Um pé em cada barco

Leia a opinião de Tony Goes sobre o impeachment de Dilma                                       

Não fico nem um pingo triste com a provável saída de cena de Dilma Rousseff. Ela se mostrou inábil em quase tudo o que fez na presidência. Conseguiu destroçar uma economia que vinha crescendo e voltar contra o si o maior apoio parlamentar que um mandatário já teve neste país. Até sua insistência em ser chamada de “presidenta” revelou-se um equívoco: ao invés de ressaltar que tínhamos pela primeira vez uma mulher no comando da república, a palavra machucou muitos ouvidos e contribuiu para nos dividirmos ainda mais. Além disso, sua fama de durona se evaporou quando confrontada com a realidade. Dilma me lembra dois patrões com quem tive o desprazer de trabalhar. Exigentíssimos, rigorosos com horário, obcecados pelo trabalho – e no entanto, na hora do vamovê, capazes de cagadas muito maiores do que as de seus subordinados.

 

Dito isto, tampouco fico contente com Michel Temer no Alvorada. O final de sua interinidade servirá para sua elogiada equipe econômica mostrar de fato a que veio – ou não. Mas ele já mostrou ser o cara errado para o momento que o país atravessa. É antigo, pomposo, apegado a um certo autoritarismo que as urnas jamais lhe garantiram. Também está atolado até os cabelos no mesmo lamaçal povoado por Cunha, Renan, Sarney, Jucá, toda sua turma. Sua legitimidade é tão frágil que ele agora se esconde nas sombras, como o vampiro com que de fato se parece. Jamais gozará da inocência presumida que tinha Itamar Franco, alçado ao cargo em 1992 sem ter mexido uma palha contra Collor, que era odiado quase que por unanimidade. Temer tem, sim, as mãos manchadas, não de sangue, mas do cal usado por sua quadrilha neste golpe branco.

 

Sim, falei golpe, porque é golpe mesmo. Não um golpe de estado, muito menos um golpe militar, mas um golpe palaciano, um golpe branco com as páginas onde está impressa a Constituição. Tudo feito nos conformes, com a benção do Supremo e de boa parte da sociedade. O Brasil sobreviverá? Claro que sim, já passamos por coisa bem pior antes, e aqui estamos. Mas o ocaso do PT no poder não trouxe na sequência o raiar de um novo dia. Ainda estamos no escuro, pelo menos até 2018. E então, será que teremos em quem votar?

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