Será que a terra brasilis está em processo de giro para o seu interior?
Wellington Lima Amorim*
O Brasil é um país em desenvolvimento ou em constante involução? Será que a terra brasilis está em processo de giro para o seu interior? Em um constante movimento regressivo e autodestrutivo? Todo processo de desenvolvimento se inicia após uma forte crise, ou quando ocorre, após um movimento regressivo, uma dobra para o seu interior: abgrund (aquele que não tem fundo). O Brasil está perto disto. Gostaria de contar dois fatos:
- a) Um amigo de infância me incluiu em grupo do whatsapp com o objetivo de reunir amigos que viveram sua aborrecência nos idos de 1980. Todos casados, filhos, alguns já no segundo casamento, todos são, hoje, homens de “bem”. Diferentemente de mim que sou um per-vertido (outra versão da história). Ou melhor, verti minha narrativa histórica em um caminho que é muito fácil seguir, por não ter aonde ir, como diria Raul Seixas. Enfim, o grupo vem marcado, como era de se esperar, pela nostalgia e melancolia de uma década que parece não ter terminado;
- b) Recentemente após as declarações dos futuros ex-ministros da Educação e a polêmica gerada pelo “guru da Virgínia”, Olavo de Carvalho, em tom jocoso e inaudito, postei na rede social a seguinte declaração:
– O MEC vai criar a Uni-pós-verdade! A primeira Universidade com as seguintes disciplinas: – Terraplanismo I, Terraplanismo II, Terraplanismo III, e a Goiabeira do conhecimento. Sempre com o foco no Mercado de Trabalho! Totalmente online!
Neste momento um ex-aluno me retruca:
Ex-aluno: – Quer dizer que o Sr. acredita realmente que as imagens de desenho animado (CGI) feitas da terra “redonda”, pela fraudulenta NASA, são verdadeiras?
Eu: – Por favor, explique-se!
Ex-aluno: – Quais evidências científicas temos de fato que a terra é redonda e não plana?
Parece-me que durante séculos uma mentira vem sendo ensinada nas escolas públicas e privadas de que a terra é redonda e o espaço infinito (…) Queria entender por que se tenta a todo custo ridicularizar as evidências que à terra é plana e não redonda, como nos ensinam nas escolas!
Eu (perante meus contatos na rede social):
– Por favor, amigos, me ajudem. Estou de dieta e não posso beber uma boa dose de whisky sem gelo! Acudam-me! Quem tiver cogumelos me enviem, por favor, porque desejo tomar este chá que deve estar alterando a realidade, quem sabe eu possa adquirir este conhecimento metafísico por meio do qual a terra se apresenta plana.
Neste momento um amigo me adverte:
Amigo: – Eles (cogumelos) te farão ver a multiplicidade de hiperrealidades no espaço-tempo curvo do cosmos infinito!
Nunca fumei um baseado, mas peguei um pedaço de papel, como se fosse seda, coloquei um pouco de capim, enrolei e pensei:
– Urge tornar-me um maconheiro! Eu preciso me acalmar. Não sou um metafísico. Mas se os cogumelos e a maconha conseguirem me levar para um hiperrealidade, onde o espaço-tempo curvo do cosmos infinito conseguir realizar o feito de me retirar deste mundo absurdo, meu novo projeto será tornar-me um maconheiro.
O que há de comum nas duas narrativas? Os primeiros vivem em uma bolha nostálgica compartilhando a realidade de 30 anos atrás. Os segundos, ainda não conhecem o Astrolábio. Estes vivem em uma bolha anterior ao descobrimento do Brasil. Afinal, foi graças a este instrumento que foi possível descobrir as Américas. Pois bem, foi este instrumento náutico que possibilitou observar e determinar a altura do Sol e das estrelas, e medir a latitude e a longitude do lugar onde se encontra o observador. Mas isto somente é possível se a terra for arredondada. Se for plana, não faz sentido o uso deste instrumento para localização geográfica. Por isso, até hoje, a navegação segue os mesmos princípios, já que em toda a terra a “altura do sol e das estrelas” será exatamente a mesma.
O total desconhecimento, ou ainda, a má-fé de muitos em desconsiderar a função deste antigo instrumento, com um nome tão peculiar, me faz refletir e pensar:
– Que saudades dos anos 1980 e da vila de amigos onde eu vivia! Naquela época ainda sabíamos para que servia um Astrolábio. No pior dos casos são apenas 30 anos de atraso! Já é um avanço possível. Afinal estamos diante da possibilidade de se voltar ao medievo.
ESPOSA ADVERTE:
– É melhor deixar de palhaçadinha, porque não é terraplanismo, mas terraplanagem!
*Dr Wellington Lima Amorim é professor