Profissionais concordam que governo deveria aumentar quarentena ou exames
A ESCOLHA DE SOFIA
No filme A Escolha de Sofia, a personagem de Meryl Streep precisa escolher qual dos dois filhos manda para a morte em um campo de concentração nazista. As autoridades políticas de todo o Brasil vivem o mesmo dilema. Jair Bolsonaro não tem dúvida: preserva-se a economia e conta-se os mortos se, na visão dele, eventualmente existirem já que ontem ele colocou em dúvida os números de São Paulo, cidade que mais contabiliza mortes no País.
Para quem tem um pensamento um pouco mais aprofundado e, principalmente, um mínimo de conhecimento,o buraco é mais embaixo. A pandemia de coronavírus não tem precedentes na história. O mais próximo do que vem acontecendo ocorreu em 1918, foi a gripe espanhola que matou 35 mil brasileiros, incluindo um presidente (a história é um pouco contraditória, mas oficialmente Rodrigues Alves morreu em decorrência do vírus). Três presidentes enfrentaram a gripe espanhola no Brasil, nenhum sob o viés da negação ou subestimando o vírus. Mesmo assim, foi uma tragédia. Naquela época, também, aconteceram revoltas populares como as carreatas e passeatas que ocorreram nesta semana no Brasil e que tinha programação para ocorrer em Canoinhas. Não fosse a ação da Polícia Civil, que fez valer a medida do decreto estadual que proíbe aglomerações, possivelmente os canoinhenses veriam uma aglomeração de pessoas neste domingo para protestar contra o fechamento do comércio e a favor do presidente.
A medida seria anacrônica, já que o governador Moisés anunciou a reabertura do comércio na próxima quarta, dia 1º.
É nesse ponto que quero chegar ao afirmar no título desta coluna pouco adiantaram os 14 dias de quarentena no Estado se não tivermos testes em massa.
O jornalista do The New York Times, Thomas Friedman, escreveu artigo recente sugerindo uma abordagem em três etapas: o isolamento total, a realização massiva de testes e mapeamento de riscos, por região e perfis populacionais, e (no prazo que for tecnicamente adequado) o retorno coordenado ao trabalho.
Na quarta-feira saberemos quem contraiu o vírus nesse período de quarentena, mas saberemos somente dos casos que apresentam sintomas e que, por óbvio, deverão ficar em isolamento. Porém, os tantos assintomáticos que contraíram o vírus nesse período, especialmente os que continuaram saindo de casa, ficam descobertos. São estas pessoas que estarão nos bancos a partir desta segunda-feira, 30, quando de modo inadvertido, anotem, um levante de idosos tomará conta dos locais para receber a aposentadoria, ignorando que seus cartões podem ser usados como débito e que podem gerenciar suas contas pela internet.
Voltando a Friedman, SC cumpriu a primeira etapa sugerida por ele depois de ouvir médicos infectologistas, mas pulou logo para o retorno da sociedade às ruas, ignorando os testes, cruciais para um resultado minimamente positivo da quarentena.
MASSA
O ideal seria realizar testes em massa nestas pessoas que deixaram suas casas nos últimos 14 dias, mas os testes rápidos, usados em larga escala no mundo, nem chegaram ao Brasil. Os testes de laboratório levam de 4 a 7 dias para ficarem prontos. Pra piorar, o Governo Federal não mandou nada do que prometeu para o Estado. O ministro teve a pachorra de dizer que o endereço fornecido pelos hospitais estava incompleto.
NA PROMESSA
O governo federal prometeu equipamentos de proteção individual (EPIs) e 20 leitos de UTI para SC. Nada avançou desde a promessa.
“Não há solução fácil para problema difícil”
do médico cardiologista de Canoinhas, dr Marcelo Allage, em conversa com a coluna. Ele alerta para a necessidade do isolamento, mas lembra do caos econômico que isso já vem provocando
O IDEAL
Para preservar ao máximo a saúde da população e salvar o que puder do comércio, o ideal seria que as pessoas tivessem consciência da gravidade da situação e tomassem medidas por conta própria como o autoisolamento e, se tiverem de sair de casa para trabalhar, tomarem todos os cuidados, não deixando de consumir. Os supermercados e farmácias são os que menos sofrerão, mas lojas de vestuário, restaurantes, bares e boates já estão sentindo o impacto. Precisam traçar alternativas de venda (o delivery é uma boa opção no caso dos restaurantes, mas a entrega em casa pode ser usada pelas lojas de roupas também). Funciona se as pessoas tiverem dinheiro. O Governo entra garantindo liquidez aos empresários que estão no sufoco a fim de que eles garantam os empregos e paguem os salários. Isso até onde o Governo conseguir. Óbvio que fácil não é, é um período de exceção, de esquema de guerra, onde todos precisamos tentar formas de garantir nossa sobrevivência física e econômica.
RECLAMAÇÕES
Os empresários canoinhenses estão desolados. Alguns jogam a culpa no governo pelas regras de isolamento social, mas a maioria entende que o inimigo é o mesmo para todos e o pior, está oculto.
SUPERMERCADOS
O delegado de comarca de Canoinhas Darci Nadal Jr pede para orientar a população a fazer denúncia para a Polícia Civil de produtos específicos que possam ter tido aumento nos supermercados. Nesta semana, 29 supermercados foram vistoriados pelos policiais na comarca.
DESTOANDO

Citando o exemplo de Milão (Itália), cujo prefeito pediu o retorno à ‘normalidade’ a população e agora enterra mais de 4 mil vítimas do coronavírus, o prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (DEM) manteve o fechamento do comércio a despeito do decreto estadual de retorno gradual às atividades.
“A crise ainda vai começar”
do governador Carlos Moisés (PSL), prevendo o pior sobre a pandemia
IMPEDIDO
A Justiça decidiu neste sábado, 28, que a União se abstenha de veicular peças publicitárias relativas à campanha “O Brasil não pode parar”, em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal.
A decisão, proferida durante a madrugada, impede a divulgação da campanha por rádio, TV, jornais, revistas, sites ou qualquer outro meio, físico ou digital.
O tribunal ainda diz que o governo não deve publicar qualquer outra campanha que sugira à população brasileira comportamentos que não estejam estritamente embasados com diretrizes técnicas.
“Ou vamos seguir os exemplos de posições corretas – e decisões erradas geraram tragédias – ou nós vamos navegar no escuro”
do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia