Sem sobras da Câmara, Hospital Santa Cruz não tem como pagar 13º salário

Diretor administrativo diz que o HSCC tem a ver R$ 500 mil junto ao Estado, valor que pode chegar a R$ 800 mil até o final do ano, mas que não há sinalização de pagamento

 

 

O 13º salário dos funcionários do Hospital Santa Cruz de Canoinhas (HSCC) está em risco. Última esperança do diretor administrativo Derby Fontana, as sobras da ordem de R$ 500 mil que serão devolvidas ao Executivo pela Câmara de Vereadores de Canoinhas terão outro destino.

 

 

Na sessão de segunda-feira, 5, com a presença do prefeito Beto Passos (PSD), o presidente da Câmara, Cel Mario Erzinger (PR), registrou o recebimento de pedido do HSCC pelas sobras, mas afirmou que já havia acertado com Passos que o dinheiro servirá para a compra de um caminhão e de uma escavadeira hidráulica para a Secretaria de Obras.

 

 

Derby diz que “nós não pedimos o dinheiro para a Câmara, nós imploramos. Não temos plano B. Se não tivermos esse repasse não temos condições de pagar o 13º salário dos nossos funcionários”.

 

 

O diretor diz que ainda conta com um repasse de R$ 500 mil do Estado (pode chegar a R$ 800 mil até o final do ano). “Mas simplesmente nos disseram que neste governo não haverá mais repasses. Ficará para o próximo governador”, explica. O valor é um somatório de meses de dívida do Estado com o Hospital.

 

 

Prefeito Beto Passos disse que já havia acertado a compra do maquinário antes do pedido do HSCC e que não deve voltar atrás. “Lamentamos a situação, mas o que podemos fazer é tentar ajudar o hospital a cobrar o que o Estado lhe deve. Sempre ajudamos o hospital, mas, neste momento, precisamos investir na Secretaria de Obras. Passamos por quatro semanas de chuva e estamos com pouco maquinário e pessoal”, justifica.

 

 

 

MULTA E SUSPEITA
Para piorar a situação, o Município multou o HSCC em R$ 500 mil por causa de denúncias relacionadas ao sobreaviso médico. Mensalmente, o Município repassa R$ 220 mil ao HSCC para remunerar os médicos especialistas que ficam 24 horas a disposição do Pronto Atendimento (PA) e do hospital. Segundo sindicância apurou, por várias vezes médicos do sobreaviso não compareceram no hospital e no PA quando chamados. Derby diz que tomou conhecimento da situação quando reportagem do JMais expôs o resultado da sindicância. Um dia depois recebeu a notificação. O HSCC apresentou uma defesa que está sendo analisada pelos integrantes da comissão de sindicância.

 

 

Na segunda-feira, 5, na Câmara, vereador Paulo Glinski (PSD) questionou o fato de um agricultor ter reclamado de um médico que teria lhe pedido R$ 30 mil para fazer uma cirurgia dentro do hospital. “Eles podem dizer que não tem nada a ver, mas (o Hospital) não pode atender como clínica particular de alguns”, disse lembrando que o HSCC recebe recursos públicos. Derby rebateu a declaração do vereador afirmando que do dinheiro do sobreaviso repassado pela prefeitura, nada fica com o HSCC, 100% do valor vão para os médicos. “Apenas fazemos o repasse”. Para além disso, o Município repassa R$ 36,5 mil que pagam a utilização do espaço do hospital para os serviços do sobreaviso e da maternidade. “A contabilidade do hospital está aberta para quem quiser analisar. Passamos por auditoria externa, não há nada a esconder”, afirmou.

 

 

Derby explica que é sim possível que um médico cobre para operar no HSCC. Apesar de o hospital atender 85% dos pacientes pelo SUS, se for desejo do paciente, ele pode se internar e fazer procedimentos cirúrgicos pagando como particulares ou por meio de convênio médico. Essa é mais uma das fontes de renda do HSCC. “O paciente paga a hotelaria e material para o hospital e faz, a parte, o acerto com o médico”, explica.

 

 

O administrador diz que é impossível precisar o que aconteceu no caso descrito pelo vereador porque ele não forneceu detalhes, mas pelo valor (R$ 30 mil) certamente trata-se de procedimento de alta complexidade. Nesse caso, a cirurgia pelo SUS teria de ser feita no Hospital São Vicente, de Mafra, referência regional. O que o médico pode ter feito, deduz Derby, foi oferecer a opção de o homem fazer a cirurgia no HSCC, mas pelo sistema particular. Dessa forma, ele teria de pagar pela cirurgia ao médico, mais as despesas de internamento particular para o hospital.

 

 

Perguntado se seria possível um médico internar um paciente pelo SUS e, de modo incorreto, cobrar determinado valor a parte, Derby reconhece que é possível, mas que nunca recebeu denúncia do tipo.

 

 

 

RESCISÃO DE CONTRATO

O Município já requisitou ao hospital os contratos de funcionamento da obstetrícia, sobreaviso e PA. A ideia é abrir processo licitatório, o que não aconteceu quando o HSCC foi contratado. Não havia essa necessidade considerando que o HSCC seria a única entidade da cidade capaz de assumir o serviço. Agora, no entanto, a ideia de Passos é tentar atrair empresas de todo o País na tentativa de reduzir os custos do serviço. Os problemas de ausência de médicos do sobreaviso quando chamados também pesou para esta decisão, segundo o prefeito.

 

 

Para se precaver, o HSCC protocolou nesta semana no Ministério Público, ofício que deixa claro que a partir de 1º de janeiro de 2019 o Hospital não é mais responsável pelo sobreaviso médico, plantão da obstetrícia e escala de médicos do PA.

 

 

Derby solicitou a tribuna da Câmara de Vereadores na terça-feira, 13, para esclarecer os vereadores sobre a questão.

 

 

 

Rolar para cima