não acham? Hoje, na minha carreira acadêmica, frustrante e fracassada, compreendo o quanto Villém Flusser tinha razão em afirmar, em sua obra a fenomenologia do brasileiro, de que o imaginário do coletivo no Brasil possui um delay, atraso natural e cultural, ou melhor, está sempre re-tardado em relação a civilização ocidental. Ou melhor, uma sociedade que cultua o re-tardo corresponde a uma sociedade de retardados. Vejamos as declarações do atual presidente da República sobre a crise pandêmica mundial:

 

 

 

 

“Eu não sou coveiro, tá certo?” (20/4); “‘Não tem que se acovardar com esse vírus na frente” (18/4); “Os Estados estão quebrados. Falta humildade para essas pessoas que estão bloqueando tudo de forma radical.” (19/4); “Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora essa questão do vírus” (12/4); “Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir” (10/4); “Esse tratamento (com hidroxicloroquina), que começou aqui no Brasil, tem que ser feito, segundo as pessoas que a gente tem conversado, até o quarto ou quinto dia dos primeiros sintomas” (8/4); “Há 40 dias venho falando do uso da hidroxicloroquina no tratamento do covid-19. Cada vez mais o uso da cloroquina se apresenta como algo eficaz” (8/4); “Se o vírus pegar em mim, não vou sentir quase nada. Fui atleta e levei facada” (30/3); “O vírus tá aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque” (29/3); “Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. É a vida. Você não pode parar uma fábrica de automóveis porque há mortes nas estradas todos os anos”. (27/3); “Não estou acreditando nesses números de São Paulo, até pelas medidas que ele (o governador João Doria) tomou” (27/3); “Sabe quando esse remédio (hidroxicloroquina) começou a ser produzido no Brasil? Ele começou a ser usado no Brasil quando eu nasci, em 1955. Medicado corretamente, não tem efeito colateral” (26/3); “O povo foi enganado esse tempo todo sobre o vírus” (26/3); “O pânico é uma doença e isso foi massificado quase que no mundo todo e no Brasil não foi diferente” (26/3); “O brasileiro tem de ser estudado, não pega nada. O cara pula em esgoto, sai, mergulha e não acontece nada.” (26/3); “São raros os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos” (24/3); “Não podemos nos comparar com a Itália. (…) Esse clima não pode vir para cá porque causa certa agonia e um estado de preocupação enorme. Uma pessoa estressada perde imunidade” (22/3); “Não vai chegar a 800 (mortes) no tocante ao coronavírus” (22/03); “De forma alguma usarei do momento para fazer demagogia” (21/3); “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, tá ok?” (20/3); “Tem certos governadores que estão tomando medidas extremas. Tem um governo de Estado que só faltou declarar independência do mesmo” (20/3); “Não se surpreenda se você me ver (sic) no metrô lotado em São Paulo, numa barcaça no Rio. É um risco que um chefe de Estado deve correr. Tenho muito orgulho disso” (18/3); “O que está errado é a histeria, como se fosse o fim do mundo. Uma nação como o Brasil só estará livre quando certo número de pessoas for infectado e criar anticorpos” (17/3); “Tem locais, alguns países que já tem saques acontecendo. Isso pode vir para o Brasil. Pode ter um aproveitamento político em cima disso” (17/3); “Eu não vou viver preso no Palácio da Alvorada com problemas grandes para serem resolvidos no Brasil” (16/3);  “Muito do que falam é fantasia, isso não é crise” (10/3).[1]

 

 

 

 

É possível observar que a sociedade brasileira, ao eleger Bolsonaro, o fez, tendo por referência a sua própria cultura, que não é desenvolvimentista, progressista e nem muito menos moderna. A sociedade brasileira possui um retardo natural e pode ser compreendida se for possível resgatar as origens do pensamento utópico milenarista, desenvolvido entre os séculos X e XV da era cristã, ou seja, baixa idade média. O Bolsonaro não é um gestor ou presidente da República, ele se coloca na condição de profeta. E a sociedade brasileira que se constitui a partir de um envolvimentismo profético elegeu alguém que poderia representar o paladino de uma nova era de ouro, isto somente sendo possível, na mentalidade retardada da maioria dos brasileiros. Mas, isso não é novidade no Brasil. Já elegemos outros retardados para satisfazer nosso desejo egóico, utópico e medieval, por exemplo: Getúlio Vargas, José Sarney, Collor, e mais recentemente Lula e Dilma. Nosso raciocínio é o silogismo básico desenvolvido por Aristóteles:

 

 

 

 

– Bolsonaro é retardado;

 

 

– A sociedade brasileira elegeu Bolsonaro;

 

 

– Logo, a sociedade brasileira é retardada;

 

 

 

(Obs: O sujeito, antes da cópula pode ser Lula, Dilma, Collor, Sarney etc… ou qualquer retardado mental que se preste a ser novo profeta envolvimentista);

 

 

 

 

Importante dizer que envolvimento é o que não falta na família Bolsonaro, principalmente com a milícia da cidade do Rio Janeiro. Ou ainda, como é curioso saber que o nome Maranhão, terra natal de outro presidente retardado, José Sarney, quer dizer emaranhado. Ou seja, que não vive de envolvimentismos e emaranhados não tem lugar ao sol da terra brasilis. Não podemos esquecer-nos de que a Lula, aquela espécime aquática que muitas acreditam ser uma iguaria, sempre se apresenta como um emaranhado de tentáculos, que busca nos agarrar e sufocar. Logo, cabe perguntar: por que não dizer que ela representa o presidente Lula e sua trupe que tentou aparelhar as instituições sufocando a democracia? Pois é, ainda existem aqueles que acreditam que este retardado pode nos salvar de um desastre.

 

 

 

 

*Dr Wellington Lima Amorim é professor

 

 

 

[1] https://politica.estadao.com.br/blogs/blog-do-fucs/27-perolas-de-bolsonaro-sobre-a-pandemia-e-contando/

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