Sobre o jantar do Dia da Mulher no Clube Canoinhense

Um singelo agradecimento ao Canoinhas Tênis Clube

 

 

Sempre pautei a minha vida tentando dela e nela fazer o melhor. O melhor naquilo que aprendi a fazer. E mais aprendendo para continuar a fazer sempre o melhor. Fiz apenas aquilo que faz o comum dos mortais dentro do mister a que nos propusemos fazer. Dentro das limitações e com a roupagem com a qual a este mundo chegamos.

 

 

Posso dizer que estou já perto de um portal adiantado da existência. Que há seis décadas fui graduada em medicina. Que para minha terra retornei há cinquenta e cinco anos.

 

 

E jamais imaginei que um dia seria eu merecedora de alguma homenagem. Mas, pelas lembranças de abnegadas mulheres que hoje, com desprendimento, trabalham para elevar o nome de nosso clube e de nossa cidade, este dia chegou.

 

 

Foi uma solenidade para marcar a minha passagem pela vida. Foi uma solenidade que fez tremerem todas as fibras de meu ser.

 

 

Foi numa noite de festa quando as luzes de nosso clube — que em minha infância eu conheci como Clube Canoinhense e que por este nome ainda continuo a chamá-lo — acenderam-se para receber as mulheres de nossa sociedade para a anual confraternização do nosso dia internacional.

 

Adair sendo homenageada/Moisés Gonçalves/Divulgação

E lá homenagens foram prestadas a algumas mulheres que deram sua vida e seu trabalho em prol da saúde de nossa região.

 

 

Então, uma vez mais, ousei escrever tudo o que se passou por minha alma ao receber a comunicação de que uma dessas pessoas seria eu.

 

 

Palavras que, naquele palco e naquele momento, para uma plêiade de vitoriosas mulheres lá presentes, tive a ousadia de ler.

 

 

E foi assim que me expressei:

 

 

Entre perplexa e emocionada leio a mensagem a mim entregue pela direção deste nosso clube que tantas alegrias, num passado nem tão distante assim, já me deu.

 

 

Difícil explicar como eu me sinto neste momento.

 

 

Porque as carruagens de múltiplos momentos de uma vida passam pela memória.

 

 

O que tenho a lhes dizer é que nada do que fiz de relevante teria sido realizado se sozinha eu estivesse.

 

 

Assim como uma grande árvore frondosa e solitária em uma pradaria. Sua vida será curta e de pouca utilidade. Vendavais e aguaceiros torrenciais logo levá-la-ão ao solo. Estorricada ao sol ou incendiada por raios logo será apenas um tronco seco e retorcido que nem aves poderia abrigar.

 

 

Assim a vida que levei. Rodeada de belas e frondosas árvores.

 

 

Primeiramente o exemplo vindo das mulheres de minha casa, de minha família. A força, a abnegação, a luta de minha Nonna Thereza Gobbi entregando-se de corpo e alma ao sonho de idealizar e construir um hospital em nossa cidade, o Hospital Santa Cruz de Canoinhas.

 

 

A dedicação e o esforço de minha mãe, de nome Petronilla Rosina, mas que o mundo conhecia por Nena, que fez com que todos nós, seus seis filhos concluíssemos um curso superior num tempo em que as dificuldades para lá se chegar eram inúmeras.

 

Moisés Gonçalves/Divulgação

O exemplo de minhas irmãs mais velhas Aline a Avany, incentivando-me sempre, mesmo depois que aqui, como médica, eu já trabalhava.

 

 

Confortando-me ao ver-me exaurida após noites insones ao lado de pacientes… após horas de agonia assistindo a agonia do outro, assistindo a agonia da outra.

 

 

Mas, como eu afirmava, nada, nunca, jamais algum sucesso existe para quem imagina que pode lutar a sós. Para o êxito, para o triunfo, para atingirmos as metas a que nos propusemos tivemos sempre uma plêiade de pessoas ao nosso lado.

 

 

De início os que nos ensinaram. Os mestres. Depois os instrutores que vendo nossas mãos a tremer, diziam sempre que continuássemos porque o caminho que estávamos seguindo era o certo.

 

 

Depois as equipes que nos acompanharam pela vida.

 

 

Sem as mãos amigas de profissionais competentes a meu lado eu nada teria realizado como médica.

 

 

Sem as mãos da enfermagem que nos passava os instrumentos e os medicamentos adequados.

 

Moisés Gonçalves/Divulgação

Entre as inúmeras mãos que sempre me ajudaram estão as mãos de Irma Blosfeld que ficou conhecida como a “Tia Irma” incansavelmente atendendo as parturientes e puérperas em nosso hospital. Tia Irma, que hoje, neste momento, também recebe este preito de gratidão de nossa sociedade.

 

 

Sem a equipe que fazia a higienização antes e após os nossos passos. Sem a retaguarda de um exemplar serviço de administração tanta luta teria sido em vão. Porque os caminhos não teriam sido aprimorados.

 

Homenageadas deste ano pelo Clube Canoinhense/Moisés Gonçalves/Divulgação

Sem as secretárias de nossas clínicas, o anteparo, as frentistas, a quem primeiro os nossos pacientes contam de suas agruras e que manejam nossas agendas tentando nelas encaixar as dores do mundo…

 

 

Sem o apoio de tantos colegas medicos, de tantas colegas médicas, que conosco vivenciaram a dor e ajudaram a esta dor aplacar. E hoje, aqui eu encontro também, neste palco iluminado, a fim de receber as honrarias de todo um povo por quem muito ela já fez, aquela menina que eu conheci como Tercinha e que vocês conhecem como Dra. Tércia de Oliveira Teles.

 

Mas outras mãos que não estavam ao nosso lado no momento em que a dor do outro e ou a dor da outra de nossas mãos necessitavam, precisam ser relembradas. As mãos das pessoas que nunca se negaram em, nas madrugadas geladas ou chuvosas, deixar o seu leito para o necessário medicamento entregar ao paciente que já havíamos atendido. Eram as mãos de abnegadas pessoas que para eles, nas farmácias, entregavam a medicação

 

E entre elas a inesquecível figura da senhora Sissi Schroeder Allage que hoje merece estas loas todas para relembrá-la que dela a nossa comunidade jamais se esquecerá.

 

 

No outro mister a que me dediquei, que foi o de levar os meus escritos ao mundo, quantas mãos em torno de meus textos. A montagem das palavras na antiga forma de se fazer um jornal. Os pacientes amigos que passaram meses a revisar meus livros. A meticulosidade de quem capricha na diagramação das páginas, das capas…

 

 

Em todos os cantos onde exerci algum tipo de chefia, nada teria eu conseguido realizar sem as equipes que a meu lado diuturnamente empenharam-se para que tudo estivesse no momento exato em seus devidos lugares.

 

 

Assim foi quando assumi a chefia do então Centro de Saúde de Canoinhas e depois a nossa Secretaria de Saúde e Assistência Social.

 

 

Assim foi nos anos em que tinha em meus ombros o cargo de dirigente de nossa Unimed e depois na presidência da Associação Vêneta “La Bella Italia.

 

 

Sempre rodeada de pessoas que faziam a base, que traziam ideias, que ajudavam a concretizar os sonhos.

 

 

Sim, nós não podemos ser aquela árvore que gostaria de ser altaneira e única em meio a uma pradaria. Não sobreviveríamos. Precisamos ser a árvore que nasce, cresce e altaneira se desenvolve em meio a centenas de outras.

 

 

Porque só assim nossas flores e nossos frutos serão encanto e serão arrimo e serão alimento para tantos outros arbustos que se desenvolvem ao nosso redor.

 

 

Eu entrego esta homenagem que hoje recebo a todas estas árvores que me antecederam na floresta onde nasci, na floresta onde me desenvolvi. A todas estas árvores que, vicejando ao meu redor, deram-me abrigo, deram-me força e permitiram que eu me tornasse a pessoa que eu sou.

 

 

Obrigada, dirigentes deste Clube!

 

 

Obrigada, idealizadoras desta homenagem que hoje recebemos!

 

 

Parabéns a todas vocês, mulheres, aqui presentes nesta memorável noite!

 

 

Obrigada!